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Porta-enxerto de maracujazeiro UFERSA BRSRM 153, resistente à fusariose, registrado no MAPA, trouxe novos horizontes para produtores de maracujá de diferentes regiões do Brasil

Uma das espécies, coletadas no próprio campus da UFERSA, Mossoró-RN e em outras regiões do Semiárido, apresentou grande potencial tendo em vista a resistência à fusariose

Uma pesquisa desenvolvida ao longo de 20 anos pelo professor e pesquisador Eudes de Almeida Cardoso da Universidade Federal Rural do Semi-Árido-UFERSA, e pelo pesquisador  Fábio Gelape Faleiro da Embrapa Cerrados, juntamente com suas equipes multidisciplinares, resultou na obtenção de um porta-enxerto resistente à fusariose que foi   registrado no Ministério da Agricultura com a denominação “UFERSA BRSRM 153”.

A pesquisa – Entendendo o grande desafio encontrado para expansão do cultivo dessa frutífera, devido à fusariose, causada pelo fungo Fusarium oxysporum f. sp. passiflorae e à podridão do colo, causada pelo fungo Fusarium solani, que habitam o solo e atacam o sistema radicular e vascular da planta, provocando a sua morte ainda nos primeiros meses de plantio, resolveram, pesquisar espécies de maracujazeiros silvestres que fossem tolerantes ou resistentes para serem usadas como porta-enxertos e amenizar o sofrimento de produtores, uma vez que não existem cultivares comerciais de maracujazeiro resistentes a essas doenças, nem produtos químicos ou biológicos eficientes para o controle da doença.

Muda de maracujazeiro “Sol do Cerrado”, enxertado sobre o porta enxerto “UFERSA BRSRM 153. Viveiro CitruSol, Baraúna, RN. 2024

Uma das espécies, coletadas no próprio campus da UFERSA, Mossoró-RN e em outras regiões do Semiárido, apresentou grande potencial tendo em vista a resistência à fusariose. As investigações sobre esta espécie foram aprofundadas com relação à taxonomia, biologia floral, germinação de sementes, compatibilidade copa e porta-enxerto, resistência a doenças, desenvolvimento vegetativo e reprodutivo. A espécie foi identificada como Passiflora foetida L. e revelou todos os atributos que eram necessários para prosseguir com a investigação.

Autorizações para trabalhar com a espécie – Como a P. foetida é uma espécie nativa, foi necessária a obtenção de autorizações de acessos a recursos genéticos para as atividades de pesquisa científica, bioprospecção e desenvolvimento tecnológico na Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Mossoró, Rio Grande do Norte e na Embrapa Cerrados, Distrito Federal. Todas autorizações foram concedidas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e pelo Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN), e com a nova lei de acesso a recursos genéticos, foi feito o devido cadastro no Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético (SISGEN), com o número ACB 5230.

                        Fileira de pé franco e da direita enxertada

Parceria e metodologia do melhoramento – No ano de 2007, firmou parceria com a Embrapa Cerrados, Distrito Federal, na pessoa do pesquisador Fábio Gelape Faleiro, Dr. em Genética e Melhoramento e líder de uma rede de pesquisa nacional e internacional em maracujá.

A partir daí, foi estabelecido um plano de ação, envolvendo atividades de melhoramento genético tendo em vista o desenvolvimento de uma cultivar de porta-enxerto com resistência à fusariose e com garantia de origem genética. Para o desenvolvimento da cultivar foi utilizado o melhoramento genético convencional visando resistência à fusariose, aumento de produtividade e desempenho agronômico de mudas enxertadas utilizando cultivares de maracujazeiro (Passiflora edulis Sims) como copa, que é conhecido como maracujazeiro-amarelo na região Nordeste e nas demais, como maracujazeiro-azedo.

O método de melhoramento utilizado foi a seleção recorrente fenotípica e a realização dos primeiros ciclos de seleção e recombinação ocorreram no ano de 2008, utilizando acessos e populações da espécie silvestre Passiflora foetida L. que ocorriam naturalmente em áreas com histórico da fusariose no estado do Rio Grande do Norte. O melhoramento genético populacional, com eventos de recombinação e seleção foi realizado utilizando-se vários desenhos experimentais envolvendo a seleção massal entre e dentro de progênies de meio-irmãos. Matrizes e progênies superiores foram selecionadas e utilizadas na geração da nova cultivar.

Atividades da pesquisa – A execução das atividades de cruzamentos base, avaliação e seleção de matrizes e progênies superiores foram realizadas na UFERSA, Mossoró, Rio Grande do Norte e as atividades de avaliação inicial da nova cultivar foram também realizadas na Embrapa Cerrados, Distrito Federal, período em que o Professor Eudes, levou amostras das populações originais para análises de variabilidade genética, utilizando marcadores moleculares do DNA, realizados no Laboratório de Genética e Biologia Molecular da Embrapa Cerrados, Distrito Federal.

Estas análises revelaram variações genéticas entre e dentro das diferentes populações da espécie P. foetida. Isso significa que o desempenho agronômico incluindo a resistência à fusariose pode ser maior ou menor dependendo da população e do genótipo selecionado dentro da espécie, justificando os ciclos de seleção realizados no desenvolvimento da cultivar. As principais características dessa cultivar trabalhada no melhoramento genético em cada ciclo de seleção foram resistência à fusariose, alta produtividade, germinação de sementes, compatibilidade do porta-enxerto com cultivares copa do maracujazeiro e o desempenho agronômico das mudas enxertadas em relação às mudas obtidas por sementes.

Validação da cultivar – Após o desenvolvimento da cultivar, denominada “UFERSA BRS RM153”, foi iniciado o trabalho de validação em condições comerciais, em áreas com histórico da doença no estado do Rio Grande do Norte com o cultivo do maracujazeiro enxertado sobre a cultivar de porta-enxerto. No ano de 2012, plantas de maracujazeiro enxertadas e não enxertadas foram cultivadas em solo com histórico da doença em áreas experimentais do Departamento de Ciências Agronômicas e Florestais e na fazenda “Rafael Fernandes” da Universidade Federal Rural do Semi-Árido em Mossoró, RN. Após seis meses de avaliações, constatou-se que não houve registro de incidência da doença nas plantas enxertadas, ao contrário, 78% das plantas que não foram enxertadas, propagadas por sementes, tinham morridas em consequência do ataque da doença.

Frutos de maracujazeiro provenintes de plantas formadas por mudas enxertadas no porta-enxerto UFERSA BRSRM 153

Para complementar essas observações, amostras do tecido radicular foram enviadas ao Laboratório de Microbiologia e Fitopatologia da UFERSA para que se fizesse a identificação real da doença, que confirmou a doença fusariose nas plantas mortas de maracujazeiro, o que assegurou todas as observações feitas pelo Prof. Eudes, em nível de campo, no decorrer da pesquisa, sobre o diagnóstico da doença.

Em seguida, amostras do tecido radicular também foram enviadas para o Laboratório de Fitopatologia da Universidade Federal de Lavras-UFLA, MG, para identificação da espécie de Fusarium causadora da doença, constatando que a espécie era o Fusarium oxysporium f. sp. passiflorae e uma dissertação de mestrado da aluna Érica da Silva Barreto, intitulada ‘Reação do porta-enxerto “UFERSA BRS RM153” e da cultivar  copa “Redondo Amarelo-amarelo” a  seis isolados de Fusarium oxysporum f. sp passiflorae‘. Esses isolados do fungo Fusarium foram coletados de microrregiões do Nordeste brasileiro, concluindo assim, a abrangência da resistência da cultivar de porta-enxerto” UFERSA BRS RM153″.

Além da região Nordeste e da região do Cerrado do Planalto Central, as validações da cultivar de porta-enxerto  estão sendo ampliadas para estados da região Norte e Sudeste.

Utilização da cultivar – Além do uso como porta-enxerto do maracujazeiro, esta cultivar apresenta grande potencial de uso como planta medicinal. Extratos de plantas desta espécie apresentam atividades biológicas e farmacológicas relacionadas a ações analgésicas e antidiarreicas, suportando seu uso na medicina tradicional. Os resultados também demonstram que o extrato da planta possui atividades citotóxicas.

Vale reforçar que a cultivar “UFERSA BRS RM153” é uma seleção dentro da espécie P. foetida e que outros acessos de Passiflora foetida L. não apresentam as mesmas características morfológicas e agronômicas da cultivar estudada e registrada, incluindo a resistência à fusariose.

Nesse sentido, a aquisição de mudas enxertadas sem a devida comprovação de origem genética, ou seja, da cultivar de porta-enxerto ‘UFERSA BRSRM 153, com nota fiscal e termo de conformidade poderá sofrer penalidades, tanto por parte de quem vende como de quem compra, inclusive com apreensão e destruição das mudas.

Além da resistência à fusariose, foi comprovado também na pesquisa, a tolerância à salinidade e ao estresse hídrico e que as características físico-químicas da fruta não foram afetadas pela influência do porta-enxerto.

Finalização tecnológica – Para a finalização tecnológica da nova cultivar de porta-enxerto, foi feito pela EMBRAPA, o processo de qualificação da cultivar com base na atuação de equipes multidisciplinares dos projetos “Caracterização e uso de germoplasma e melhoramento genético do maracujazeiro auxiliado por marcadores moleculares” e “Desenvolvimento tecnológico de passifloras silvestres – PASSITEC”, Secretaria de Inovação e Negócios, Comitê Local de Propriedade Intelectual, Núcleo de Comunicação Organizacional, Coordenadoria Administrativa de Suporte à Inovação e Chefia de Transferência de Tecnologia.

Registro da cultivar – Com base nos resultados positivos do desempenho agronômico, a cultivar foi registrada no Registro Nacional de Cultivares sob número 54598 de 18/07/2023 no Ministério da Agricultura e Pecuária.

Viveiros no Brasil –  Atualmente, o único viveiro no Brasil (foto acima) que está comercializando mudas de maracujazeiro enxertadas sobre o porta-enxerto “UFERSA BRSRM 153”, resistente à fusariose e registrado no Ministério da Agricultura é o viveiro CitruSol, localizado no município de Baraúna, Rio Grande do Norte, que mantém um campo de produção de sementes do porta-enxerto, inscrito no Ministério da Agricultura.

O empresário Marcos Vinícius Miguel de  Oliveira, proprietário do viveiro CitruSol, que também é produtor de maracujá, frisa que a região do Oeste Potiguar (RN), a mais de 20 anos não produzia mais maracujá em consequência da doença fusariose e que com a tecnologia de mudas enxertadas sobre o referido porta-enxerto, áreas antes  ocupadas com a cultura do melão  estão sendo exploradas com a cultura do maracujazeiro.

Após 20 anos de pesquisas, a obtenção e utilização dessa nova cultivar de porta-enxerto “UFERSA BRS RM153” trouxe novos horizontes para os produtores de maracujá de diferentes regiões do Brasil, que poderão cultivar e expandir a cultura, mesmo em áreas com ocorrência de fusariose.  *Professor Eudes de Almeida Cardoso/UFERSA/Mossoró/RN – Tel: (84) 98828-5000 – eudes@ufersa.edu.br 

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