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Insetos predadores viram ‘armas’ para controle de pragas em pomares e lavouras

Nativa do Brasil, a vespa Doryctobracon areolatus pode fazer pelos pomares de frutas do país o que nenhum outro pesticida químico ou biológico consegue: ela detecta pelo cheiro a presença das larvas da mosca-da-fruta e faz a postura dos seus ovos diretamente na praga, que morre dias depois, antes de se tornar adulta e contaminar outras árvores.

“A verdade é que, quando falamos de controle biológico, não são todas as culturas em que se consegue fazer esse trabalho com microrganismos. Tem certas culturas em que é melhor usar um inseto parasitoide”, afirma Dori Nava, pesquisador da Embrapa Clima Temperado.

 

Nava é um dos responsáveis pela pesquisa que desenvolveu um método para criação em escala comercial do inseto predador da larva da mosca-da-fruta. Ele explica que o controle macrobiológico, que utiliza insetos e outros seres vivos de porte maior, responde por uma fatia ainda pequena do mercado de biológicos, no qual o uso de microrganismos como fungos, vírus e bactérias disseminou-se com bastante força nos últimos anos.

“Quando se produz um entomopatógeno, é possível formular um produto como se fosse químico. Ele tem tempo de prateleira, com data de validade de dois, três ou quatro meses, enquanto no caso do inseto, não. É preciso liberar o inseto na natureza, não dá para estocar”, diz Nava.

Além de a logística ser mais complexa, o custo de produção dos insetos também é maior, já que precisa de muito mais mão de obra do que a multiplicação in vitro de fungos e bactérias. O pesquisador estima que a mão de obra represente cerca de 70% do custo de produção de insetos parasitários.

A reprodução dos insetos exige a criação tanto do predador ou parasita desejado quanto da praga a ser combatida e que será usada na alimentação dos parasitoides, tarefas que necessariamente têm de ficar com trabalhadores especializados.

Foi a esse ponto do trabalho que a startup Partamon passou a se dedicar. A empresa desenvolveu, em parceria com a Embrapa, uma dieta artificial para criação da larva da mosca-da-fruta que serve de alimento para a vespa Doryctobracon areolatus, que recebeu o nome comercial de Biolatus.

O Ministério da Agricultura já publicou as especificações de referência da tecnologia, desenvolvida após 12 anos de pesquisas, o que abre espaço para que qualquer empresa faça o seu registro para venda comercial como bioinsumo – algo que a Partamon ainda não faz, mas que tampouco preocupa os criadores da startup.

“O fato de estar publicado e de qualquer empresa poder pedir o registro do produto não garante que ela vai conseguir produzir. Esse é o nosso diferencial tecnológico para negociar com uma empresa parceira”, afirma Sandro Nörnberg, diretor e um dos fundadores da Partamon.

Ele estima que haja cerca de 5 milhões de hectares com culturas suscetíveis à mosca-da-fruta. A despeito do nome, a praga ataca também o café, causando prejuízo anual ao Brasil de R$ 180 milhões, segundo estimativas da CropLife.

Na citricultura, insetos combatem o greening

 

Na cultura de citros, outro inseto tem feito contribuições milionárias aos produtores, mas também sem registro comercial: a Tamarixia radiata. Embora seja exótica, a vespa foi encontrada por pesquisadores da Esalq-USP no Brasil anos após serem registrados os primeiros casos de greening nos pomares paulistas e terem sido iniciadas as tratativas para sua importação.

Hoje professor de agronomia da Unesp, o engenheiro agrônomo Alexandre José Ferreira Diniz dedicou-se, durante seu pós-doutorado na Esalq, a estudos para tornar possível o uso em campo da Tamarixia radiata.

Vespa Cotesia flavipes parasita as larvas da broca-da-cana — Foto: Divulgação
Vespa Cotesia flavipes parasita as larvas da broca-da-cana — Foto: Divulgação

Na primeira fase, entre 2011 e 2012, os testes ocorreram em seis regiões de São Paulo, nas quais ocorreu a liberação de 500 vespas por hectare. “O que vimos naquele momento foi uma redução de quatro vezes e meia na quantidade de ninfas da praga”, relata.

Em 2013/2014, os pesquisadores aumentaram a escala do estudo, e a produção no campus da Esalq em Piracicaba (SP) chegou a 20 mil insetos parasitoides por dia. Os insetos eram entregues ao Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), um dos financiadores do projeto. A entidade, mantida por citricultores e indústrias de suco, passou a aplicar o controle no método de manejo externo, quando os insetos são liberados nas áreas ao redor dos pomares.

A técnica evita que a mosca vetor da bactéria causadora do greening, o psilídeo Diaphorina citri, ataque a produção. “Isso foi a cereja do bolo, porque o maior problema para o greening tem sido as áreas abandonadas, e o parasitoide não conhece cerca. Ele vai até a área do vizinho e controla o psilídeo lá dentro”, comenta Diniz.

O Fundecitrus já não produz a Tamarixia radiata para controle da mosca vetor do greening, mas usinas e programas estaduais de combate à doença têm feito o trabalho de maneira individual.

A Trichogramma galloi parasita os ovos da broca, uma das pragas que mais causam perdas em canaviais — Foto: Divulgação
A Trichogramma galloi parasita os ovos da broca, uma das pragas que mais causam perdas em canaviais — Foto: Divulgação

Já na cana, a aplicação de insetos parasitoides, bastante disseminada, alcança 4 milhões de hectares, segundo Vinicius Lopes, gerente de cana-de-açúcar da Koppert, empresa que vende tanto a vespa Cotesia flavipes, que parasita as larvas da broca-da-cana (Diatraea saccharalis), quanto o Trichogramma galloi, que parasita os ovos da praga.

O maior benefício do uso de insetos parasitoides é que eles matam exatamente o alvo que se quer. Com o defensivo químico, você corre o risco de matar insetos que poderiam ajudar no controle da própria broca”, pontua Lopes. Usados em conjunto, os dois insetos ajudam a evitar perdas anuais de R$ 5 bilhões no Brasil.

Fonte: Globo Rural