De acordo com a Emater, a expectativa é por 20 mil toneladas na Serra, redução de 35% em relação a uma safra considerada normal, em virtude do clima
Assim que a vindima chega ao fim, produtores da Serra se dedicam à colheita do caqui. A fruta, típica do outono gaúcho, é cultivada por cerca de 900 produtores em Caxias do Sul, município com a maior produção do Rio Grande do Sul, acompanhado de cidades como Farroupilha, Antônio Prado e Pinto Bandeira. 95% do caqui gaúcho é colhido na região, um trabalho que se inicia em abril e se estende até a primeira quinzena de junho.
Neste período, outras culturas com maior produção, como a uva e a ameixa, estão em fase de dormência. Há quase duas décadas, o produtor Luciano Buffon, em São Gotardo de Vila Seca, interior de Caxias do Sul, investiu na plantação de caquis para ter o que colher em uma época que seria de pouco trabalho no campo, estendendo o período do ano com colheita e venda na propriedade.
O pomar dele deve produzir 25 mil quilos da fruta:
— Trabalho com o caqui porque ela é uma fruta mais tardia. Pra colher agora, a gente não tem outra fruta e acaba sendo uma época que a gente não tem tanto trabalho, então a colheita é mais tranquila pra nós — conta.
Assim como os demais produtores, Luciano estima colher menos caquis. De acordo com a Emater, a expectativa é que a produção deste ano na Serra resulte em 20 mil toneladas da fruta, uma redução de 35% em relação a uma safra considerada normal (entre 26 e 27 milhões de quilos) e 20% menor do que a safra do ano passado.
O impacto na produção, segundo o extensionista da Emater e engenheiro agrônomo Enio Ângelo Todeschini, se deve em razão dos efeitos do clima. Mesmo assim, a qualidade do caqui é elogiada: a fruta que chegará ao consumidor será de calibre maior e com mais sabor.
— Primeiro foram as friagens tardias. Tivemos geadas nas partes mais baixas aqui na Serra até 15 de novembro. E depois a estiagem, principalmente para a variedade fuyu, a mais cultivada. Ela não tem semente e, normalmente, frutas sem sementes são mais sensíveis a estresses. A de se considerar que, mesmo com as adversidades, a qualidade tem sido muito boa — explica.
Pontos positivos que fazem a fruta ganhar espaço no Brasil e no Exterior. A empresária Kelin Zanette, da quarta geração da família à frente da produção de frutas no distrito de Vila Seca, no interior de Caxias, se dedicou nos últimos anos a fazer com que o caqui cultivado em seis hectares ganhe novos mercados.
A fruta, das variedades kyoto (conhecida como chocolate preto) e fuyu (sem semente, chamada popularmente de chocolate branco), é exportada para países como Argentina, Bolívia e Canadá.
Segundo ela, permitir que os frutos colhidos na propriedade da família sejam exportados busca aumentar o valor agregado no caqui, uma fruta considerada barata e com custos de produção cada vez mais elevados.
— É um mercado que vai expandir muito e a gente busca isso também para o produtor ter um retorno maior. Os custos de produção ficam maiores a cada ano para o produtor e o preço se mantém muito estável, então a gente precisa buscar novos mercados para que eles possam valorizar mais a nossa fruta — afirma.
Ritmo de seleção
Além da produção própria, a família também é responsável pela seleção e distribuição da fruta de outros 100 produtores da região. O ritmo do trabalho é industrial: o caqui colhido nas propriedades chega em grandes caixas ao centro de distribuição e é depositado em uma esteira. A fruta passa por limpeza antes de ser selecionada pelas mãos de dezenas de profissionais, a maioria mulheres.
Caquis impecáveis seguem para o mercado, enquanto outros com algum tipo de mancha ou imperfeição são destinados para entidades. Para aumentar a durabilidade da fruta, o caqui é armazenado em sacos a vácuo antes de ser depositado nas caxias.
— A gente tem que fechar bem a embalagem e não pode entrar ar dentro. Como é demorado o processo até chegar na mesa do consumidor, o caqui pode estragar. A gente trata a fruta com muito carinho — explica a funcionária Marilene de Melo.
Dedicação seguida por Kelin:
— Eu cresci em meio aos pomares, fui trabalhar na cidade, trabalhei um período fora daqui e retornei. Estar à frente do negócio da família te dá uma liberdade de poder decidir as coisas, de poder ampliar, de dar um friozinho da barriga, que dificilmente tu teria se tu não tivesse no sangue esse trabalho, essa essência.
Fonte: Gazeta do Povo