Globo Rural ouviu especialistas e preparou dicas para evitar perdas no campo

(Foto: Sergio Ranalli)
“Há a possibilidade de neve nas regiões serranas do Rio Grande do Sul, no oeste, sul, meio-oeste e Planalto Norte de Santa Catarina, bem como em áreas do sul e sudoeste do Paraná, entre o fim de tarde e noite de quinta-feira, sexta e sábado”, afirmou o Inmet.
De maneira geral, os riscos são maiores para os plantios de perecíveis, como frutas e hortaliças. Mas existem algumas culturas em particular que podem ter grandes prejuízos (veja recomendações abaixo).
Segundo a Epagri, de SC, é o caso do morango, banana, maracujá, folhosas e fumo. Outras, como arroz, cereais de inverno, apicultura, piscicultura, gado de corte e de leite não estão livres dos efeitos do frio, mas exigem medidas específicas.
O mesmo vale para soja e milho, mas, de maneira geral, o cultivo dos grãos de verão começa em setembro. No caso do trigo ou sorgo, o problema é menor porque são culturas já adaptadas às áreas mais frias.
Já o morango pode não apodrecer, mas o congelamento da fruta pode gerar perdas no valor comercial. No caso do pêssego, as temperaturas podem ser diferentes até dentro do mesmo pomar. “A escolha do local pelo produtor é ainda mais importante se a área tiver problemas com geada”, destaca Júnior.
Segundo Flávio Varone, meteorologista da Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul, o maior problema no Estado é com a geada na sexta-feira (21/8) e no sábado (22/8). No entanto, há perspectiva de neve entre quinta-feira à noite e a manhã de sexta. “As temperaturas mais baixas devem durar três dias, no máximo. O ponto crítico seriam as áreas de trigo no norte e noroeste”, avalia.
Em Florianópolis (SC), a previsão é de chuva isolada, com temperaturas entre 8°C e 19°C no domingo. Já em São Joaquim, mais ao sul, a previsão é de neve na quinta e na sexta-feira, com mínimas de -3°C e -2°C e máxima de 17°. Nos mesmos dias, a previsão é de mínima de 4°C e máxima de 11°C em Curitiba (PR).
Dicas para se proteger no campo
Para auxiliar os produtores, Globo Rural preparou algumas dicas com base nas recomendações da Epagri e do pesquisador Carlos Reisser Júnior.
No geral, os agricultores devem tentar preservar a massa de ar quente e a energia dentro das propriedades, com estratégias que variam desde o uso de ventiladores, semelhantes aos geradores de energia eólica, como sistema de calefação e coberturas de plástico e vidro.
Ameixa, pêssego e nectarina
Os pomares estão com plantas em floração ou já apresentando pequenos frutos. Na iminência de geada, a recomendação é fazer o controle por irrigação, no caso de a temperatura baixar de 0°C, sendo que as perdas ocorrem com temperaturas abaixo de -1,5°C.

Morango
O excesso de frio pode ser muito prejudicial a esse cultivo, comprometendo até 80% da produção, já que provoca o aborto floral. A recomendação para evitar prejuízos severos é a cobertura das plantas com plástico branco leitoso, de preferência na forma de túneis, mesmo daquelas já produzidas em ambientes protegidos altos. Também é muito importante não irrigar nem fertirrigar na véspera da geada, para evitar o congelamento da água.
Banana
Suspender o transplantio de mudas até que o frio passe. Antecipar a colheita dos cachos e ensacar aqueles que não puderem ser colhidos. Também devem ser ensacadas as inflorescências recém emitidas. Após a geada, é importante estar atento à eliminação das folhas secas.
Maracujá
Suspender o transplantio de mudas até não existir mais risco de geada. Antes da geada, é recomendável antecipar a adubação com potássio. Nos pomares implantados com mudas pequenas, elas podem ser enterradas no final da tarde que antecede à formação da geada, devendo ser desenterradas logo após o evento.
Outra possibilidade é cobrir as plantas da melhor maneira possível (com papel pardo, sacos plásticos leitosos ou opacos, palhada e/ou outros materiais que possam resistir à umidade.

Hortaliças
Para as hortaliças em geral, inclusive folhosas, recomenda-se manter aspersores ligados no dia em que a geada ocorre, até o nascer do sol. Isso porque a água tem temperatura maior em relação ao ambiente, formando camada de vapor que protege as plantas do congelamento. As brásicas que estiverem em floração devem ter as folhas amarradas no topo, de modo a proteger os brotos.
Piscicultura
Se as temperaturas da água ficarem abaixo de 13°C, por períodos acima de 72 horas, pode afetar peixes tropicais, causando estresses, enfermidades e até mortalidade. Assim, as recomendações são não renovar água dos viveiros quando a temperatura da água de abastecimento externa for inferior à temperatura ambiente de cultivo e não manejar os animais
Arroz e Fumo
No caso do arroz, a recomendação é manter água nos arrozais já plantados, enquanto os técnicos avaliam que é melhor suspender o plantio das mudas de fumo até a chegada de temperaturas mais amenas.

Apicultura
Os apicultores devem ficar atentos a algumas práticas de manejo para evitar prejuízos nos apiários devido ao frio intenso, que pode provocar o resfriamento do ninho e até mortalidade de larvas. Importante evitar abrir as caixas, pois há perda de calor e muito gasto de energia e alimento para elevar a temperatura às condições adequadas novamente.
Gado de corte
A principal preocupação é com o crestamento das pastagens, que é a queima da parte vegetativa em decorrência de geadas muito fortes. Na região do Planalto Sul, onde se pratica a integração lavoura-pecuária em larga escala, os grãos já foram colhidos e as áreas estão sendo usadas no inverno para produção de pasto para alimentar o gado, principalmente rebanhos em fase de terminação.
Gado de leite
Na evidência de problemas causadas pelo frio na pastagem, especialmente da aveia, recomenda-se a utilização de outras fontes de alimento, como silagem e feno. Os animais parindo e as crias devem ser abrigados em locais secos e sem vento.