O monitoramento e o controle da mosca das frutas, um problema antigo, poderia ser mais efetivo, caso os produtores fizessem a sua parte, mas isso ocorre em apenas 10% dos cerca de 120 mil hectares de área irrigada da região
Apesar de realizado sem custos para o produtor, já que é financiado por meio de parceria entre o Sebrae Bahia e o Sistema CNA/Senar Bahia, o controle da mosca das frutas é realizado em apenas 10% da área irrigada do Vale do São Francisco, principal pólo produtor de uva e manga do Brasil, localizado entre Pernambuco e Bahia.
A região, de acordo com a Valexport, associação que representa os exportadores de frutas, produz por ano cerca de 750 mil toneladas de manga e 250 mil toneladas de uva, metade da produção comercializada in natura. A região gera cerca de 240 mil empregos diretos e 950 mil indiretos.
A mosca das frutas está entre as principais pragas do Vale do São Francisco, onde a espécie Ceratitis captata é responsável por 99% das ocorrências, de acordo com informações da Embrapa, e está associada à manga, goiaba, acerola, carambola, cajá, seriguela e uva, dentre outras frutíferas.
No Brasil, há ocorrências também de outras espécies quarentenárias da mosca das frutas: Anastrepha fraterculus, Anastrepha obliqua, Anastrepha grandis e Bactrocera carambolae, restrita ao estado do Amapá.
A realização do monitoramento e controle da mosca das frutas no Vale do São Francisco é uma exigência para exportação das frutas da região por parte dos mercados compradores, tais como os Estados Unidos, Japão, Coréia do Sul, Argentina e Chile.
O controle é feito por meio de armadilhas específicas para a mosca das frutas e para outros tipos de moscas. É colocada uma armadilha a cada 10 hectars. Com base na captura dos insetos, se faz uma contagem e gera-se um índice chamado MAD (moscas armadilha dia) que não pode passar de 1,0.
Esse trabalho é realizado 6 meses antes de as frutas serem comercializadas. Caso esse índice de 1,0 seja registrado em alguma propriedade rural, ela deixa de comercializar as frutas até que consiga baixá-lo.
O controle se dá também por meio da aplicação de produtos químicos. Isso ocorre quando o índice MAD chega a 0,5, índice considerado gatilho para acionar o SMR (sistema de mitigação de risco).
Outro trabalho que faz parte do controle das Ceratitis captata é logo após a colheita. As frutas, principalmente a manga, são imersas em um tanque com temperatura alta controlada que faz com que a mosca das frutas seja eliminada.
Para as frutas do Vale do São Francisco chegarem até a Europa, o procedimento é o mesmo, contudo o rigor é maior:o índice MAD tem de ser zero.
De acordo com Tássio Lustoza, gerente Executivo da Valexport, há dois anos que o mercado europeu passou a ser mais rigoroso por conta do registro de mosca das frutas oriunda da África. Para não punir somente a África, os europeus passaram a exigir que o índice MAD fosse zero em todas as propriedades localizadas em países fornecedores de frutas.

Vale do São Francisco é o maior exportador de uva de mesa do Brasil (Divulgação/Class Comunicação & Marketing)
De acordo com Tássio Lustoza, o monitoramento e o controle da mosca das frutas, um problema que é discutido na região há 30 anos, poderia estar ocorrendo de forma mais efetiva caso os produtores fizessem a sua parte.
Contudo, segundo Lustoza, esse trabalho é feito apenas em 10% dos cerca de 120 mil hectares de área irrigada do Vale do São Francisco, mesmo com o Sebrae e o Sistema CNA bancando todos os custos.
“Temos aqui produtores que fazem o monitoramento da mosca das frutas, porém o seu vizinho termina por não fazer o monitoramento. O produtor que vai enviar para indústria ou consumo in natura, não está preocupado com mosca da fruta”, disse Lustoza.
Uma articulação com políticos dos estados de Pernambuco e Bahia está em andamento para fazer com que o monitoramento e controle da mosca das frutas sejam uma obrigação para os produtores rurais.
Em Permabuco, esse trabalho já é obrigatório, por meio da Lei n. 16.852, de 3 de abril de 2020. Na Bahia, contudo, sequer existe um projeto de lei na Assembleia Legislativa.
O Ministério da Agricultura chegou a lançar instruções normativas para o controle da mosca das frutas em várias regiões do Brasil onde ela ocorre, mas ao menos no Vale do São Francisco essas normativas estão só no papel.
Saiba mais sobre o monitoramento e controle da mosca das frutas no Vale do São Francisco, nesta entrevista com Tássio Lustoza, realizada na Agrolive News, no Blog do Mário Bittencourt no Instagram:
Fonte: Canal Rural