Quarta reportagem da série mostra que segmento se expande na região com demanda de indústria de sucos e polpas
Reconhecida como região produtora de café e leite, a Zona da Mata de Minas Gerais também tem um grande potencial para a fruticultura. Com localização estratégica e clima favorável, a fruticultura está presente em vários municípios e vem se diversificando. Além da tradicional produção da manga Ubá, produtores têm investido nas demais espécies de manga, banana, tangerina, mamão, laranja, goiaba e introduzindo novas culturas, como pera e mirtilo.
De acordo com a pesquisadora da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), no Campo Experimental de Leopoldina, Ariane Castricini, a fruticultura vem se destacando na região estimulada pelas várias indústrias instaladas e também pela demanda para o consumo in natura, principalmente, para o mercado do Rio de Janeiro.
“As agroindústrias de suco, polpa e sorvete são grandes demandadores de frutas na região da Zona da Mata. Mas há também demanda para produção de frutas para o consumo in natura”, explicou.
Devido ao potencial para o crescimento da produção de frutas, há muita demanda para pesquisas. A pesquisadora, que atuava há 13 anos pela Epamig na região do Jaíba – tradicional produtor de frutas no Norte do Estado -, está há quase um ano se dedicando à fruticultura na Zona da Mata.
“Os trabalhos da Epamig com a fruticultura da região estão começando. A gente identificou demandas especialmente para banana, goiaba e pequenas frutas (amora, mirtilo, framboesa). A produção pode ser destinada para o consumo in natura e para as agroindústrias de sorvetes, sucos, recheios de bolo e polpa. São várias possibilidades desde que tenha qualidade”.
Entre as frutas mais produzidas Zona da Mata, um dos destaques é a banana, cujo interesse tem aumentado entre os produtores.
“Pela região estar muito próxima ao Rio de Janeiro, onde o consumo da fruta é elevado, há uma boa oportunidade da venda in natura e os produtores estão animados. A facilidade de escoamento é um fator interessante que estimula a produção”, comemora a pesquisadora.
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Há ainda demanda forte vinda das diversas indústrias de sucos, polpas e de sorvete instaladas na Zona da Mata. Além da banana e da goiaba, a demanda é grande por frutas como manga, laranja, tangerina, maracujá, entre outras.
“São várias as indústrias que demandam tanto as frutas para a produção de sucos quanto a polpa asséptica (produto comercialmente estéril, fabricado dentro dos padrões de boas práticas de fabricação de alimentos). É uma procura interessante que pode fomentar a agroindústria na região. É uma alternativa também para as pequenas frutas, como a amora, que é uma das mais frágeis”, explica.
De acordo com os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dentre as principais frutas produzidas na região se destacam banana (41.094 toneladas em 2021), seguida pela tangerina (28.768 t); manga (10.640 t); goiaba, (7.961 t); laranja (6.600 t); abacate (4.924 t); maracujá (2.545 t), e limão, com um volume de 1.714 toneladas.
“A produção dessas frutas está espalhada pelos 142 municípios da Zona da Mata”, acrescenta a representante da Epamig.
Ainda segundo Ariane, na microrregião de Ubá, há maior expressividade da produção de mangas, com destaque para o município de Visconde do Rio Branco, onde estão instaladas indústrias de polpa e suco. “A manga tem uma importância especial nessa região, assim como o maracujá. São frutas muito demandadas para a fabricação de sucos”, completa.
Além das frutas tradicionais, as condições de produção e a logística que favorecem o escoamento da produção têm estimulado produtores a investir em opções não tradicionais, como a pera e o mirtilo.
Ariane explica que a introdução de novas frutas é um desafio, já que as plantas não são adaptadas à região. Mas os produtores estão desenvolvendo manejo, técnicas e cuidados necessários. “Algumas frutas não convencionais na região e que apresentam grande demanda no mercado têm sido cultivadas por alguns produtores. São muitos os desafios para a pesquisa e é um processo que demanda tempo. Mas, mesmo com erros, se tem a oportunidade de mostrar que o caminho não era aquele. Foi assim com a banana no Norte de Minas, que é uma região semiárida e conseguiu-se desenvolver tecnologia e irrigação para produzir. Isso também aconteceu na produção de azeite e vinhos”, comemora.
Assim como em outras culturas, um dos principais desafios enfrentados na região é a falta de mão de obra. “A mão de obra para a fruticultura em regiões não tradicionais é muito escassa, por não ter pessoas com formação para podar e fazer os manejos corretamente. Então, é preciso levar informação para os produtores, para que a mão de obra seja qualificada e formada”.
Diante do gargalo, estão sendo feitas reuniões para a criação de um convênio de cooperação técnica entre o Cefet-MG e a Epamig para criação do curso Tecnólogo em Agropecuária na região.
Mirtilo e pera
Com uma demanda grande no mercado, o produtor Lúcio Heleno Rodrigues de Rezende, de Leopoldina, tem investido na fruticultura. Além das frutas mais tradicionais para a região, como a manga Palmer, goiaba e laranja, Rezende tem apostado na diversificação. Ele já está produzindo pera e iniciou o cultivo de mirtilo.
“A região é privilegiada. Estamos a duas horas da Baixada Fluminense, que não produz frutas e tem demanda grande. Temos investido na produção e o grande segredo é a qualidade. Se o produto tiver uma qualidade diferenciada, o comprador vai brigar pela mercadoria. Ele vai voltar e comprar mais”.
A aposta na produção de mirtilo se deve à demanda do mercado e pelo produto ser, praticamente, 100% importado hoje. A ideia é vender o mirtilo in natura e também em polpa.
“A gente está estudando há bastante tempo para aprender a tecnologia. Fizemos assim com a pera – que estamos produzindo melhor, mas ainda precisamos avançar mais. O desafio do mirtilo é o clima. Ele precisa de 400 horas a 7 graus e isso não existe na nossa região. Com manejo, acreditamos que vamos conseguir superar os desafios e produzir mais pera e mirtilo com qualidade. É questão de tempo”, explicou.
Quanto às demais frutas, uma parte é destinada às centrais de abastecimento e outra para as indústrias da região, principalmente, as de suco. “A nossa ideia é, no futuro, montar uma unidade para trabalhar e agregar valor ao nosso produto, produzindo polpa para suco”, contou o produtor.
Fonte: Diário do Comércio