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Sucesso mundial do açaí, que hoje movimenta mais de US$ 1,5 bilhão só no Pará, dispara interesse pela busca e identificação de novas superfrutas brasileiras altamente nutritivas, benéficas para a saúde e lucrativas

Crédito: Divulgação

Divulgação

Desde que o viajante calvinista francês Jean de Léry experimentou e descreveu o abacaxi em seu livro “Viagem à Terra do Brasil”, no final do século 16, as frutas brasileiras não param de surpreender e fascinar os estrangeiros pela beleza, qualidades alimentícias e medicinais e potencial de aproveitamento industrial. Por aqui, espécies tropicais coloridas e suculentas multiplicam-se pelas florestas e reforçam o apelo exótico do País. Ainda hoje novas frutas são descobertas ou têm suas propriedades desvendadas pelos cientistas. Recentemente, pesquisadores da Embrapa Amazônia Oriental revelaram, por exemplo, que o murici, planta que atrai cada vez mais chefs de cozinha com seu aroma e gosto salgado, além de possuir grande concentração de vitamina C, tem teores de fibras equivalentes aos do açaí e de proteína maiores que os da graviola.

O sucesso mundial do açaí, que hoje injeta US$ 1,5 bilhão na economia do Pará, seu principal produtor, disparou o interesse pela busca e identificação de novas superfrutas altamente nutritivas, benéficas para a saúde e lucrativas. O paulista Helton Josué Muniz, considerado o maior colecionador de frutas raras do País, que o diga. Ele cita algumas espécies cobiçadas por estrangeiros com potencial para se transformarem em produtos globais. É o caso do tomatinho do mato, fruta exclusiva da Mata Atlântica que só nasce no inverno, tem a polpa semelhante à do maracujá, mas é ainda mais doce e saborosa; da groselha do ceilão, matéria prima da bebida Campari, e da sapota preta ou fruta graxa, ‘irmã’ do caqui, rara e com gosto de pudim de chocolate.

“Só na minha região já encontrei mais de 250 espécies nativas raras”, destaca Helton. Seu acervo em Campina do Monte Alegre, interior de São Paulo, abriga quase 50% de todas as frutas existentes no mundo em uma área de 60 mil metros quadrados. Ao todo, ele estima que existam cerca de quatro mil espécies e o Sítio Frutas Raras, de sua propriedade, tem 1600 delas. “Um dos objetivos de cultivar essas espécies é preservar e mostrar a riqueza que existe na nossa flora para alimentação”, diz. Graças ao grande conhecimento do assunto, Helton apoiou uma pesquisa do departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição da Escola Superior de Agricultura (Esalq), da USP, para identificar novas superfrutas endêmicas da Mata Atlântica. Foram estudadas a araçá-piranga, a cereja do rio grande, a grumixama, o ubajaí e o bacupari-mirim, todas difíceis de encontrar na floresta. A grumixama e a cereja do rio grande são frutas pequenas e vermelhas, como as cerejas e as amoras. Já o araçá-piranga é amarelado e tem alto potencial anti-inflamatório.

Em breve, produtos como esses, hoje desconhecidos, poderão entrar nas cozinhas de todo o mundo. O negócio de frutas continua aquecido e, segundo a Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), mesmo com a pandemia, cresceu 6% em 2020, quando um milhão de toneladas foram comercializadas no exterior. A receita do setor com exportações saltou para US$ 875 milhões (R$ 4,4 bilhões). Destaque para frutas como manga, melão, caju, abacaxi, acerola e o açaí, considerada a fruta do momento nas transações agrícolas.

Para o presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), Durval Ribas Filho, esse alto consumo de frutas tem uma razão óbvia. “Sua ingestão impacta diretamente na longevidade do ser humano e, por isso, é preciso valorizar nossa biodiversidade única”, diz. Ao que Helton acrescenta: “Só se preserva aquilo que se conhece”. Portanto, se não houver conscientização, as futuras gerações podem ignorar completamente nossas frutas espetaculares.

Fonte: IstoÉ