É época de acerola! Os últimos meses do ano marcam o início da colheita dessa fruta que com o seu azedinho e alta concentração de vitamina C conquistou o Brasil e o mundo. Portanto, chegou a hora de você conhecer a história e os segredos da aceroleira.
Muitos benefícios e um sabor diferenciado
A acerola é uma fruta pequena e de sabor ácido característico, e sua casca pode adquirir cores como verde, amarelo e vários tons de vermelho, chegando próximas ao roxo. Com exceção de suas três pequenas sementes, o fruto pode ser consumido quase que inteiro em forma fresca.
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A acerola também é uma fruta de baixo valor calórico, fonte de carotenoides e antocianinas, que respondem por sua coloração. Mas, o que a diferencia em relação aos demais frutos é seu elevado conteúdo de vitamina C, principalmente no fruto in natura. Sendo assim, as propriedades biológicas de carotenoides, antocianinas e ácido ascórbico ajudam a manter a saúde, diminuindo o risco de doenças.
Nesse sentido, as formas mais comuns de comercialização são a polpa congelada, suco e néctar. Todavia, sabemos que o processamento pode afetar o conteúdo, a atividade e a biodisponibilidade dos componentes bioativos presentes nos alimentos.
Na acerola, os teores de vitamina C e antocianinas diminuem com o processamento térmico. Porém, mesmo com a redução, a polpa e o suco continuam sendo uma excelente fonte de vitamina C, desde que a matéria-prima utilizada seja rica nesta vitamina.
Com a vitamina C ganhando tanto destaque em uma fruta tão pequena e diferente da laranja, fica a pergunta: Qual fruta tem mais vitamina C: acerola ou laranja?
Para responder essa questão, a nutricionista e consultora do programa Hortifruti Saber e Saúde, Sueli Longo, trouxe alguns dados de concentração dessa vitamina em diferentes variedades de laranja e da polpa de acerola:
“Em uma porção do alimento (medidas indicadas acima são de uma porção) todos são considerados como excelente fonte de vitamina C por conterem no mínimo 20% da recomendação nutricional deste nutriente. Se analisarmos quanto do alimento precisa ser consumido para atingir 100% da recomendação diária de vitamina C (90mg para homens adultos e 75mg para mulheres adultas) verificaremos que menos de 10g da polpa da acerola seriam suficientes”, explica Sueli.
Dessa forma, a alta concentração de vitamina C somada a outras características dessa planta, como grandes quantidades de frutos em períodos curtos, fazem da aceroleira uma árvore de grande importância econômica e social.
Acerola e sua mãe brasileira
Assim como o kiwi, a acerola (Malpighia emarginata) chegou há pouco tempo no Brasil. As sementes dessa planta foram trazidas ao Brasil, pela primeira vez, na década de 1950 pela agrônoma Maria Celene Ferreira Cardoso de Almeida.

As primeiras árvores de acerola “brasileiras” cresceram no campus da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e logo se difundiram para todo o território nacional. Por isso, Maria Celene é tida como a mãe da acerola no Brasil.
Conhecida por muitos e até mesmo presente na casa de muita gente, a acerola é fruto de uma árvore chamada aceroleira, planta de médio porte podendo atingir de 2 a 4 metros de altura. Por ter um fruto que se assemelha a uma cereja e ter como principais pontos de origem as Antilhas e Ilhas do Caribe, a acerola também ficou conhecida como cereja das antilhas e barbados cherry.
As acerolas do Brasil possuem muita ciência
O uso das sementes de acerola para difundir a planta pelo país fez com que a variabilidade genética da espécie fosse aumentada. Isso auxiliou a sua adaptação para as características do solo e clima tropical do Brasil.
Portanto, essa grande diversidade de plantas de acerola ajudaram o trabalho de pesquisadores a encontrarem aceroleiras de boas características agronômicas que pudessem ser utilizadas em programas de melhoramento genético. Tal prática tornou-se cada vez mais importante e necessária, conforme surgia o aumento da demanda da fruta, tanto pelo mercado interno como externo.
Além disso, no final da década de 1990, pelo menos 44 instituições realizavam pesquisa com aceroleira. Entre as pioneiras, além da UFRPE, podemos citar: Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), Empresa de Pesquisa Agropecuária da Paraíba (Emepa), Universidade Estadual de Londrina (UEL), Embrapa Agroindústria Tropical, Embrapa Semiárido e Embrapa Mandioca e Fruticultura.
Boas características agronômicas são fatores que tornam as plantas cultivadas mais produtivas e adaptadas ao ambiente. Essas características também auxiliam na redução da utilização de insumos e nos impactos ambientais.
Para plantas frutíferas algumas boas características agronômicas, são:
- Frutos maiores;
- Maior número de frutos por árvore;
- Sabor e cores agradáveis ao consumidor;
- Maior concentração de suco;
- Casca resistente a danos mecânicos;
- Tolerância a seca;
- Resistência a doenças.

Sendo assim, as primeiras variedades de acerola foram desenvolvidas para melhorar o seu cultivo no Nordeste e também no Vale do São Franscisco; Elas foram disponibilizadas aos agricultores no início da década de 1990.
Abaixo, conheça as principais cultivares da acerola:
- Flor Branca – árvore bastante produtiva durante o ano todo, seus frutos são sensíveis e chegam a pesar 5 gramas.
- Okinawa – árvore de maior vigor, os frutos podem chegar a pesar 9 gramas e são mais resistentes ao transporte.
- Sertaneja – aceroleira desenvolvida especificamente para áreas irrigadas do Nordeste brasileiro, apresenta porte mais baixo e seus frutos chegam a pesar 5 gramas.

Outra cultivar que merece destaque é BRS 366, desenvolvida pela Embrapa Agroindustria Tropical, que localiza-se em Fortaleza. Lançada em 2012, a nova aceroleira possui intervalo menor entre seus ciclos de produção, além de produzir grandes quantidades de acerola em cada ciclo (também chamado de safra).

Nesse sentido, a variedade tem servido como principal matéria-prima para produção de concentrados de vitamina C que são exportados para Estados Unidos, Japão e China, principalmente para o enriquecimento alimentar ou complemento vitamínico.
Brasil é o maior produtor de acerolas
O cultivo de acerola ainda é considerado de pequeno mercado. No entanto, a boa adaptabilidade da planta, as condições climáticas do Brasil e a possibilidade de ter várias colheitas no decorrer do ano, fizeram com que o país investisse em pesquisa e desenvolvimento dessa cultura.
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Atualmente existem 18 cultivares de aceroleira registradas no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Com isso, o Brasil se tornou o maior produtor e exportador de acerola do mundo.
O último levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre a cultura mostrou que no ano de 2017 os pomares de acerola ocuparam 5.753 hectares. Além disso, produziram 70 mil toneladas de frutas, atingindo um valor de produção de R$ 91.642.000.
A acerola é uma das tantas frutas cítricas deliciosas que existem por aí. Quer saber mais? Então confira o nosso texto sobre os benefícios das frutas cítricas!
A região nordeste é responsável por 64% da produção nacional, sendo os estados de Pernambuco, Ceará e Sergipe os maiores produtores.
Enquanto isso, o principal desafio para os produtores de acerola é a perecibilidade da fruta, o que dificulta a comercialização para longas distâncias e faz com que a maior parte da produção seja destinada à indústria de processamento. Com isso, a comercialização in natura acaba ocorrendo quase que exclusivamente em mercados locais e feiras.
No entanto, os benefícios da acerola podem ser muito bem aproveitados mesmo se consumidos em formas de compotas, geleias licores, coberturas, doces, entre outros. Além disso, os frutos da aceroleira apresentam grande potencial para industrialização no enriquecimento de alimentos, suplementos alimentares e produtos dermatológicos.
Agora que você sabe tudo sobre o cultivo de acerola no Brasil, não deixe de procurar um bom fornecedor de acerolas in natura para você. Caso não seja possível, prepare um suco com a polpa congelada!
Principais fonte:
CEAGESP. Sazonalidade dos produtos comercializados no etsp 2014 a 2018. Disponível em: http://www.ceagesp.gov.br/wp-content/uploads/2015/06/TAbela-de-sazonalidade-2014-a-2018.pdf. Acesso em: 20/10/2020.
FREITAS et al. Acerola: produção, composição, aspectos nutricionais e produtos R. Bras. Agrociência, Pelotas, v. 12, n. 4, p. 395-400, out-dez, 2006
IBGE. Censo Agro 2017. Disponível em: https://censos.ibge.gov.br/agro/2017/templates/censo_agro/resultadosagro/agricultura.html?localidade=0&tema=76215. Acesso em: 27/11/2020.
Lopes, C. Mulheres pioneiras, mulheres de renome: as engenheiras agrônomas pernambucanas da primeira metade do século XX. Anais da Academia Pernambucana de Ciência Agronômica, 2007.
Moura, C. F. H., et al. Acerola—Malpighia emarginata. Exotic Fruits Reference Guide, 2018.
MAIA, Geraldo Arraes et al . Efeito do processamento sobre componentes do suco de acerola. Ciênc. Tecnol. Aliment., Campinas , v. 27, n. 1, p. 130-134, Mar. 2007 .
Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (TBCA). Universidade de São Paulo (USP). Food Research Center (FoRC). Versão 7.0. São Paulo, 2019. [Acesso em: 18 de novembro de 2020]. Disponível em: http://www.fcf.usp.br/tbca.
Fonte: Saberhortifruti