Melhoramento genético de espécies como o pessegueiro foi essencial para o setor produtivo
CRÉDITO: PAULO LANZETTA/DIVULGAÇÃO/JC
Cristiano Vieira
Com quase quatro décadas atuando na pesquisa e desenvolvimento de novas variedades em frutas temperadas, o agrônomo aposentado da Embrapa Bonifacio Hideyuki Nakasu recebeu, neste ano, o troféu O Futuro da Terra na categoria Prêmio Especial.
Segundo informações da Embrapa Clima Temperado, Bonifácio Nakasu é graduado em agronomia pela Universidade Federal de Pelotas (1968), com mestrado em Horticultura e Fruticultura (1973) e doutorado em Horticultura e Melhoramento Genético de Plantas, ambos pela The State University of New Jersey (1977).
Ele ingressou na Embrapa no mesmo dia que se graduou, em 1968. À época, a estrutura era conhecida como Estação Experimental de Viticultura, Enologia e Frutas de Clima Temperado e estava vinculada ao Ministério da Agricultura. No local, começou a trabalhar na área de fruticultura, com culturas como pêssego, ameixa, maçã e pera, se especializando em melhoramento genético.
Ainda conforme a instituição de pesquisa, no início da década de 1970, quando a estação já havia se transformado em sede do Instituto de Pesquisa e Experimentação Agropecuária do Sul (Ipeas), participou dos esforços para a formação da Embrapa. Diversos pesquisadores foram responsáveis pela articulação, como Edmundo Gastal, que fez parte da primeira diretoria da Empresa, em 1973.
A partir de 1977, após voltar dos EUA, Nakasu reassumiu suas atividades como pesquisador. Ele destaca as pesquisas com o pessegueiro, tanto no melhoramento genético, como no manejo da cultura. “Acho que o trabalho fundamental que se fez foi mais junto aos próprios produtores. Porque a produção era muito pequena e primitiva aqui na região. Então, nós fomos melhorando. Todo o sistema produtivo foi melhorado”, relembra.
Também destaca as muitas parcerias realizadas com instituições de pesquisa e de ensino locais, além daquelas de outros países, como Japão, Itália, Chile, Uruguai e Argentina, principalmente. “Isso foi fundamental para dar um impulso nos trabalhos da Embrapa. Não apenas pela troca de experiência de pesquisa, mas pela troca de material genético das frutíferas temperadas e até de outras espécies, como hortaliças”, completa.
Além da Embrapa, Nakasu também foi presidente da Sociedade Brasileira de Fruticultura (SBF) em 1993 e 1994. Nesse período, destaca a realização do Congresso Brasileiro de Fruticultura em Pelotas. “Esses eventos eram muito importantes para ativar e dar uma alma à produção de frutas no Brasil”, explica.
Na área acadêmica, participou da criação do curso de pós-graduação em Fruticultura de Clima Temperado, hoje ligado ao Programa de Pós-Graduação em Agronomia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Criado em 1973, foi pioneiro na área do País e teve suas aulas ministradas na Embrapa.
Uma das suas últimas ações como pesquisador está a articulação com o Uruguai para importação de materiais de citros de mesa da Espanha para o Brasil. Mesmo após se aposentar, em 2003, Nakasu ainda contribuiu indiretamente com a cadeia produtiva do pêssego. Por iniciativa da pesquisadora Maria do Carmo Raseira, deu nome, em 2007, a uma nova variedade da fruta, a Bonão, que se destaca por suas características de adaptação climática.
COLHEITA DO PÊSSEGO PASSOU DE APENAS 15 DIAS PARA 100 DIAS POR ANO
Produtividade passou de duas para 40 toneladas por hectare
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Ao longo das últimas décadas, Bonifacio Hideyuki Nakasu explica que a pesquisa permitiu grandes avanços na fruticultura de clima temperado no Brasil. “Veja o caso do pêssego. Tínhamos apenas uma variedade, com certas qualidade, mas muito disforme. E também uma safra apenas por ano. Começamos um grande trabalho de cruzamento, no início dos anos 1970”, relembra ele.
A nova variedade, chamada diamante, permitiu uma fruta mais direcionada para o enlatamento, fato que foi importante para indústria conserveira da região de Pelotas. “Este mesmo pêssego, embora produzido para ser enlatado, também era comercializado nas feiras diretamente ao público, se tão saboroso. Essa venda, como pêssego de mesa, remunera melhor o produtor”, explica.
Junto com esse trabalho de melhoramento das frutas, ele lembra que os pesquisadores da Embrapa tiveram resultados positivos também no sistema produtivo, como evitar enxurradas para obter um manejo mais adequado do solo. Também a poda foi aprimorada, de modo que o próprio pessegueiro produzisse mais.
Nakasu conta que, depois de tantos esforços, aquele período de colheita curto, de apenas 15 dias, foi ampliado para 100 dias durante o ano. A produtividade no cultivo do pêssego também deu um salto: se, lá no início, era de duas toneladas por hectare, passou para 15 toneladas por hectares e, em épocas mais recentes, chegou a atingir 40 toneladas por hectare.
O trabalho de pesquisa não se restringe apenas ao pêssego, mas inclui também morangos, ameixas, peras e maçãs. Nas décadas mais recentes, Nakasu explica que foi realizado um trabalho importante para produzir citros de mesa – como laranjas e bergamotas – para a Metade Sul gaúcha, mais especificamente nas regiões de Pinheiro Machado e Uruguaiana. “Conseguimos frutas diferenciadas, com variedades sem sementes e sabor marcante”, explica.
Aquela mesma região, por sinal, cresceu muito no cultivo da uva e produção de vinho. “Aqui na Fronteira-Oeste temos um período de sol maior, com mais luz, para cultivar a uva, e o período de maturação, mais seco, resultado em uma fruta com mais sabor e açúcar”, completa ele.
Fonte: Jornal do Comércio