Setor foi afetado pela crise logística no mercado global, atingido pela falta de contêineres e pelo aumento do custo do frete marítimo
O Brasil já deixou de embarcar cerca de US$ 50 milhões de dólares em frutas só no segundo semestre deste ano devido ao aumento do frete marítimo e à falta de contêineres que atinge o mercado global. A estimativa é de Luiz Roberto Barcelos, diretor institucional da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas) e sócio da Agrícola Famosa, maior produtora e exportadora de melão do país, que também foi afetada.
Barcelos diz que o problema, que prejudica as exportações do agronegócio, é ainda mais grave no caso das frutas, produtos perecíveis, com produção e entregas semanais. “A dona de casa vai comprar frutas na semana e, se não tiver, ela não vai comprar em dobro na outra semana. É realmente uma venda perdida.”
O dirigente e produtor, que também é presidente da Comissão Nacional de Fruticultura da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), está em Madri, na Espanha, participando da Fruit Attraction, a primeira feira presencial do setor de frutas e hortaliças que se realiza após o início da pandemia da Covid 19, tendo o Brasil como um dos principais convidados.
Segundo ele, a pauta da escassez de contêineres domina as discussões na feira, que termina nesta quinta-feira (7/10), porque atinge compradores e exportadores. Já o debate ambiental, mesmo com a proximidade da COP 26, tem pouco impacto no setor.
“Neste ano, em negociações com compradores do Reino Unido, tivemos que explicar que a produção da Famosa fica longe da Floresta Amazônica e que há toda uma preocupação ambiental na produção, mas o assunto não assusta muito o mercado quando se trata de fruticultura.”
Guilherme Coelho, presidente da Abrafrutas, que também está em Madri, concorda. Segundo ele, a escassez de contêineres está gerando um problema enorme para as exportações de todos os países, porque os navios carregados ficam na rota EUA-China e, quando há suspeitas de Covid no porto, chegam a ficar estacionados nos terminais chineses por até 22 dias em vez dos sete normais. “Um frete que custava US$ 4 mil agora não sai por menos de US$ 8 mil. Além disso, a pandemia parou a produção dos grandes navios na China e as novas embarcações só devem ir para a água em 2023.”
De janeiro a agosto, o agronegócio brasileiro exportou US$ 83,6 bilhões, sendo US$ 440,1 milhões em frutas. Vários setores relatam perdas pela falta de contêineres. Só a cadeia do café estimou uma perda de US$ 500 milhões na receita entre maio e agosto.
No final de agosto, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), apoiada por entidades do agronegócio, enviou ofício ao ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, pedindo ações de curto prazo para solucionar a falta de contêineres e navios para exportação dos produtos brasileiros. A entidade alegou que um grande número de navios estava parado nos portos e que o comércio global estava na mão de apenas cinco armadores, “o que dificulta a prática do livre mercado e a busca por alternativas e diálogos que mitiguem tais impactos”.
A entidade sugeriu, no médio prazo, ações que permitam a entrada de novos armadores para operar no Brasil ou a criação de incentivos para que os armadores garantam mais contêineres ao país.
Feira
Para Barcelos, o formato presencial da feira de Madri é uma grande oportunidade de relacionamento e prospecção de negócios para as novas safras. “Houve feiras virtuais, mas nada substitui apertar a mão, o olho no olho para quem está comprando ou vendendo um produto.”
O que ele lamenta é que, por causa dos protocolos sanitários de Covid, que incluem uso obrigatório de máscara, a degustação foi proibida. “Uma feira de frutas sempre tem muita degustação para apresentar os produtos. Infelizmente, neste ano não temos isso.”
Barcelos e Coelho admitem que o público está bem menor neste ano do que em outras edições do evento, mas, levando em consideração as circunstâncias, a frequência foi boa nos dois primeiros dias. Cerca de 30 produtores brasileiros estão recebendo clientes no estande do Brasil, que tem 128 m², e foi montado em uma parceria entre a Abrafrutas e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil).