Agrícola Formosa avalia que a qualidade da fruta está boa e o mercado europeu está comprador, em meio às temperaturas mais elevadas
A Agrícola Famosa, maior produtora e exportadora de melão e melancia do país com sede em Mossoró (RN), deve aumentar mais de 10% os embarques de frutas para a Europa na nova safra iniciada em agosto, totalizando 220 mil toneladas até abril de 2023, segundo o CEO, Carlo Porro. É mais da metade das 400 mil toneladas de melão que o Rio Grande do Norte deve exportar, com receita estimada de R$ 1,1 bilhão, segundo dados do Comitê Executivo de Fruticultura do Rio Grande do Norte (COEX) apresentados na Largada da Safra do Melão, evento realizado em 1º de setembro.
Porro diz que a projeção de aumento se deve a três fatores: a qualidade da fruta que começou a ser colhida está muito boa, assim como a produtividade de todas as variedades e o mercado europeu está comprador porque encerrou sua safra mais cedo devido ao calor que atingiu as lavouras e à redução de área, principalmente no maior produtor, a Espanha.
Para se aproximar dos clientes finais no Reino Unido, segundo maior destino das frutas da Famosa na Europa, depois dos espanhóis, a empresa brasileira criou a Melon & Co. “Neste primeiro ano de vida, a empresa vendeu 50 milhões de libras para os supermercados ingleses”, festeja Porro.
“Os navios fretados ficam indo e vindo da Europa. Aumentou o nosso custo de exportação de 15% a 20%, mas vale a pena porque as frutas chegam com melhor qualidade e no momento em que o cliente precisa”, diz ele.
A Famosa elevou as vendas para os Estados Unidos, que deve receber 8 mil toneladas nesta safra, mas o problema logístico com contêineres, navios e portos, diz o CEO, impediu a empresa de seguir com as exportações de melão para a China, mercado aberto em 2020. “Vamos tentar retomar esses embarques no próximo ano.”
Outro mercado paralisado é o russo. As exportações para lá não eram significativas, mas estavam crescendo, segundo Porro. Desde o início da guerra contra a Ucrânia, em fevereiro, os russos deixaram de receber exportações diretas, ficando dependentes de cargas que desembarcam em Roterdã. Porro afirma que o conflito é um fator de preocupação porque pode gerar um aumento de preço da energia e uma redução do consumo na Europa.
Na Espanha, já houve queda neste ano. Segundo dados do Painel de Consumo de Alimentos do Ministério da Agricultura, Pesca e Alimentação da Espanha, de janeiro a junho de 2022, o consumo de frutas frescas nas casas caiu 13,6% em relação ao mesmo período de 2021 e diminuiu 0% na comparação com 2019, antes da pandemia.
O que não preocupa em nada a Agrícola Famosa é a medida aprovada pelo Parlamento europeu de suspender a compra de produtos vindos de áreas de desmatamento. “Há mais de uma década, quando ainda nem se falava em ESG ( sigla em inglês que reúne a adoção de boas práticas ambientais, de governança e sociais), investimos na produção sustentável e na certificação de nossas frutas.”
Nesta safra, a empresa deve plantar 11,5 mil hectares só de de melão e melancia, que respondem por 90% do negócio, que inclui ainda a produção de bananas e mamão. Cerca de 100 mil toneladas de frutas ficam no mercado interno. Porro garante que não há diferença de qualidade entre a fruta exportada e a que fica no Brasil. “O que muda é o tamanho porque o brasileiro gosta de melão maior, enquanto o europeu prefere uma fruta menor.”
Queda
O sócio da Famosa e diretor institucional da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), Luiz Roberto Barcelos, diz que, no total, as exportações brasileiras de melão e melancia devem ser entre 15% e 20% mais baixas neste ano em termos de volume na comparação com a safra anterior.
“Houve um aumento grande do custo de produção e uma queda do valor do euro. Isso diminui a margem do exportador, que está mais cauteloso pela crise na Europa e o consequente aumento dos custos de energia. Além disso, o frete marítimo também subiu muito. Mas a fruta deve ficar mais cara para o europeu, o que pode segurar a queda no valor das exportações.”
Em agosto, primeiro mês da safra, já houve uma queda acentuada tanto em receita quanto em volume nas exportações brasileiras de melão e melancia, na comparação com o mesmo mês de 2021, segundo dados da plataforma Agrostat do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Em receita, os embarques das duas frutas renderam US$ 686,2 mil ante o US$ 1,59 milhão do ano passado. Em volume, caiu de 5,19 mil toneladas para 2,89 mil.
De janeiro a agosto deste ano, a receita do Brasil com a exportação de frutas foi de US$ 567,6 milhões ante os US$ 653,4 milhões do mesmo período de 2021. Em volume, também houve queda: de 652,12 mil toneladas para 563,07 mil toneladas. Segundo Barcelos, os embarques de melões e melancias representam quase 25% da receita de exportações de frutas do país.