Evento “Agro em Código 2025”, promovido pela Embrapa, discutiu soluções tecnológicas e protocolos unificados para garantir conformidade e competitividade internacional do agro brasileiro

União Europeia adia exigência da Lei Antidesmatamento e amplia prazo de adaptação
O avanço da rastreabilidade no agronegócio brasileiro foi tema central do Agro em Código 2025, realizado pela Embrapa, GS1 Brasil e Cubo Itaú, em um momento decisivo para o setor. O evento ocorreu no mesmo dia em que o Conselho da União Europeia anunciou o adiamento para dezembro de 2026 da entrada em vigor da Lei Antidesmatamento (EUDR).
A norma europeia proíbe a importação de soja, carne bovina, café, cacau, madeira, borracha e óleo de palma provenientes de áreas desmatadas após dezembro de 2020. A prorrogação, segundo especialistas, dá ao Brasil mais tempo para adequar sistemas e protocolos de rastreabilidade exigidos pelos compradores internacionais.
Plataforma Agro Brasil + Sustentável integra dados e reforça transparência
Durante o evento, foi apresentada a plataforma Agro Brasil + Sustentável (AB+S), desenvolvida pelo Serpro em parceria com o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
A ferramenta é gratuita e de adesão voluntária, integrando informações de diferentes sistemas governamentais — como GOV.BR, cadastros rurais, dados trabalhistas e ambientais. Adaptável e flexível, a plataforma pode ser ajustada conforme novas regulamentações e compatibilizada com diversos tipos de certificação.
O objetivo é oferecer aos produtores uma solução digital unificada para atender às exigências de conformidade socioambiental, fortalecendo a imagem do agro brasileiro no exterior.
Embrapa desenvolve protocolo nacional de rastreabilidade
Na sequência, foi apresentado o protocolo Embrapa Trace, ainda em desenvolvimento. O projeto tem como meta criar soluções integradas de rastreabilidade, incluindo protocolos digitais e APIs, para atender tanto às demandas do governo quanto às do mercado internacional.
Segundo Anderson Alves, pesquisador da Embrapa Agricultura Digital, o desafio maior está na fragmentação dos sistemas existentes.
“Ainda há gargalos no atendimento à EUDR e à Lei do Autocontrole, principalmente pela falta de protocolos integrados de rastreabilidade. A Embrapa atua justamente nesse ponto, desenvolvendo soluções digitais para unificar e simplificar o processo”, explicou.
O Embrapa Trace conta com financiamento do Mapa e do Banco Mundial e já está em fase de validação nas cadeias de carne bovina, couro, soja e café. Uma segunda etapa, financiada pelo banco alemão KfW, vai incluir outras cadeias produtivas.
Embrapa Trace busca reduzir custos e simplificar certificações
De acordo com Aécio Flores, CEO da FSTecnologias Agropecuárias e consultor do projeto, a multiplicidade de protocolos e auditorias eleva custos e dificulta o acesso a mercados. A proposta do Embrapa Trace é funcionar como um meta-certificado nacional, reunindo as diferentes exigências em um único sistema auditável.
“Mais do que um sistema, o protocolo é uma plataforma estratégica. Ele transforma a complexidade da conformidade em vantagem competitiva, fornecendo um parecer único, digital e auditável, que assegura o futuro do agronegócio brasileiro no mercado global”, destacou Flores.
Setor produtivo pede continuidade das ações de adequação
Em um dos painéis do evento, representantes do setor produtivo e autoridades discutiram os principais entraves para o cumprimento da EUDR. O adiamento da norma, segundo eles, oferece mais tempo para ajustes, mas não elimina a urgência de adaptação.
Para Eduardo Chikusa, chefe de comércio internacional do Itamaraty, o momento ainda é de “confusão e incerteza”, mas também de oportunidade. “Esse período deve ser usado para buscar inovações e fortalecer os sistemas nacionais de rastreabilidade”, afirmou.
Já Pedro Garcia, gerente de sustentabilidade da Abiove, ressaltou a importância de manter o ritmo de adequação. “O adiamento de um ano dá fôlego, mas não podemos desacelerar a agenda, pois o tempo passa rapidamente”, alertou.
Casos de sucesso mostram impacto positivo da rastreabilidade
A programação também trouxe cases de empresas brasileiras que já adotam sistemas de rastreabilidade, como a Usina Granelli, Granjas 4 Irmãos, Suzano e Marvin Blue.
A diretora comercial da Usina Granelli, Mariana Granelli, apresentou a experiência da empresa com o sistema Sibraar, inicialmente implantado para agregar valor ao açúcar mascavo. Segundo ela, o processo transformou o modelo de negócios da companhia.
“Com a rastreabilidade, deixamos de depender exclusivamente do mercado de commodities e passamos a construir marca e valor. Isso abriu novas oportunidades de negócio e aumentou nossa competitividade. Hoje, somos uma empresa com outra cultura e visão de mercado”, destacou.
Fonte: Portal do Agronegócio



