O Brasil, que já foi o maior produtor de cacau do mundo, tem agora um longo caminho para retomar a competitividade, uma vez que a produção nacional total gira em torno de 200 mil toneladas, mas precisa de mais de 300 mil toneladas para ser autossustentável. Diversas iniciativas estão sendo realizadas para se alcançar um aumento na produção, já que o país ambiciona chegar a 400 mil toneladas em 2030.
Parte dessa retomada passa pelo cultivo de áreas não tradicionais, como São Paulo e Minas Gerais. Para compreender como será o protocolo de cultivo em solos paulistas, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) divulgou, nesta semana, a aprovação de projetos no edital Centros de Ciência para o Desenvolvimento (CCD). Dentre os projetos aprovados está o “Cacau 360”, que será coordenado pela Diretoria de Pesquisas dos Agronegócios (APTA), através do Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL).
“Este projeto é inédito, tanto em seu tamanho, quanto pelo propósito de integração de diversos institutos que vão avaliar todo o protocolo de cultivo da cacauicultura paulista. Dentre as participantes estão a Diretoria de Assistência Técnica Integral (CATI), USP, Unicamp, ESALQ, UFSCar, Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC), Instituto Biológico (IB) e Instituto Agronômico de Campinas (IAC), com o objetivo de promover a integração e colaboração em pesquisas”, afirma Valdecir Luccas, pesquisador do ITAL.
O pesquisador destaca o grande potencial de São Paulo para se tornar um produtor significativo de cacau. Essa projeção faz parte do plano nacional de diminuir a dependência do cacau importado e, eventualmente, retomar a participação brasileira nas exportações globais. Segundo o pesquisador do ITAL, o projeto “Cacau 360” é o caminho para alcançar esses objetivos, pois o foco da pesquisa abordará diversos pontos essenciais para toda a cadeia, visando impulsionar a produção, a produtividade e a comercialização de produtos.
“O projeto abrange cinco plataformas: agronômica (incentivo ao cultivo em São Paulo), processamento (fermentação), coprodutos (extração de compostos bioativos), aplicação em alimentos (desenvolvimento de produtos) e suporte (avaliação de toxicidade). O objetivo final é levar um produto ao consumidor, com entregas de MVPs (produtos mínimos viáveis) ao longo dos cinco anos de duração”, explica Luccas.
Luccas ressaltou que o papel do ITAL será na transformação da amêndoa de cacau em produtos de qualidade. Esse processo abrange desde a avaliação microbiológica e físico-química das amêndoas até a otimização da torração, a extração da manteiga de cacau e a formulação de chocolates.
“Também realizaremos a capacitação de produtores e fabricantes de chocolate”, complementa.
Já o Instituto Biológico contribuirá com estudos sobre o controle de pragas e doenças, enquanto o Instituto Agronômico (IAC) será fundamental no desenvolvimento de novos clones de cacau. A APTA Regional, por sua vez, dedicar-se-á ao estudo e à replicação de clones de alta qualidade já presentes em plantios no Vale do Ribeira.
“Temos variedades, como o CCN 51 e o PS 1319, que já apresentaram bom desempenho nas condições de São Paulo. Queremos agora identificar e evoluir em novas variedades para assim evitar problemas por falta de diversidade genética”, argumenta o pesquisador.