Um dos principais produtos quando se fala em exportação no Ceará, o melão passa por um período de recuperação. Após anos de sucessivas secas no Estado, que prejudicaram reservatórios e áreas como o perímetro irrigado Tabuleiro de Russas, as boas chuvas do primeiro semestre de 2020, juntas a transposição do Rio São Francisco, se mostram como oportunidade para fortalecer o setor no Estado. No primeiro trimestre de 2020, o melão liderou as exportações de frutas brasileiras, com mais de 75 mil toneladas enviadas, gerando renda de quase US$ 44 milhões.
Em 2019, o melão foi responsável por 67% das exportações de frutas do Estado. Acerca da comparação do Ceará em relação ao Rio Grande do Norte, hoje o principal produtor da fruta no Brasil, Silvio Carlos Ribeiro, secretário-executivo do agronegócio da Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet), destaca que o estado vizinho possui boas áreas subterrâneas de água, o que auxiliou a manter o nível de produção mesmo com baixas precipitações.
Em comparação a 2019, contudo, o Ceará vem crescendo, com a exportação de melão mais que dobrando em relação ao ano passado. No primeiro semestre de 2019, o valor foi de US$ 6 milhões, ante US$ 14 milhões de 2020. Até agosto deste ano, já foram movimentados mais de US$ 23 milhões. Um dos motivos para tal crescimento, aponta Silvio, é a redução da produção europeia. “A Espanha pediu muito melão. Ela o produz, mas esse período agora de pandemia foi muito forte e a mão de obra reduziu, área reduziu, produção diminuiu e tiveram que comprar de algum lugar. Era uma dúvida que os produtores locais tinham, mas foi uma surpresa”, comenta.
Silvio também destaca, como uma das potencialidades do Estado, o Porto do Pecém. Por ser um equipamento que comporta grande volume de contêineres e navios de porte elevado, as exportações via marítima se tornam atrativas também que produtos de outros estados passem pelo Ceará.
Aposta chinesa
No início de 2020, a expectativa para uma parceria de exportação com a China deixou produtores do setor ansiosos pelas novas possibilidades de negócios. Somente em 2017, a China consumiu 17 milhões de toneladas da fruta. Por conta do período de pandemia do novo coronavírus, a exportação foi adiada. De acordo com Carlo Porro, CEO da Agrícola Famosa, empresa com atuação no Ceará e Rio Grande do Norte, e maior produtora e exportadora de melões do Brasil, o envio para o país asiático deve ser consolidado no próximo mês de outubro. A primeira carga da empresa neste ano com destino a Europa e Oriente Médio foi realizada no fim de agosto.
Em todo o Brasil, 20 mil hectares são destinados atualmente para o plantio de melão. Caso a parceria com a China se consolide, a expectativa é de que esse valor possa dobrar. Em comparação, o país asiático possui uma área de 430 mil hectares dedicados ao cultivo da fruta. Acerca dessa possibilidade de crescimento, Silvio Carlos relata que os municípios produtores iriam ampliar as áreas de plantio, além de trocar culturas de outras frutas.
Acerca da possibilidade de gerar empregos, o secretário-executivo explica que o melão produzido no Brasil cria cerca de um a um emprego e meio por hectare. “Se a gente instalar 10 mil hectares novos, é um sonho, mas pode ocorrer, a gente teria 10 mil empregos. Mas se forem dois mil empregos, também é uma geração muito boa, porque é emprego de qualidade, paga melhor que uma indústria, tem sua função social, gera riqueza para a cidade, sai da Região Metropolitana de Fortaleza.”
Na Agrícola Famosa, o melão é responsável por 80% da produção da empresa. Para 2020, a expectativa de lucro é de R$ 700 milhões, com aumento de 15% em relação à safra anterior, caso os novos mercados se consolidem. “A demanda por alimentos saudáveis aumentou e principalmente por produtos que possuem promovem a hidratação do organismo”, comenta Carlo Porro.
Para Luiz Roberto Barcelos, sócio fundador da Agrícola Famosa e diretor institucional da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), o potencial é claro, mas os desafios logísticos precisam ser averiguados com cuidado, por conta da distância entre Ceará e China. “Eles consomem muito a fruta, tem período de frio que cai a produção local, e a gente espera que nosso melão consiga chegar em boa qualidade.”
Fonte: TrendsCE/ Hamlet Oliveira