Na área da fruticultura, o Brasil é o terceiro maior produtor mundial, com cerca de 44 milhões de toneladas ao ano, sendo que quase a sua totalidade é direcionada ao mercado interno. Além disso, em 2020 o Brasil bateu recorde ao exportar mais de 1 milhão de toneladas de frutas.
Que precisamos de água para toda essa produção, você já sabe. Agora, você vai descobrir que a chuva é a maior fonte de água para a agricultura. E quando não chove, o que fazer? Para entender como os produtores lidam com desafios de excesso ou falta de chuva na fruticultura, fique com a gente.
O ciclo da água na fruticultura
As plantas precisam de água para se desenvolverem, e na fruticultura não é diferente. Por isso, para que cheguem em nossas casas frutos de cores vibrantes, grandes e saborosos, a água é essencial.
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Quando ingerimos esses alimentos, também estamos “comendo água”. É por isso que o nosso consumo de água é muito maior do que a quantidade que usamos para cozinhar, beber e para higiene.
Mas, por mais que se use muita água no campo, na produção agrícola ela entra num ciclo fechado. Em outras palavras, isso significa que ao ser utilizada ela volta para o meio ambiente.
O pesquisador e doutor em Engenharia de Sistemas Agrícolas Eusímio Felisbino Fraga Júnior explica que esse retorno acontece preferencialmente de três formas. Na Evaporação direta da água do solo à atmosfera; pela percolação, definida como o movimento da água no solo, da superfície para as camadas profundas, reabastecendo o lençol freático; e pela evapotranspiração, que é a água absorvida pela planta e que volta à atmosfera na forma de vapor d´água.
“A água utilizada na agricultura retorna ao meio ambiente por meio de evaporação, percolação e evapotranspiração. Dessa forma, a água pode atingir novamente a atmosfera, condensar e retornar ao solo na forma de chuva.” Dr. Eusimio Felisbino Fraga Junior – Professor e pesquisador – Universidade Federal de Uberlândia – UFU.
A água da chuva é a maior fonte para a fruticultura
Está correto dizer que a agricultura é um dos setores que mais utilizam água, mas também é certo afirmar que a maior parte dessa água utilizada vem da chuva. Seja de forma direta, quando a chuva cai do céu e molha as plantas, ou pela estocagem da água das chuvas em reservatórios.
Pedro Gonçalves, Produtor de hortaliças, em sua Fazenda. | Crédito: Laís Moreira
Isso faz com que muitos agricultores dependam exclusivamente da chuva para molhar seus cultivos. Por isso, a periodicidade e intensidade das chuvas (índices pluviométricos) em cada região é monitorada e consultada por agricultores há muito tempo.
Dessa forma, os produtores adaptaram seus plantios de acordo com os índices pluviométricos. Isso pois a ciência já identificou os períodos de desenvolvimento em que a água é mais importante para cada espécie de planta cultivada.
A ausência de chuvas acarreta problemas para a fruticultura
A água está diretamente relacionada com o desenvolvimento da maioria das frutas, uma vez que o florescimento das plantas se dá após uma certa intensidade de chuva. Portanto, a ausência de chuvas no período que antecede à colheita pode causar rachaduras, diminuição do tamanho e até mesmo a queda precoce das frutas. Esses fatores elevam o risco de produção e também o risco de mercado.
Pegando a citricultura como exemplo, nos meses de setembro e outubro as plantas demandam mais água, época em que os frutos iniciam a sua formação (para algumas variedades). A escassez de água nesse período também pode ocasionar a queda de flores.
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Por sua vez, na cultura do pessegueiro, o consumo de água pela planta aumenta na época de floração e começa a diminuir após o fim da polinização. Nesse período, a multiplicação das células vegetais é maior, sendo esse número de células o responsável por determinar o tamanho final dos pêssegos. Logo, a falta de água afetará diretamente o tamanho dos frutos. Que tal, conhecer os benefícios do pêssego, um fruto milenar?
Na produção de maracujá, caso haja falta de água no início do florescimento, o potencial produtivo do maracujazeiro será afetado. Lembre-se: não deixe o maracujá na feira, leve essa saborosa fruta para casa.
Já a biologia das bananeiras e do mamoeiro requer uma grande e constante disponibilidade de água no solo durante o ano todo. O consumo de água por ambas as plantas é elevado e a falta de água, mesmo que por um curto período, pode acarretar a morte de tecidos vegetais da bananeira, fazendo com que a planta morra. No caso do mamoeiro é comum haver queda das folhas, o que deixa os frutos expostos à radiação solar, resultando em queima.
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Plantas submetidas a falta de água também irão apresentar folhas amarelas, afetando sua capacidade de realizar fotossíntese (produzir energia) e ficando mais vulneráveis ao ataque de pragas e doenças.
“A água é colocada nas plantas a partir de técnicas comprovadas pelos agrônomos. Colocar mais ou menos água faz com que ocorra um desequilíbrio e pode causar prejuízos para a produção das frutas. Tudo é feito observando a necessidade das plantas.”
No entanto, o excesso de água também pode ser prejudicial, uma vez que alta umidade aumenta o aparecimento de doenças causadas por microrganismos. Por isso, o ideal mesmo é contar com a chuva em períodos em que a planta precisa de mais água e complementar a sua necessidade hídrica com tecnologia de irrigação. Para isso, é importante que o produtor saiba armazenar água.
A escassez de água no campo afeta o seu bolso
A disponibilidade de água é assunto sério na fruticultura. Nesse sentido, tanto o atraso no desenvolvimento dos mais diversos frutos como a baixa produção vão acarretar numa falta desses alimentos e seus derivados, além da elevação de seu preço.
Além disso, a falta de água diminui a qualidade dos frutos. Ou seja, você pode acabar pagando mais por um produto diferente do que você está acostumada a consumir.
Conheça tecnologias de armazenamento de água da chuva
As condições climáticas não são fixas e, com isso, a intensidade e períodos de chuva podem mudar de um ano para outro. Isso afeta negativamente a produção e qualidade das frutas e também das hortaliças.
Por isso, foram desenvolvidas tecnologias para o armazenamento de água de chuva. Tudo feito para aumentar a disponibilidade de água em períodos de escassez. Como por exemplo as cisternas, onde podem ser estocados grandes volumes de água.
“Água da chuva é muito importante para encher os açudes que servem de reservatório de água para as hortaliças da fazenda em períodos menos chuvosos.”
Em algumas regiões é a adoção dessas técnicas que permitem a produção de hortifruti fora de sua época.
Dessa forma, políticas públicas como o programa Uma Terra e Duas Águas (P1 +2) e o Um Milhão de Cisternas (P1MC), tem por objetivo entregar cisternas com a capacidade de armazenar até 52 mil litros de água e assim reduzir os riscos de produção.
Outra tecnologia utilizada pelos agricultores para guardar água da chuva é o “Sistema Barraginha”, que consiste em abrir miniaçudes (buracos) em pontos estratégicos do relevo de modo que cada um colete volumes significativos de água de enxurrada. Os miniaçudes disponibilizam água para lavouras próximas, conservam o solo e também funcionam como eficientes repositórios de água para o lençol freático.
Existe também a barragem subterrânea, uma tecnologia de captação e armazenamento de água de chuva milenar. Esse sistema impede que a água da chuva escorra, segurando-a e fazendo com que ocorra acúmulo e elevação do nível da água dentro do solo. Adotando esse tipo de tecnologia é possível manter o solo úmido por até 5 meses depois da época chuvosa.
Ainda pensando sobre o armazenamento e melhor uso de água, o melhoramento genético de plantas pode ser utilizado para selecionar genes que levam às características de tolerância à seca. Nesse caso, é a planta que “aprende” a fazer o uso mais eficiente da água, diminuindo o consumo durante o seu desenvolvimento. Essas novas cultivares podem ser plantadas em regiões com limitações de água, principalmente onde se pratica agricultura de sequeiro, ou seja, sem irrigação.
Por fim, a disponibilidade adequada de água para as plantas proporciona um crescimento igual para todo o pomar, fazendo com que os frutos também se desenvolvam de forma sincronizada. O produtor produzirá mais e terá mais facilidade durante o processo de colheita, armazenamento e transporte. Enquanto isso, o consumidor receberá frutos de melhor qualidade. Ou seja: vantagens para todos!
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Principais fontes
Abrafrutas. Dados de exportação 2020. Disponível em: https://abrafrutas.ultramidia.com.br/2021/02/dados-de-exportacao-2020/. Acesso em 10/03/2020.
Embrapa. Ciência que transforma – Frutas e hortaliças. Disponível em: https://www.embrapa.br/grandes-contribuicoes-para-a-agricultura-brasileira/frutas-e-hortalicas. Acesso em 10/03/2021.
Embrapa. Coleção 500 perguntas, 500 respostas. Disponível em: https://mais500p500r.sct.embrapa.br/view/index.php. Acesso em: 10/03/2021.
Embrapa. Desafios da Produção de Frutas e Hortaliças Frente aos Extremos Climáticos. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/170421/1/Parte-2-cap-1-Desafios-da-producao-de-frutas….pdf. Acesso em: 10/03/2021.
Fonte: Hortifruti Saber e Saúde