No último fim de semana, o navio MSC Leila, de 335 metros de comprimento, atracou no Porto do Pecém para levar a produção de frutas do Nordeste rumo ao continente europeu. Movido a Gás Natural Liquefeito (GNL) em sua propulsão, tem capacidade de 11.500 TEUs e 10,40 metros de calado. A carga levada pela Linha NWC vai abastecer os supermercados do norte da Europa.
Segundo o diretor financeiro da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), Luiz Roberto Barcelos, a Europa segue sendo o maior destino das frutas cearenses:
“Cada vez mais essa janela de exportação tem que ser ampliada. A Europa tem aumentado a importação de frutas brasileiras, principalmente melão e melancia. Produzem menos no inverno, e o Brasil tem ocupado esse espaço. A comunidade europeia e a Inglaterra consomem mais de 70% das frutas frescas brasileiras.”
Barcelos lembra que os Estados Unidos importaram cerca de US$ 140 milhões em frutas em 2024 (12% do total nacional), mas o aumento das tarifas impostas ao Brasil pelo governo Trump reduziu a atratividade. “Já tínhamos uma sobretaxa de 28% no melão e 16% na melancia. Agora, com tarifa de 50%, praticamente inviabiliza a exportação para lá. E o mercado europeu segue em expansão. Esse é o motor da fruticultura nordestina.”
Frutas do Nordeste
Do total que sai pelo Pecém, 80% têm como destino os portos de Roterdã (Holanda) e Londres (Inglaterra). O restante é distribuído por Antuérpia (Bélgica), Le Havre (França), Sines (Portugal), Hamburgo e Bremerhaven (Alemanha). Cada contêiner refrigerado de 40 pés pode transportar até 27 toneladas de frutas como melão, melancia, manga e uva, cultivadas no Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Bahia.
A produção de melão e melancia registrou saltos expressivos no Ceará e ajudaram a sustentar o crescimento da fruticultura no estado. No segundo trimestre deste ano, o PIB agropecuário cearense cresceu 17,73%, sustentando a alta de 3,86% do PIB estadual, acima da média nacional de 2,2%.
Em 2024, apenas o melão rendeu ao Ceará US$ 85,6 milhões em exportações, valor que correspondeu a 69,8% das vendas externas de frutas do estado. A melancia sem semente, produto em expansão, também tem conquistado consumidores internacionais pela maior durabilidade, embora o consumo europeu seja menor no inverno.
Empresas como a Brazil Melon já abastecem redes de supermercados como Lidl, Tesco, Jumbo e Edeka. Recentemente a Itaueira, com produção em Morada Nova, no interior do Ceará, abriu a oferta de 900 vagas de empregos. As vagas foram as áreas do campo (irrigação e colheita) e galpão (processo de embalagem). A empresa, pretende alcançar a produção local em 34 mil toneladas já em 2025, sendo 85% composta por melões de alta qualidade voltados à exportação para mercados como Europa, Canadá e região do Golfo Pérsico.
“A retomada de nossa produção no Ceará é consequência de um longo período de planejamento para voltarmos a exportar. Nossa área de produção está localizada a 120 km do Porto do Mucuripe e a 160 km do Porto do Pecém. Nossas fazendas na Bahia e Piauí estão aproximadamente a 1.000 km de distância dos portos. Esperamos colher 38 mil toneladas e exportar entre 200 a 250 contêineres. Até agosto de 2025, 100% de nossa produção era destinada ao mercado nacional. A partir de setembro, apenas um pequeno percentual será exportado e irá crescer aos poucos, dependendo da demanda existente no exterior”, destacou a Itaueira através de nota.
O gerente de Negócios Portuários do Complexo do Pecém, Raul Viana, destaca a importância da logística marítima para consolidar esse protagonismo.
“Com operações como essa, nossos clientes têm a certeza de que sua produção vai continuar sempre encontrando um mercado importante na outra ponta, com eficiência, inovação e rapidez.” O Pecém possui parceria com a MSC no atendimento às safras de melão da região de Mossoró (RN) e de manga e uva do Vale do São Francisco (PE e BA).
Além do meio portuário, recentemente a Latam inaugurou um voo entre Fortaleza e Lisboa, com a estimativa de realizar o transporte semanal de mais de 20 toneladas de frutas. Para Barcelos, a diversificação segue sendo a chave. “Além da Europa, temos aproveitado o Oriente Médio e a América do Sul. E frutas como mamão e manga também utilizam logística aérea, garantindo maior alcance. O Brasil precisa seguir ampliando essa presença.”
Fonte: Movimento Economico