Especialistas participaram, na quarta (4), do seminário “Frutas e Hortaliças – Por que comer mais?” para debater os hábitos de consumo desses alimentos no Brasil e no mundo e a importância deles para uma alimentação saudável.
O evento foi realizado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e faz parte de uma série de ações que serão realizadas até o dia 30 de outubro e que abordarão temas da cadeia de hortifrúti.
No encontro, o gerente da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), André Martins, falou sobre a POF realizada em 2017-2018 e que analisou mais de 20 mil domicílios. Na pesquisa, todos os moradores com 10 anos ou mais de idade informam sobre o consumo alimentar de dois dias.
“A alimentação correspondeu a 17,5% das despesas de consumo monetária e não monetária média mensal familiar. Na aquisição domiciliar per capita anual, as frutas corresponderam a 26,414 quilos e as hortaliças 23,775 kg. Essa aquisição é maior na área urbana (27,692 kg) do que na rural (19,026 kg)”, informou.
Segundo André, na medida em que a família tem maior rendimento, a capacidade de aquisição de frutas e hortaliças é maior. “Famílias com rendimentos mais baixos consomem mais cereais, leguminosas, farinhas, massas e pescados”, disse.
A pesquisa também constatou que 7 dos 17 grupos alimentares da região Sul estão acima da média nacional. Frutas correspondem a 31,931 kg e hortaliças 31,333 kg na aquisição alimentar domiciliar per capita.
Em sua apresentação, a pesquisadora do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (Nupens/USP), Maria Alvim, destacou a importância do “Guia Alimentar para a População Brasileira” para incentivar práticas alimentares saudáveis.
Na nova classificação desenvolvida pelo Nupens, os alimentos são categorizados em quatro grupos. O primeiro são in natura e minimamente processados (feijões, frutas, leites, nozes e castanhas, cereais, carnes e ovos e verduras e legumes). O segundo grupo são os ingredientes culinários (manteiga, óleo, açúcar, sal). Em seguida vêm os processados (queijo, milho, ervilha, enlatados, geleias, pães) e o quarto e último os ultraprocessados (iogurtes, salsichas, biscoitos).
“Os alimentos do primeiro grupo são os mais indicados para uma alimentação saudável. Já os do quarto grupo, recomenda-se evitar, pois se consumidos em grande quantidade, podem ocasionar o surgimento de algumas doenças”, afirmou Maria Alvim.
A pesquisadora do Nupens também citou os estudos de mudanças alimentares e mudanças no peso corporal na coorte Nutrinet Brasil durante a pandemia, que avaliaram 10 mil e 14 mil participantes, respectivamente. “Foi constatado um aumento do consumo de alimentos ultraprocessados nas regiões Nordeste e Norte e da população de menor escolaridade. Com relação ao peso corporal, houve maior prevalência de ganho (20%) do que perda de peso (15%), disse”.
Alvim falou ainda do Estudo NutriNet Brasil, que teve início em janeiro de 2020 com o objetivo de acompanhar 200 mil adultos para identificar os principais padrões de alimentação praticados pela população brasileira e estudar a associação entre esses padrões e a incidência e mortalidade por doenças crônicas não transmissíveis. Para participar, acesse: https://nutrinetbrasil.fsp.usp.br
A última especialista convidada para o debate foi a coordenadora do Projeto Hortifrúti Brasil do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Margarete Boteon. De acordo com ela, o baixo consumo de frutas e hortaliças é um problema que ocorre no mundo todo.
“No Brasil, além da questão do hábito de consumo desses alimentos, há outros desafios, como renda, disponibilidade e acesso, falta de conhecimento e fragilidade da cadeia doméstica de comercialização”, explicou.
Para Margarete, o fator renda tem a ver tanto com o orçamento que as famílias distribuem para frutas e hortaliças, quanto a um movimento de preços mais elevados. “Nós observamos que com o tempo a disponibilidade de renda das famílias aumentou, mas o consumo de hortifrúti não. Ou seja, elas gastam mais e levam menos”.
Por fim, a coordenadora destacou a necessidade de o Brasil ter um olhar mais focado para as Centrais de Abastecimento (Ceasas). “Precisamos urgente modernizar a intermediação da distribuição de alimentos. A falta de organização e a informalidade da cadeia de frutas e hortaliças não contribuem para os desafios atuais, que são menor custo, melhor qualidade, menos perdas e principalmente segurança”.
Lives – A partir do dia 19 de agosto a CNA e FAO vão promover lives temáticas, que serão transmitidas a cada quinze dias, sempre às quintas-feiras, das 10h às 11h30, no agropelobrasil.com.br. Os assuntos vão desde segurança alimentar, boas práticas e higienização de alimentos, rastreabilidade e certificação até tendências de consumo no Brasil.
Assista o seminário na íntegra:
Fonte: CNA