Diretor-executivo da entidade, Eduardo Brandão, revelou que setor enfrenta um cenário misto de desafios e oportunidades
Brandão também apontou alguns avanços após encontro com Lula no início do ano, incluindo a expansão dos mercados internacionais (Foto – Divulgação)
O setor de fruticultura brasileira enfrenta um cenário misto de desafios e oportunidades. As queimadas descontroladas e uma seca histórica preocupam, mas o otimismo predomina com a chegada do “pico das exportações”, de acordo com Eduardo Brandão, diretor-executivo da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas (Abrafrutas).
Apesar dos desafios climáticos, a fruticultura tem demonstrado resiliência. O setor projeta um crescimento de cerca de 5% nas exportações de frutas em 2024, tanto em volume quanto em valor.
Em 2023, o Brasil alcançou um recorde histórico com exportações superiores a 1,2 bilhão de dólares. Em entrevista ao Agrofy News, Brandão destaca que o segundo semestre do ano é crucial, concentrando o pico das exportações a partir de agora.
“Nunca antes na história da fruticultura foram abertos tantos mercados internacionais. Em 2023 e 2024, a fruticultura brasileira abriu mais de meia dúzia de mercados e tem mais de 10 em andamento, com perspectivas promissoras”, afirma o diretor.
Avanços no mercado internacional
A abertura de novos mercados internacionais é um ponto de destaque para a fruticultura brasileira. A exportação de abacates para o Japão é um exemplo recente de sucesso, explica.
Segundo Brandão, o setor está otimista com a diversificação de mercados e parcerias, com novas oportunidades surgindo na Ásia e nos Emirados Árabes Unidos.
Impactos climáticos e monitoramento
O fator clima trouxe desafios que afetaram diversos setores agrícolas. No entanto, a fruticultura tem sido impactada em menor grau, de acordo com ele, comparado a outras culturas, como grãos e cana-de-açúcar.
Embora haja previsão de redução na safra de algumas frutas, como laranja e limão, especialmente em São Paulo, “os danos ainda não foram confirmados de forma significativa.”
A Abrafrutas está realizando um monitoramento sistemático em cerca de 30 regiões do país para orientar os produtores e minimizar os prejuízos. Este acompanhamento visa mitigar os efeitos adversos e garantir a continuidade da produção.
Brandão também aponta a questão da fumaça como um fator de alerta: “A fumaça dos incêndios e as secas podem impactar a produtividade de muitas frutas, o que pode afetar o preço ao consumidor final, especialmente no mercado interno.”
Encontro com o presidente Lula
Em março de 2024, a Abrafrutas, junto com outros representantes do setor, se reuniu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para discutir o impacto da fruticultura no Brasil e apresentar demandas para o governo. Durante o encontro, foram abordadas questões como políticas públicas para a fruticultura, geração de empregos e abertura de novos mercados.
Desde então, a Abrafrutas tem trabalhado com os Ministérios e observado alguns passos à frente, incluindo a expansão dos mercados internacionais para frutas brasileiras.
“A gente tem conseguido avanços significativos. Basta ver a questão da abertura de mercados, que atingiu recordes”, ressalta Brandão.
Brandão destaca que o uso de tecnologia tem contribuído para a melhoria da produtividade e da qualidade das frutas exportadas.
“A fruticultura não apenas melhora a qualidade de vida nas áreas onde é cultivada, mas também promove avanços tecnológicos significativos”, conclui o diretor executivo da Abrafrutas.
Ele também reforça a importância de promover o consumo de frutas, tanto no mercado interno quanto externo, para garantir a sustentabilidade e o crescimento contínuo do setor.
Confira a entrevista na íntegra sobre o momento do setor:
Qual a perspectiva sobre o atual momento do setor frente às mudanças climáticas, incêndios, seca? O Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus) cortou em 7,1% sua estimativa para a colheita de laranja no cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo Mineiro, você teme uma safra menor para algumas frutas e prejuízos?
Eduardo Brandão: Nossa perspectiva em relação às mudanças climática, por exemplo, os incêndios e as secas que estão acontecendo no Brasil, em relação à fruticultura especificamente é que a cadeia produtiva da fruta tem sido afetada em menor grau até agora, diferente de outras culturas, como grãos, cana e outras culturas até pela questão da forma de plantio da fruta.
A gente não tem ainda dentro da Abrafrutas entre os nossos associados uma informação mais detalhada de pomares que foram queimados, causando prejuízos econômicos significativos ainda.
A gente tem informação da redução da safra de algumas culturas como a laranja no Estado de São Paulo, do limão também no Estado de São Paulo, a expectativa caiu um pouco da safra desse ano, mas não houve ainda uma sinalização dos produtores em campo para nós aqui da Abrafrutas apontando uma redução significativa que possa trazer para nós um dano econômico maior ou mesmo com áreas de produção de frutas que tenham sido afetadas diretamente pelo incêndio
A gente estima que com a questão da fumaça dos incêndios e das secas pode afetar de alguma forma grande das frutas na questão da produtividade, o que pode de alguma forma afetar o preço da fruta no consumidor final sobretudo no mercado interno.
O que a entidade tem feito para mitigar os possíveis prejuízos?
Eduardo Brandão: Em relação a essa situação, a entidade tem feito um trabalho de acompanhamento sistemático. Nem todas as regiões mais ou menos em 30 espalhadas por todo o Brasil, acompanhando e tentando de alguma forma orientar os produtores em relação a essa situação para que a gente possa mitigar os prejuízos que possam acontecer.
Este acompanhamento tem sido sistemático, mas volto a dizer que até o momento nada de tão significativo foi nos nos apontado até aqui em relação a prejuízos com a produção de frutas.
Recentemente, o Brasil abriu mercado para o abacate no Japão, como têm visto essas conquistas? Você está otimista?
Eduardo Brandão: A fruticultura de exportação do Brasil tem crescido nos últimos ano. Você citou que recentemente foi aberto o mercado do abacate, o avocado brasileiro, para o Japão. A gente tem tido resultados significativos com essas conquistas, nunca antes na história da fruticultura foram abertos tantos mercados nos últimos anos.
Em 2023, 2024 a fruticultura teve efetivada a abertura de mais de meia dúzia de mercados e estamos aí com mais de 10 mercados em andamento com perspectivas de abertura nos próximos meses.
Isso tem nos dado um otimismo muito grande porque a diversificação de mercados é importante hoje. A fruticultura exporta 70% do seu volume para União Europeia e a ideia é que está sendo preconizada internamente aqui na Abrafrutas entre seus associados, que se diga representa mais de 80% de toda a fruta exportada pelo Brasil, é diversificar mercado.
Em cima disso, a gente tem feito parcerias público privada e com Apex. É a busca dessas aberturas de mercado que tem tido a efetividade sobretudo em regiões como Ásia e Emirados Árabes Unidos. O abacate no Japão foi uma uma das nossas grandes conquistas, a gente tem uma perspectiva de que essa fruta possa dominar aquele mercado, haja visto que é os japoneses apreciam a nossa fruta e pagam bem por ela, então as perspectivas são as melhores possíveis.
Qual a perspectiva para o ano que vem para o setor de receita, safras e conquistas?
Eduardo Brandão: A fruticultura no ano passado é bom que se diga, teve uma produção interna de mais de 44 milhões de toneladas e o ano passado a gente teve o nosso recorde de exportação onde conseguimos chegar ao ponto de exportar mais de 1 bilhão e 200 milhões de dólares em receita de exportação de fruta. Isso para nós foi uma grande conquista e a gente acredita que esse ano a fruticultura brasileira na exportação possa pelo menos manter ou crescer algo em torno de 5% em cima desse total que foi exportado no ano passado.
A gente ainda não tem uma certeza em afirmar esse percentual de crescimento esperado porque o grande período de exportação de produção de frutas para exportação no Brasil é justamente no segundo semestre agora focado no terceiro, no quarto trimestre ou seja, outubro, novembro e dezembro é onde acontece o pico geral das exportações, mas a gente tem otimismo ainda de que a gente consiga ou igualar ou talvez subir algo em torno de 5% no volume e no valor exportado.
Até o momento, a gente conseguiu crescer mais de 9% no valor exportado houve uma redução de volume justamente porque no primeiro semestre a gente não tem essa exportação com um foco muito grande, mas a gente espera reverter isso e fechar esse ano com números positivos.
Em março, a Abrafrutas junto com outros representantes do setor esteve com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e passou algumas demandas para o governo. De lá para cá, o que avançou e o que falta avançar?
Eduardo Brandão: A Abrafrutas esse ano esteve no início do ano, em março, com o presidente da República, a convite do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva em uma audiência privada na Granja do Torto onde pudemos passar para o presidente informações sobre a pujança da fruticultura, o seu impacto socioeconômico no Brasil e levamos também demandas para que o governo possa voltar e priorizar políticas públicas para a fruticultura.
Algumas demandas em relação à questão dos empregos gerados, demanda das questões fitossanitárias, demandas da abertura de mercado, alguns pontos foram tratados com presidente e de lá para cá, a gente vem tratando é desses assuntos pontuais com, sobretudo com os Ministérios que estão afeitos a cada um desses problemas e a gente tem conseguido avanço significativos.
Basta ver a questão da abertura de mercado que como eu falei, volto a dizer, o Brasil nunca abriu tanto o mercado para fruticultura como agora. Isso a gente tem que destacar o empenho do governo sobretudo do Ministério da Agricultura, do ministério das Relações Exteriores, na Parceria com o setor privado para que a gente possa juntos conquistar cada vez mais no mercado externo.
Qual o balanço faz do ano até aqui para o setor e das medidas do governo?
Eduardo Brandão: O balanço do ano até aqui, podemos dizer sim que foi positivo, sobretudo na área de produção, a gente deve manter os 44 entre 44, 44 e meio milhões de toneladas produzidas. E como foi dito, a exportação deve ter um acréscimo no valor e volume algo em torno de 5%. Essa é a nossa expectativa.
Então o que a gente deixa aqui, voltando a dizer da importância da cadeia produtiva da fruticultura dentro do agronegócio brasileiro, como grande geradora de emprego e renda no campo e uma atividade que muda as áreas onde ela é plantada afetando diretamente a qualidade de vida das pessoas e dos seus trabalhadores e dos produtores melhorando diretamente o IDH das regiões onde a fruticultura é cultivada.
E onde ela é cultivada e exportada, além dessa melhora de IDH e da melhora da qualidade de vida das pessoas vinculadas a cadeia produtiva, também vem a parte de tecnologia, né?
Todas as áreas de produção voltadas para a exportação, a gente tem ganho de tecnologia significativa na fruticultura o que melhora a produtividade e qualidade das frutas exportadas.
E o que a gente deixa aqui para todos é que incentivem, comam mais frutas, fruta é saúde e buscamos cada vez mais aumentar o consumo per capita de frutas no Brasil.
Também buscamos a divulgação, o conhecimento e o aumento da do consumo de frutas no mercado externo, porque como grande geradora de emprego e renda quanto mais consumo tiver mais os impactos positivos socioeconômicos com cadeia produtiva da fruticultura.
Fonte: Agrofy