Iniciativas envolvem propriedades rurais e espaços da região onde se processa produtos agrícolas após a colheita

O Sebrae está à frente de dois projetos voltados à qualificação de produtores rurais e empresas do setor frutícola para o mercado internacional. As ações buscam preparar propriedades e packings (pavilhões onde se processam produtos agrícolas após a colheita) para atender às exigências de certificações e padrões técnicos requeridos por importadores estrangeiros.
Um dos projetos, desenvolvido em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e a Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), tem foco na preparação para exportação de frutas. Segundo a gestora de projetos do Sebrae Serra Gaúcha, Angélica Brandalise, o objetivo é estruturar toda a cadeia, desde o produtor até os centros de classificação, para que estejam prontos a atuar em mercados externos.
— O trabalho envolve desde a formação de preço de venda para o mercado exportador até a adequação das propriedades e packings às certificações exigidas, como GlobalG.A.P. (sigla em inglês para Boas Práticas Agrícolas Mundiais) e Halal (palavra árabe que significa “permitido” ou “lícito” e refere-se a práticas e produtos que são aceitáveis de acordo com a lei islâmica), por exemplo. Também inclui o desenvolvimento de materiais em outros idiomas, planejamento logístico e criação de sites para divulgação — explica Angélica.
O projeto reúne propriedades e empresas com potencial de exportação. As primeiras atividades começaram neste segundo semestre e devem ter reflexos já na próxima safra, quando os participantes poderão iniciar as primeiras operações de exportação.
— O que estamos fazendo é preparar essas propriedades e empresas para que, quando chegar a próxima safra, elas já possam atender às exigências do mercado internacional e concretizar negócios — afirma a gestora.
Angélica destaca ainda que o grupo está em plena fase de preparação para a exportação, com ações práticas realizadas nas últimas semanas. Segundo ela, na última semana ocorreu um pitch internacional de vendas (apresentação rápida de ideias), no qual os produtores e representantes dos packings apresentaram simulações de negociação — ainda falando em português — diante de um especialista em comércio internacional convidado pelo Sebrae.
— Ele trabalha muito com exportação para vários países, e o pessoal apresentou o pitch, cada um tinha o seu horário, e ele fez algumas observações e sugestões para eles melhorarem a apresentação. Então, o pessoal realmente está buscando essa preparação — comenta.
Zanette Frutas lidera grupo de 17 produtores rumo à certificação internacional

A Zanette Frutas, de Caxias do Sul, integra o projeto do Sebrae com um grupo de 17 produtores parceiros que estão iniciando o processo de certificação para atender às exigências internacionais. Segundo a diretora da empresa, Kelin Zanette, a busca pela exportação surgiu após algumas safras marcadas por grande oferta de frutas no mercado interno.
— A gente percebe que tem uma oferta, uma concorrência muito grande aqui no Brasil, porque precisa vender essa fruta num pequeno período, num pequeno espaço de tempo — explica.
Com maior produção e dificuldade de manter preços, a exportação passou a ser vista como alternativa para agregar valor e reduzir a pressão da oferta interna.
O carro-chefe da empresa é o caqui, fruta em que o Brasil possui uma janela única de produção. Kelin destaca que isso abre espaço para exploração comercial em mercados que não conseguem produzir na mesma época. Antes de buscar o Sebrae, a empresa já havia tentado acessar compradores estrangeiros, mas encontrou uma barreira imediata: a exigência de certificações, especialmente para o mercado europeu, como a GlobalG.A.P.
— É um selo reconhecido mundialmente. Nada mais é do que boas práticas: ambiente limpo, defensivos usados de forma responsável, sustentabilidade, bem-estar das pessoas que trabalham — explica.

Com o apoio do Sebrae, a empresa estruturou um grupo de produtores que agora estão iniciando a certificação Local G.A.P., enquanto o packing da Zanette busca a certificação GlobalG.A.P. A diretora destaca que o processo é longo, envolve mudanças culturais e demanda registro minucioso de tudo o que é feito no campo.
Após visitas técnicas e diagnóstico das propriedades, o processo segue para adequação dos locais de armazenamento dos produtos usados nos pomares, seguindo regras específicas de ventilação, estrutura e segurança. Em paralelo, os produtores vão organizar o caderno de campo, onde registrarão todas as atividades de manejo.
A escolha dos 17 participantes considerou, além do perfil produtivo, a presença de sucessores nas propriedades.
— O produtor vai investir se ele vê que vai ter segmento naquilo. Por isso selecionamos propriedades onde se percebe sucessão familiar — diz Kelin.
Embora não sejam obrigados a vender para a empresa, esses agricultores são parceiros que entregam as frutas para classificação e comercialização no packing da Zanette Frutas.
A empresa, que é referência na comercialização de caqui, pêssego e ameixa, projeta ampliar a presença internacional com frutas que ainda são pouco exploradas na exportação. No momento, o mercado que mais interessa é o dos Emirados Árabes Unidos.
A Zanette já exporta há cerca de seis anos para países da América do Sul e, nos últimos três anos, fez envios para a Europa. Para a próxima safra, a expectativa é começar a testar o mercado canadense.
— A gente costuma dar passos, não saltos. Vamos fazer experiências, não grandes volumes, porque ainda precisamos conhecer bem o mercado e entender todas as regras do país — afirma.
Silvestrin integra projeto que mira aumento das exportações de frutas

Além desse projeto amplo, o Sebrae desenvolve uma ação conjunta com a empresa Silvestrin, que envolve 10 produtores rurais indicados pela companhia. O foco é o mesmo: adequar as propriedades às normas e boas práticas exigidas para a certificação GlobalG.A.P., uma das principais referências internacionais em segurança e sustentabilidade na produção de alimentos.
— Essa parceria é exclusiva entre o Sebrae e a Silvestrin. Cada um aporta 50% dos recursos necessários para a execução das consultorias e adequações. A equipe técnica do Sebrae está visitando as propriedades indicadas para aplicar checklists, orientar correções e preparar os produtores para a auditoria externa que garante a certificação — detalha Angélica.

O trabalho teve início no fim de setembro e ainda está em fase inicial. A expectativa é que, no próximo ano, as propriedades participantes possam passar pela auditoria e receber a chancela do GlobalG.A.P., ampliando as oportunidades de negócios no Exterior.
— O objetivo é que esses produtores estejam prontos para conquistar a certificação e, assim, possam atender com segurança o mercado exportador de frutas — destaca a gestora.
O diretor-geral da Silvestrin Frutas, Daniel Silvestrin, explica que a iniciativa nasce da própria história da empresa, formada por uma família de produtores e que hoje mantém contato direto com mais de 350 agricultores da região. Segundo ele, o desafio é “levar essa produção para os melhores mercados”, e a exportação surge como alternativa importante para algumas culturas.
— Através dessa parceria com o Sebrae, a gente conseguiu achar uma solução que pode proporcionar a evolução das técnicas. O Sebrae tem bastante conhecimento nessa parte de certificação e normatização com as novas tendências mundiais para o campo. Entre elas, o uso responsável de defensivos, o cuidado com os trabalhadores, as boas práticas de cultivo e a preservação ambiental — afirma.
Os 10 produtores selecionados para esta primeira etapa trabalham com caqui — cultura considerada pela empresa como a mais promissora para exportação neste momento. A escolha levou em conta dois fatores: o potencial da fruta para acessar novos mercados e o perfil dos agricultores envolvidos.
— A gente selecionou produtores que querem evoluir, querem se adequar e têm um volume condizente para justificar os investimentos, porque alguns ajustes precisam ser feitos no campo — explica o diretor.

As propriedades já começaram um processo de correções e melhorias, orientado pelas visitas técnicas do Sebrae. As adequações incluem desde infraestrutura para armazenamento e destinação correta de resíduos até o uso apropriado de EPIs e o preenchimento rigoroso das cadernetas de campo, onde são registrados todos os manejos realizados no pomar.
Segundo Silvestrin, esses registros são essenciais para atender às normas legais e às exigências dos mercados importadores, especialmente o europeu, que trabalha com rastreabilidade completa das frutas.
— Se encontrar qualquer inconformidade lá no destino, a gente tem até a obrigação de apresentar de onde esse produto saiu. Isso é importante para que o produtor não seja lesado e que os demais também não sejam prejudicados, porque uma inconformidade pode afetar o conjunto. Então essa organização precisa ser bem consistente — destaca.
A busca pela certificação, conforme o diretor, amplia significativamente as oportunidades de exportação, já que redes de supermercados na Europa só negociam com fornecedores que atendem integralmente aos protocolos internacionais.
Atualmente, a Silvestrin já faz envios para a Espanha, de onde a fruta segue para outros países europeus, além de comercializar regularmente para o Canadá e para a Argentina. Com a certificação, a empresa pretende fortalecer esses destinos, antes de buscar novos.
— No momento, esses mercados ainda têm espaço de crescimento bem significativo. A gente não quer capilarizar e abrir muitos países. O foco é dar consistência onde já estamos iniciando — conclui.
Fonte: Gauchazh



