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Roberto Rodrigues: Desafios e oportunidades da fruticultura

COLUNA

O agronegócio brasileiro exportou US$ 900 milhões foram em frutas em 2020

Este interessante ramo da agricultura tem um comportamento bastante peculiar: o Brasil é o terceiro maior produtor mundial de frutas, perdendo apenas para China e Índia. No entanto, somos o 24º exportador, uma posição bem modesta diante do nosso potencial.

No ano passado, produzimos 40 milhões de toneladas de frutas (no valor de R$ 36 bilhões), mas exportamos pouco mais de 1 milhão de toneladas, só 2,5% da produção. O agronegócio brasileiro exportou US$ 100,8 bilhões em 2020, dos quais cerca de US$ 900 milhões foram em frutas, isto é, menos de 1%.

Essa é uma atividade nobre do ponto de vista socioeconômico, porque, embora existam algumas poucas grandes empresas, os produtores individuais são pequenos e têm renda razoável. São cultivados 2,5 milhões de hectares com frutas no Brasil, gerando 5 milhões de empregos, ou seja, dois empregos por hectare. Para mera comparação, a soja emprega uma pessoa para 200 hectares plantados.

“São cultivados 2,5 milhões de hectares com frutas no Brasil, gerando 5 milhões de empregos, ou seja, dois empregos por hectare.”As principais frutas exportadas em valor, em 2020, foram: mangas, melões, uvas, limões, melancias, mamões, maçãs e bananas.

Internamente, a comercialização é feita com 53% de frutas in natura (chamadas frutas frescas) e 47% com frutas processadas (sucos, geleias, doces, compotas).

Mesmo consumindo internamente 97,5% da nossa produção, ainda somos o 9º país em consumo de quilos de frutas/capita/ano, com 57 quilos. Estamos atrás de Espanha, Itália e Alemanha, França, Holanda, Canadá, Reino Unido e Japão.

Exportamos, por exemplo, menos uvas do que o Chile e menos bananas do que o Equador. O Peru, por sua vez, tem uma história recente muito curiosa: no ano 2000, exportou US$ 100 milhões e o Brasil, US$ 500 milhões, cinco vezes mais. Em 2018, o Peru exportou US$ 2,6 bilhões e nós, somente US$ 900 milhões. Em 18 anos, eles aumentaram 26 vezes, enquanto o Brasil nem sequer dobrou as exportações.

O que explica essa pequena participação brasileira no mercado mundial de frutas, se temos um território enorme que comporta muitas diferentes espécies e variedades frutíferas de alta qualidade e sabor excepcional? Afinal, o mundo todo nos conhece também pelo sabor e pelas cores das frutas que produzimos, um tema que faz parte do DNA da nossa “marca país”.

Segundo a Abrafrutas (Associação Brasileira de Produtores e Exportadores de Frutas), existem razões de ordem cultural e outras demandantes de políticas públicas. Entre as primeiras, está nosso gigantesco mercado interno que consome a maior parte da produção, e sem o mesmo nível de exigência de qualidade que têm os consumidores de países mais ricos. Ademais, os pequenos não têm escala para exportar e sentem dificuldades com outras línguas, como inglês. Uma solução para isso seria a criação de cooperativas que oferecessem tecnologia e crédito aos associados, além de gerarem a escala para exportação e até a industrialização, agregando valor às matérias-primas. Já existem algumas cooperativas trabalhando com sucesso, mas não alcançam parcela significativa da produção.

Outras questões dependem de registro de defensivos adequados para frutas, análise de risco de pragas e doenças nas frutas importadas (e importamos bastante!), além de enfrentamento de barreiras comerciais tarifárias ou não tarifárias por parte dos importadores.

Mas o que falta, mesmo, é uma estratégia de cadeia produtiva que permita o crescimento de setor. Temos polos exportadores maravilhosos, como em Petrolina (PE), em Mossoró (RN) e outros menores em diferentes estados, e o Ministério da Agricultura vem trabalhando nessa estratégia a partir da Câmara Setorial de Fruticultura, ampliando o diálogo entre os atores dessa cadeia produtiva.

Apesar dos desafios, é certo que podemos crescer muito nesse setor. A partir deste diálogo, é pôr em prática uma agenda integrada para alcançar bons resultados da nobre fruticultura brasileira.

Roberto Rodrigues é coordenador do Centro de Agronegócios da FGV

Fonte: Forbes