Araucária garante alimento rico em fibras no inverno; pesquisador alerta que pinhão verde pode ser prejudicial à saúde.
Mais popular nas regiões Sul e em áreas altas do Sudeste, o pinhão é protagonista de festas e o destaque em diversos pratos da culinária. Mas o que, de fato, é esse alimento?
É a semente da araucária, a parte comestível da pinha. “A araucária é uma árvore que não tem fruta, faz parte do grupo das gimnospermas. Ela produz a pinha e os pinhões. Quando um pinhão cai no chão, por exemplo, ele germina e produz uma muda, por isso é uma semente”, explica o engenheiro florestal e pesquisador da Embrapa Florestas Ivar Wendling.
Das 19 espécies de araucárias, apenas três dão pinhão: a Araucaria angustifolia (presente principalmente no Brasil e em poucas áreas do Paraguai e Argentina), a Araucaria araucana (ocorre no Chile e na Argentia) e também a Araucária bidwilli (Austrália)
Essa semente é formada por uma casca e pela castanha, que é a parte comestível. Mas, até o pinhão estar maduro existe um longo processo que pode durar até três anos.
“Basicamente existe a araucária fêmea e a macho. A fêmea produz a flor que normalmente abre em setembro. Essa flor recebe o pólen da árvore macho através do vento e é polinizada. Em seguida, ela vai se desenvolvendo até formar a pinha que com o tempo vai amadurecendo e se abrindo até liberar os pinhões. Cada pinha pode ter mais de 100 pinhões”, esclarece o pesquisador.
O pinhão leva de 28 a 35 meses para se formar, desde o início da visibilidade das flores! — Foto: Ivar Wendling/Arquivo Pessoal
A época da colheita varia de março até julho, quando muita gente já encontra a semente a venda nos supermercados, mas cada estado permite o extrativismo a partir de uma data exata. “Não é permitido colher o pinhão antes por vários motivos. Um deles é falta conscientização e as pessoas acabariam tirando as pinhas antes delas estarem maduras e o pinhão verde se consumido é prejudicial à saúde”, alerta Wendling.
Mas quando está no ponto é um super alimento com baixo teor de gordura e sódio que funciona como fonte de energia e pode ser consumido por qualquer faixa etária. O pinhão ainda é capaz de acelerar o metabolismo e diminuir o colesterol, segundo estudos. “Ele também tem muitas fibras o que ajuda na digestão, além de contar também com proteínas, minerais e não possuir glúten. É um alimento muito versátil que pode ser incorporado em qualquer receita para agregar benefícios, sem alterar muito o sabor da comida”, diz o engenheiro.
O estróbilo na planta macho é o responsável pela produção do pólen que vai polinizar a flor na araucária fêmea que vai gerar o pinhão. — Foto: Ivar Wendling/Acervo Pessoal
Não à toa o pinhão tem uma forte conexão com tribos indígenas que até hoje dependem do alimento para manter a dieta local, como os aborigenes na Australia, os Pehuenches no Chile e no Brasil além dos Guaranis, os povos Macro Jê, Kaingangs e Xoklengs.
Ainda segundo o especialista, muito se dá ao fato do alimento estar disponível no inverno. “Na natureza pouquíssimas árvores produzem alimento no inverno, normalmente é em épocas mais quentes. O pinhão fica maduro exatamente no período mais frio, o que ajudava os índios e outros animais a garantirem o alimento nesses meses”.
Para os amantes da semente a dica é o armazenamento correto para que ele dure mais. Em um saco fechado, dentro da geladeira, a validade chega a 30 dias. Já congelado (junto com água), o pinhão pode durar até três anos.
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Fonte: G1