Pesquisa faz parte do doutorado do colombiano Oscar Antonio Niño Santisteban, em São José do Rio Preto (SP); testes in vitro mostraram que biofilme tem potencial para conter sangramentos em até um minuto e meio.
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Pesquisador Oscar Antonio Niño Santisteban segurando o biofilme de pectina — Foto: João Selare/TV TEM
Um pesquisador da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de São José do Rio Preto (SP) desenvolveu um biofilme anti-hemorrágico com substâncias encontradas na casca de laranja, limão e maçã.
A invenção é promissora, pois demonstrou, durante os testes in vitro, alto potencial para conter sangramentos em até um minuto e meio.
Doutorando em biofísica molecular, Oscar Antonio Niño Santisteban explica que matéria-prima principal do biofilme é a pectina, uma fibra solúvel encontrada, de forma natural, em frutas cítricas.
“A pectina é abundante. A indústria alimentar usa a polpa e descarta o restante. Podemos usá-la sem prejudicar outras cadeias produtivas. Fizemos um gel com a pectina. A síntese do nosso produto é barata de se fazer dentro do laboratório, além de ser sustentável”, diz Oscar Santisteban.
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Pectina é extraída da casca de frutas cítricas — Foto: Renato Pavarino/g1
Existem outros agentes hemostáticos sendo comercializados e utilizados atualmente no mercado. Porém, produzidos a partir de outras substâncias, como a quitosana.
“Os agentes hemostáticos desenvolvidos anteriormente são inorgânicos. O nosso é um produto orgânico. A quitosana, a celulose e a pectina têm composições químicas parecidas, mas possuem ligações diferentes. A pectina tem uma ligação aproveitada para formar estruturas de casca de ovo”, disse Oscar.
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Oscar Antonio Niño Santisteban produzindo o biofilme na Unesp de Rio Preto — Foto: Renato Pavarino/g1
O biofilme de pectina também possui cálcio na composição, mineral responsável por ajudar no processo de estancamento da hemorragia.
“A primeira coisa que percebemos é que o produto consegue fazer a absorção. Ele absorve bastante devido um agente chamado polietileno glicol. A pectina e o polietileno glicol são biocompatíveis. Já está comprovado que os dois não geram perigo de intoxicação na hora da aplicação”, afirma o pesquisador.
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Oscar Antonio Niño Santisteban analisando os resultados da pesquisa no computador — Foto: Renato Pavarino/g1
Ainda conforme Oscar Santisteban, o estudo do biofilme de pectina será publicado no jornal científico Materials Today Communications. O pedido de patente foi feito pela Agência Unesp de Inovação (AUIN) e aprovado.
“O biofilme poderia ser usado em cima da pele. Não tenho uma definição própria de como vão utilizá-lo, porque, na realidade, isso seria um trabalho de teste in vivo. Os testes in vivo vão apontar se podemos usar o biofilme em humanos e animais. Essa parte fica com outros especialistas”, diz o pesquisador.
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Pectina extraída da casca de frutas cítricas — Foto: Renato Pavarino/g1
Longo trabalho
De acordo com o professor de física e orientador José Geraldo Nery, a criação do biofilme de pectina é fruto de um longo trabalho de desenvolvimento de materiais voltados à saúde pública.
“Nós estudamos a estrutura de um biopolímero natural e abundante na biomassa brasileira. Analisamos as propriedades moleculares da pectina e propusemos estratégias de como modulá-la para atuar como um agente hemostático”, explica.
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Oscar Antonio Niño Santisteban e José Geraldo Nery analisando resultados da pesquisa — Foto: Renato Pavarino/g1
O processo utilizado pelos pesquisadores da Unesp de Rio Preto para criar o biofilme de pectina foi o sol-gel. Vários testes e pesquisas foram feitos, ao longo de anos, para chegar ao produto final.
“Quando estudamos a estrutura molecular da pectina, os monômeros indicam que o material pode ser induzido a um produto que possa amenizar os efeitos da hemorragia. Existe um espaço delimitado, mas o interior desse espaço é vazio e pode ser preenchido com o sangue. Nós temos equipamentos que medem o efeito da coagulação. Conseguimos ver todo os efeitos”, afirma José Geraldo.
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Laboratórios de Estudos Genômicos da Unesp de Rio Preto — Foto: Renato Pavarino/g1
Ainda segundo o professor e orientador José Geraldo, a velocidade que o produto vai chegar ao mercado depende diretamente do interesse das empresas.
“Nós fizemos o que está ao nosso alcance. Estudamos, desenvolvemos o material e obtivemos a patente. O que vem agora são os testes clínicos e a transformação do que fizemos para a escala industrial. O que existe de seguro é o processo que levou quatro anos para ser desenvolvido, a reprodutibilidade do material e os parâmetros científicos. Há potencialidade de mercado porque existe uma patente e não há nenhum material similar. Chegar às prateleiras é um caminho que não temos total controle”, diz o professor.
Por g1 Rio Preto e Araçatuba