Nas últimas semanas, o trânsito nas vias próximas ao Porto de Natal, no bairro da Ribeira, voltou a congestionar em virtude da quantidade de carretas e caminhões estacionados ou se movimentando para fazer a descarrega de frutas a serem exportadas pelo terminal. O problema, que foi mais grave na segunda-feira (14), é reflexo da logística deficitária nas operações do porto, que tem gerado reclamações dos caminhoneiros que precisam entrar no horário agendado, em seguida sair e ficar esperando para receber o contêiner vazio, podendo levar até um dia de espera.
Além do tradicional movimento de chegada e saída dos veículos, é essa espera que faz as avenidas Engenheiro Hildebrando de Góis e Duque de Caxias, além da Esplanada Silva Jardim, ficarem tomadas por caminhões, deixando o trânsito mais lento e, em diversos momentos, parado. Outros cruzamentos da Ribeira também sofrem com o acúmulo de veículos, que, por vezes, fecham vias porque precisam fazer manobras para entrar no terminal portuário.
No último dia 14, no meio da tarde, a Duque de Caxias ficou engarrafada devido a essas manobras. Somente após a chegada dos agentes de mobilidade é que foi possível organizar o fluxo, especialmente para quem seguia em direção à zona Norte e para a entrada no porto.
A Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (STTU) informou que está em diálogo permanente com a Codern (Companhia Docas do Rio Grande do Norte), administradora do terminal, para manter o fluxo na região e diz que notifica os motoristas quando identificada alguma infração Porém, nos trechos das vias onde é permitido estacionar, não há como proibir os caminhões de ficarem parados. Em caso de congestionamento, os agentes de mobilidade são acionados.
Em nota, a Codern informou que o problema se intensificou por causa das obras na Ponte de Igapó, já que o fluxo foi direcionado para a Ponte Newton Navarro. A Ribeira é caminho para cruzá-la.
“Sobre o questionamento dos congestionamentos dos últimos dias na Ribeira, a CODERN esclarece que o agendamento de carretas para acesso ao Porto de Natal permanece com funcionamento normal e ressalta que o fluxo de veículos na região tem aumentado pela obra em andamento na Avenida Felizardo Moura, com os motoristas optando pela Ponte Newton Navarro”, diz a nota da companhia.
O agendamento citado ocorre por meio de um aplicativo que organiza o horário de chegada dos motoristas para descarga de contêineres. Há situações que os motoristas chegam muito tempo antes, o que também agrava a situação. Porém, o agendamento só ajuda em parte, segundo os caminhoneiros.
“Trouxe a carga de Petrolina/PE. Meu agendamento foi às 10h e ainda estou aqui esperando pra pegar o (contêiner) vazio porque a prioridade é só entrar quem está carregado”, contou o motorista Carlos Alves, por volta das 17 horas.
A espera dele se deve à forma pela qual é feito o procedimento de carga e descarga. “O certo era fazer como nos outros portos que a gente entra e já sai de vez, descarregado. Aqui a gente tem que entrar para coletar, aí a gente sai e espera pra entrar de novo pra pegar o vazio e poder ir embora. Por isso que a gente fica na rua parado tanto tempo”, explicou o caminhoneiro Jurandir da Silva, prestes a completar 24 horas desde que conseguiu descarregar.
Ao ficarem nas ruas à espera, o impacto se vê no trânsito, mas vai mais além. Os motoristas reclamam da falta de estrutura. “A gente é obrigado a esperar, mas não tem quem providencie estacionamento, não tem acomodação. A gente nem dormir na boleia consegue por causa da insegurança, tem que vigiar. Nem banheiro para fazer as necessidades a gente tem. É por isso que aqui é o pior lugar para vim deixar carga”, reclamava o motorista Inácio Pereira.
A Codern informou que os procedimentos para retirada ou recebimento de contêineres envolve o operador portuário, no caso, a Progeco do Brasil Operadora Intermodal de Contêineres LTDA. A reportagem não conseguiu fazer contato com a direção da empresa.
Codern negocia com Petrobras área para um estacionamento
Para tentar amenizar a situação, a Companhia Docas negocia a liberação do antigo Parque de Tancagem de Santos Reis com a Petrobras. A intenção é montar um estacionamento de carretas e um depósito temporário de contêineres para evitar engarrafamento de caminhões no entorno do porto.
Em entrevista à TRIBUNA DO NORTE no mês de setembro passado, o brigadeiro Carlos Eduardo da Costa Almeida, diretor-presidente da Codern, reconheceu que não há estrutura para receber os caminhoneiros no porto. “Não tem como tomar um banho porque aqui nós não temos condições de oferecer. Não temos o espaço e nem teríamos porque é uma área alfandegada. Por isso que nós estamos brigando pela área do Parque (de Tancagem). Ela poderia ser utilizada como estacionamento de caminhões, aguardando lá porque a distância é mínima: 1.100 metros. Além disso, serviria para guardar temporariamente os contêineres vazios. Melhoraria muito o tráfego da Ribeira”, relatou.
O Rio Grande do Norte lidera a exportação de melão, mas a logística de escoamento não ajuda a ampliar a carga enviada para o mercado internacional. “Está muito complicado ampliar exportação porque a logística ainda está muito difícil. Mal estamos conseguindo abastecer a Europa que é o nosso mercado mais consolidado, por conta da falta de navio, por falta de container, por limitações do porto de Natal”, afirmou à TRIBUNA DO NORTE Luiz Roberto Barcelos, diretor institucional da Associação Brasileira dos Exportadores de Frutas (Abrafrutas), também em setembro passado.
Ele é ainda sócio-fundador a Agrícola Famosa, maior exportadora de melões e uma das mais importantes indústrias agrícolas do Brasil. “A ideia de explorar mercados mais longínquos, como é o caso da Ásia e, principalmente, da China, está mais prejudicado agora por conta desse problema grande na área logística”, disse ele na ocasião.
Com o atraso do início da safra ocasionado pelo volume de chuvas, a tendência é de que o embarque de frutas se estenda até o início de abril.
Fonte: Tribuna do Norte