Sem a maior empresa de transporte de contêineres – a CMA CGM, que anunciou o encerramento das atividades no Porto de Natal – os produtores dizem que a tendência é escoar a totalidade das cargas de frutas para o Ceará para que, de lá, cheguem ao mercado consumidor dos outros continentes. Há vantagem nessa mudança, segundo eles, levando-se em consideração a dificuldade logística para chegar a Natal e também as limitações do porto potiguar.
Metade da produção de frutas já é exportada pelo estado vizinho. A Agrícola Famosa, maior exportadora de melões e uma das mais importantes indústrias agrícolas do Brasil, tomou essa decisão.
De acordo com o sócio-fundador da empresa, Luiz Roberto Barcelos, diretor institucional da Associação Brasileira dos Exportadores de Frutas (Abrafrutas), parte da carga passou a ser transportada em fretamento próprio de navio pelo Ceará. A vantagem, segundo ele, é que, com isso, se consegue escoar a produção sem atrasos que ocorriam nos navios de contêiner partindo de Natal.
Ele diz que dessa forma é mais seguro escoar a produção, diferente do Porto de Natal, que está com o seu espaço restrito. Barcelos também ressalta que não haverá impacto na produção. “Se ocorrer a saída da CMA, vai ficar praticamente sem ninguém para operar no Porto de Natal e teremos que buscar outras operadoras, mas no momento não sei de nenhuma. As frutas continuarão sendo produzidas, mas serão exportadas pelo Ceará em vez de sair pelo Rio Grande do Norte”, disse ele.
O melão representa, atualmente, o segundo item na pauta de exportações potiguar, com 63 mil toneladas enviadas para outros países no primeiro semestre de 2022.
O presidente do Comitê Executivo de Fruticultura do Rio Grande do Norte (COEX), Fábio Martins de Queiroga, disse que, apesar do desejo de fortalecer o Porto de Natal, o terminal não atende à demanda em sua plenitude, o que torna o problema ainda mais complexo do que apenas a falta de defensas na Ponte Newton Navarro.
“Apesar da boa gestão do Brigadeiro Carlos Eduardo, com quem temos acesso direto, as condições estruturais do Porto de Natal não nos atendem em sua plenitude. A começar pelo acesso. Entre o porto e as fazendas de melão e de frutas, o transporte pela BR 304 faz com que o tempo de viagem exceda em mais da metade do tempo que fazemos até o porto de Fortaleza, devido o trânsito na via deficitária, tráfego grande e que piora quando entra em Natal”, explicou.
Ao chegar no terminal natalense, outros problemas surgem, segundo Queiroga, porque o porto não tem capacidade operacional de oferecer celeridade ao processo de entrega dos contêineres cheios e recebimento dos vazios. “Temos enfrentado problemas com as empresas que terceirizam os contêineres vazios devido a demora do Porto de Natal, superando a do porto de Fortaleza que está mais próximo das fazendas de melão de Mossoró”, disse o presidente do Coex.
As limitações também passam pela profundidade adequada para o calado de navios maiores. Fábio Queiroga relata que há uma pressão dos órgãos internacionais para que os navios que transportam contêineres transoceânicos sejam de grande porte, de modo a maximizar a eficiência energética, mas os que atracam em Natal são pequenos.
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Adriano Abreu
Limitações também passam pela falta de profundidade adequada para o calado de navios maiores
“São três limitações do porto para navios de grande calado: a profundidade por ter um acesso raso no rio; a altura, por causa da ponte; e as defensas que não existem. Por isso, os navios só podem transcorrer entre o porto e o oceano no período diurno e as companhias reclamam que os navios que terminam o carregamento no final do dia, só podem seguir viagem no dia seguinte, gerando um custo operacional maior”, relatou Fábio Queiroga.
Quanto ao impacto que a saída da CMA CGM deve trazer para as exportações potiguares, o presidente do Coex relembra o que o diretor da Abrafrutas, Luiz Roberto Barcelos, já disse.
“Os produtores já exportam mais da metade da fruta pelos portos do Ceará. Sem operador no porto de Natal, haverá migração total para o Ceará. Pode haver perda de empregos, mas localizada ao porto. Entre operadores portuários e demais setores que atendem o setor de transporte, podemos pensar em não menos de 200 empregos”, estima.
Codern afirma que busca por soluções
A Codern está dialogando com as federações que representam o setor produtivo, a fim de encontrar soluções para compensar a perda que a saída da CMA-CGM deve ocasionar para as operações e transporte de cargas no Porto de Natal. Entidades como a Federação da Agricultura do Rio Grande do Norte (Faern), Comitê Executivo de Fruticultura (COEX/RN) e a Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas) estão inclusas nesse diálogo.
“Estamos em contato com as federações, sindicatos e produtores colocando para eles essa situação, trocando ideias no sentido de que buscarmos alternativas para cá. Às cooperativas de pequenos produtores, sugerimos que se unam, façam pool de carga, porque se cada um produz um pouco, quando somados geram sinergia e aí, procurem um operador para exportar esse material”, sugere o brigadeiro Carlos Eduardo da Costa Almeida, diretor-presidente da Codern.
O sistema em pool permite que um mesmo navio receba mercadorias de diferentes produtores. O diretor diz que a Codern permanece na missão de disponibilizar infraestrutura aeroportuária para apoiar a recepção de pessoal e cargas em apoio, com foco social.
De acordo com o presidente da Faern, José Vieira, a entidade, juntamente com a Federação do Comércio (Fecomércio), da indústria (Fiern) e do transporte (Fetrans) integram um grupo de trabalho juntamente com a Codern para fazer o levantamento da demanda, do potencial do porto, volume de exportação em contato com algumas empresas de logística marinha.
“É de estranhar a CMA CGM deixar de operar em Natal, tendo em vista que só ela que faz os transporte de containers aqui. Por outro lado, a falta de defensas da ponte é um problema antigo, porém tem um custo significativo. Também estamos tentando junto à bancada é Federal viabilizar recursos porque sem essas defensas o porto não consegue operar e atrair mais navios”, disse José Vieira.
Ele acredita que outras empresas se interessarão em em atuar no porto de Natal, entre elas, a intermarítima Portos e Logística/SA, que opera no Terminal Salineiro de Areia Branca. A estimativa é de que o porto atenda as necessidades em até 800 contêineres por semana durante a safra que deve seguir até o mês de abril. “Estamos conversando com a Intermaritima que tem todo o interesse de trabalhar no Porto de Natal, desde que tenha demanda. Esperamos que tão logo a gente consiga dar tranqüilidade a todos os exportadores, principalmente de fruta, que sai pelo porto do Rio Grande do Norte”, prevê.
Além disso, ressaltou que a Faern está trabalhando para que o porto de Natal não deixa de ser viável. “Estamos conversando com toda a cadeia produtiva do setor, principalmente da fruticultura, não só do Rio Grande do Norte, mas de outros estados também que fazem exportação pelo Porto de Nata”, enfatiza José Vieira.
Fonte: Tribuna do Norte