A Tropical Vitivinícola, que atua no Vale do São Francisco, entre Pernambuco e Bahia, vai mais do que dobrar sua área de cultivo de uvas nos próximos cinco anos com os recursos de uma operação inédita na Região Nordeste. A empresa levantou R$ 26,5 milhões com a emissão de um Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA).
A empresa quer converter de 40 a 50 hectares por ano, elevando, com isso, a área de plantio de 187 para 500 hectares até 2028. A expansão deve adicionar 13 mil toneladas à colheita no período.
Entraram na composição do CRA várias Cédulas de Produto Rural (CPRs) da Tropical, baseadas na produção das variedades de uvas Isabel, Cora e Lorena. O Fiagro AZ Quest (AAZQ11), administrado pela XP Investimentos, comprou 100% do título, que tem rendimento de CDI mais 6,2% ao ano.
A operação terá um ano e meio de carência, com reembolsos mensais ao fundo depois desse prazo. As garantias foram imóveis da empresa localizados em Santa Maria da Boa Vista (PE) e recebíveis atrelados à colheita.
Henrique Colombo, do Grupo SWM, disse que o desenho da operação exigiu rodadas de conversas com os investidores e adaptações por parte da Tropical. A missão, disse ele, foi facilitar a comunicação e detalhar as particularidades da produção de uvas no Nordeste para o mercado de capitais.
“O investidor já conhecia o processo de produção das vinícolas do Sul do país, mas precisou entender como funciona o setor na Região Nordeste, com fatores de produção diferentes”, disse Colombo. Essa foi a primeira aplicação do Fiagro no segmento de uva e vinhos.
A Tropical Vitivinícola produz uvas de variedades diferentes das cultivadas no Sul. A fruta é usada tanto para a produção de sucos como de frisantes, varietais e vinhos de mesa, bebidas que atendem o perfil do consumidor do Nordeste do país. Apenas 15% dos produtos são enviados para outras regiões do Brasil. O restante é distribuído em redes de hotéis e supermercados nordestinos.
A estratégia ajuda a reduzir os custos da empresa. As terras não são supervalorizadas como as do Sul, o que ajuda na conversão para área de produção, e o uso da irrigação garante até três colheitas por ano. Esses foram os atrativos da operação, pontuou Colombo.
“Apesar de a margem ser menor, a produção traz resultados melhores e mais eficientes. Com isso, o retorno aos investidores é mais rápido”, destacou.
Para a Tropical Vitivinícola, a emissão do CRA foi uma alternativa a financiamentos mais caros. Entre 2021 e 2023, a empresa investiu R$ 40 milhões com capital próprio e retorno de operação, mas precisava de mais.
Os recursos do CRA ajudarão a Tropical a saldar seus débitos anteriores e a investir na expansão de área e produção.
“A emissão foi extremamente benéfica à companhia. Conseguimos alongar nosso fluxo de caixa, diminuir nossos custos e melhorar nossa estrutura de capital. Além disso, vimos melhora da percepção do mercado bancário tradicional sobre nossa companhia”, afirmou Rodrigo Fabian, sócio da empresa.
Segundo ele, com a melhora da percepção de risco das instituições financeiras sobre a empresa, abrem-se possibilidades para financiamentos mais baratos e de maior escala.