Biogás será produzido a partir de efluentes gerados no processamento de laranjas e limões, como os resíduos da lavagem das frutas. (Foto – Divulgação)
A multinacional francesa Louis Dreyfus Company (LDC) deu início, na terça-feira (11), à construção da maior usina de biogás do mundo produzida a partir de resíduos cítricos.
A nova planta está sendo erguida em Bebedouro, no interior de São Paulo, onde a empresa mantém sua principal indústria de suco de laranja. O valor do investimento não foi divulgado.
Com capacidade para processar 390 metros cúbicos por hora de resíduos da indústria de sucos, a usina poderá gerar até 7 milhões de metros cúbicos normais de gás por hora (Nm³/h) em um período de dois a três anos.
O biogás será produzido a partir de efluentes gerados no processamento de laranjas e limões, como os resíduos da lavagem das frutas.
A LDC estima reduzir em 50% o consumo de combustíveis fósseis e prevê que a unidade de Bebedouro possa atingir autossuficiência energética com a nova tecnologia.
O projeto utiliza um inóculo biotecnológico inovador para decompor a carga orgânica dos resíduos cítricos e gerar biogás, reduzindo em mais de 20% a emissão de CO₂ da planta industrial. Após o tratamento, 100% da água será devolvida aos recursos hídricos.
A nova unidade ocupará uma área de aproximadamente 195 mil metros quadrados e terá capacidade para tratar cerca de 400 m³/h de efluentes cítricos, produzindo mais de 50 mil Nm³/dia de biogás. A conclusão da obra está prevista para o primeiro semestre de 2026.
Compromisso ambiental e inovação na citricultura
Segundo Paulo Hladchuk, Head Global da Plataforma de Sucos da LDC, a iniciativa faz parte da estratégia da companhia para descarbonizar a cadeia produtiva.
“Esse projeto reforça nosso compromisso global com a redução de CO₂ na atmosfera e o desenvolvimento sustentável da citricultura no Brasil. Cada detalhe da nova planta foi planejado para maximizar impactos ambientais positivos e otimizar o uso de recursos naturais”, afirmou.
A companhia envolveu especialistas da América Latina para desenvolver um projeto-piloto antes da implementação. Juliana Pires, Head Global de Indústria e Qualidade da LDC, explica que foram realizados testes com diferentes inóculos para avaliar a eficiência da decomposição dos resíduos cítricos.
“Adotamos critérios rigorosos de viabilidade e conseguimos superar em até 15% a meta estipulada para a redução da carga orgânica nos efluentes”, destacou.
LDC na citricultura global
A Louis Dreyfus Company está entre as três maiores empresas do mundo no processamento e comercialização de sucos cítricos e lidera as exportações brasileiras de sucos de limão tahiti e siciliano.
A operação da empresa inclui 30 mil hectares de pomares de cítricos, três fábricas de suco, um terminal portuário no Porto de Santos e outro em Ghent, na Bélgica, todos seguindo padrões socioambientais internacionais.
Além de sucos concentrados (FCOJ) e não concentrados (NFC), a empresa comercializa ingredientes naturais, como óleos essenciais, terpenos e casca seca para indústrias de alimentos, bebidas, química e farmacêutica.
Incentivo à energia renovável no agronegócio paulista
A nova usina de biogás se alinha às políticas ambientais do governo de São Paulo, que lançou, em 2024, regulamentações para a produção de biogás e biometano em propriedades rurais.
A iniciativa abrange diversas atividades do agronegócio, como avicultura, suinocultura, bovinocultura, frigoríficos e abatedouros.
O secretário de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, Guilherme Piai, ressaltou a importância do investimento.
“Essa será a primeira planta do Brasil a produzir biocombustíveis a partir do processamento da laranja. O investimento de milhões de dólares reforça a segurança jurídica e a inovação no setor agrícola paulista”, afirmou.
O setor citrícola é um dos motores da economia do estado. Na safra 2023/2024, gerou 45.112 empregos, um aumento de 10% em relação ao período anterior.
O suco de laranja representa 15,5% das exportações do agronegócio paulista, somando US$ 334,41 milhões, com 99% desse valor correspondente ao suco de laranja.
Controle do greening avança em São Paulo
Além dos investimentos em biocombustíveis, São Paulo intensificou as ações contra o greening, doença que ameaça a citricultura global. Em 2024, a incidência da praga caiu 54% no cinturão citrícola paulista, segundo o Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus).
Desde 2023, a Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA) retirou de circulação mais de 40 mil mudas irregulares, incluindo plantas com suspeita da doença.
Fonte: AgrofyNews