
Minor crops são culturas com falta ou número insuficiente de agroquímicos para manejo, controle de pragas e doenças, como a canola
Uma metodologia desenvolvida pela Faep (Federação da Agricultura do Estado do Paraná) para o levantamento das demandas das culturas com suporte fitossanitário insuficiente – as chamadas minor crops – será utilizada em todo o Brasil. No dia 7 de outubro, as entidades representativas dos setores de frutas e hortaliças no cenário nacional constituíram o Grupo de Trabalho Minor Crops Brasil, formado por mais de 40 instituições, entre Federações da Agricultura (como a Faep), associações de produtores, órgãos de governo, pesquisa e outras entidades representativas, sob o comando do Ibrahort (Instituto Brasileiro de Horticultura).
O objetivo é promover um trabalho de abrangência nacional para identificar quais as culturas estão carentes de produtos para o seu manejo e posteriormente articular estas demandas junto às indústrias de agroquímicos e às entidades registrantes, como o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).
As minor crops são as “culturas de suporte fitossanitário insuficiente” (CSFI), aquelas para as quais existe falta ou número insuficiente de agroquímicos registrados para manejo e controle de pragas e doenças. Se enquadram nesta definição boa parte das frutas e hortaliças e também alguns cereais e leguminosas como aveia, cevada, amendoim, canola, entre outras.
“Com esse trabalho vamos conseguir visualizar o cenário das demandas fitossanitárias do País, muitas vezes semelhantes entre diferentes regiões”, avalia a engenheira agrônoma do Detec (Departamento Técnico Econômico) da Faep, Elisangeles Souza.
Segundo ela, o principal desafio está na articulação dos agentes responsáveis por este processo, como governo, indústria de agroquímicos e de produtos biológicos, produtores rurais, profissionais técnicos e órgãos de pesquisa, para juntos promoverem a identificação das demandas e os registros necessários.
Nesse levantamento, além das frutas e hortaliças, estão sendo identificadas demandas para leguminosas, como amendoim, oleaginosas, como a canola, e cereais como aveia, cevada, também consideradas culturas “minor crops” de acordo com a Instrução Normativa Conjunta nº 1/2014.
Em 2016, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, juntos, promoverem o levantamento das demandas de minor crops nos três Estados. Na ocasião, também foi utilizada a metodologia desenvolvida pela Faep, que agora será expandida para todo Brasil.
PRODUTOS BIOLÓGICOS
Outra vertente deste trabalho de mapeamento das demandas nacionais das minor crops é buscar novas alternativas de controle por meio de produtos biológicos, menos impactantes para o meio ambiente, para o trabalhador/produtor rural e para o consumidor. Diferente dos agroquímicos, os produtos biológicos são registrados por alvo, isto é, por agente causador da doença, ou praga. Desta forma, um produto que atua sobre uma determinada lagarta que ocorre no tomate, por exemplo, poderá ser utilizado em qualquer outra cultura que enfrente esta mesma lagarta.
Segundo o assessor técnico das Comissões Nacionais de Fruticultura e Horticultura da CNA (Confederação Nacional da Agricultura), José Eduardo Brandão, a estratégia deste levantamento é promissora. “Estamos utilizando a metodologia desenvolvida pela Faep e a capilaridade das entidades representativas, como Ibrahort e Abrafrutas (Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados). Juntou a fome com a vontade de comer, ou seja, a organização da prática de levantamento com a facilidade de aproximação dessas entidades com seus associados”, diz.
Na opinião de Brandão, a adesão de um grande número de entidades ao levantamento confere uma grande vantagem a este processo. “Estamos descobrindo que as áreas plantadas dessas culturas são maiores do que imaginávamos. Então temos que falar para as indústrias que elas vão ganhar dinheiro com isso”, afirma.
Atualmente apenas as indústrias de agroquímicos podem solicitar o registro de novos produtos ou a extrapolação de uso de um produto de uma determinada cultura para ser utilizado em outra cultura do mesmo grupo. Desta forma, sensibilizar este setor para a importância de dar suporte fitossanitário a estas culturas é fundamental.
Importante lembrar que a ausência de agroquímicos registrados dificulta o trabalho dos engenheiros agrônomos, que não podem prescrever esses produtos legalmente. Milhares de produtores rurais são empurrados para uma condição de “ilegalidade involuntária”, ao utilizarem produtos sem registro, ou então ficam impossibilitados de controlar pragas e doenças.
Como se a situação não fosse suficientemente ruim, existe um agravante, como explica Brandão, da CNA. “Quando um produtor usa um produto que não é registrado para aquela cultura e as análises detectam um destes produtos, a Anvisa usa isso na mídia, dizendo que 95% do pimentão, por exemplo, estão com irregularidades, que na verdade não é resíduo acima do permitido, mas uso de produto não registrado para aquela cultura. Aí na semana seguinte ninguém come pimentão. Como o ciclo de algumas hortaliças é curto isso é o suficiente para quebrar o produtor”, avalia.
O levantamento conduzido pelo GT nacional segue até o dia 31 de janeiro de 2019.