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Descendentes de japoneses investem no plantio de goiaba no Paraná

Enquanto as frutas em geral tiveram queda de 11% na receita e 15% no volume, os embarques de goiaba mais que dobraram em dois anos

Enquanto as frutas em geral tiveram queda de 11% na receita e 15% no volume, os embarques de goiaba mais que dobraram em dois anos Pixabay

Cultivar goiaba com selo de procedência e certificação para exportação se tornou o principal negócio das agricultoras Inês Sasaki e Marilda Leiko Kawasaki na volta ao Brasil, após passarem mais de dez anos trabalhando em indústrias do Japão, terra natal dos pais, visando juntar dinheiro.

As duas investiram em sítios em Carlópolis, cidade paranaense que ostenta o título de capital nacional da goiaba e tem a qualidade de sua fruta reconhecida no mercado interno e no exterior.

Pernambuco, São Paulo e Rio de Janeiro produzem 80% da goiaba brasileira, mas Carlópolis se tornou um polo de produção e exportação a partir de uma iniciativa em 2014 do Sebrae de capacitar os agricultores do local e da vizinha Ribeirão Claro para correr atrás da IG (Indicação Geográfica).

Mercado externo

 

O registro nacional que reconhece reputação, qualidades e características de determinado produto que estão vinculadas ao local de produção saiu em 2015. A certificação Global Gap (Good Agriculture Practices), necessária para exportar, veio em 2019.

Dois anos depois, o Brasil dobrou suas exportações e, em 2022, a goiaba foi uma das poucas frutas a manter em alta as vendas para o mercado externo.

Enquanto as frutas em geral tiveram uma queda de 11% na receita e 15% no volume, segundo dados do Sistema Agrostat do Ministério da Agricultura e Pecuária, os embarques da goiaba brasileira mais que dobraram em dois anos, com receita de US$ 1,18 milhão em 2022.

“Passei 14 anos trabalhando em indústrias no Japão. Voltei e comprei um sítio onde plantei 20 hectares de café. A aposta na goiaba, cuja renda mensal hoje sustenta minha família, veio com a proposta do Sebrae de tirar a indicação geográfica e a certificação para os produtores da região. Comecei com 300 pés e hoje tenho cerca de 1.000”, conta Marilda, 55 anos, divorciada e mãe de três filhos, que está passando o comando da propriedade para o filho Kyuhee Yamamoto, técnico agrícola.

Em 2020, uma forte geada atingiu o sítio, provocando muitas perdas nas goiabeiras e também no café. Marilda teve que podar ou replantar a maioria das árvores e ficou praticamente sem produzir no ano passado. Compensou parte do prejuízo com a produção de pitaia, abacate e maracujá, mas manteve o foco na recuperação da goiaba.

Cooperativismo

 

Inês também apostou no projeto do Sebrae e plantou 320 pés de goiaba em 2015 no sítio do pai, onde nasceu e de onde saiu apenas para estudar em São Paulo e trabalhar 14 anos no Japão. “Meu pai plantava hortaliças e maracujá. Eu agreguei as goiabas, que se tornaram o carro-chefe da propriedade”.

Hoje, ela cultiva 730 pés e, além da lavoura, também trabalha como gerente comercial da Cooperativa Agroindustrial de Carlópolis, que recebe a maior parte da produção de goiaba do município e negocia com as tradings que exportam a fruta para Inglaterra, Portugal, Oriente Médio e Canadá, entre outros. Por semana, a cooperativa repassa às tradings de 1.400 kg a 2.000 kg.

Cooperativa recebe a maior parte da produção e negocia com as tradings que exportam a fruta para países como Inglaterra, Portugal e Canadá — Foto: Divulgação
Cooperativa recebe a maior parte da produção e negocia com as tradings que exportam a fruta para países como Inglaterra, Portugal e Canadá — Foto: Divulgação

Ela diz que gostaria de expandir a produção da família e chegar a 1.500 pés, mas o entrave é a falta de mão de obra na região. Apenas Inês, o marido, Hidefumi, e a filha Emily cuidam da lavoura, que rende de 50 mil a 55 mil kg de goiabas por ano.

Duas filhas cursam faculdade e ajudam quando podem na colheita. Como a maioria dos agricultores de Carlópolis, ela planta também hortaliças, como abobrinha, vagem, pimenta e folhas. Desde março do ano passado, a lavoura de goiaba está em processo de transição para o sistema orgânico.

Inês Sasaki (à dir.) com as filhas Missae (de preto), Alissa (de vermelho) e Emily — Foto: Divulgação

Inês Sasaki (à dir.) com as filhas Missae (de preto), Alissa (de vermelho) e Emily — Foto: Divulgação

“Dá mais trabalho. No uso dos defensivos químicos, já vem tudo desenhado. Para usar só biológicos eu tenho que pesquisar muito para entender os problemas no pomar, correr atrás da solução e testar produtos, mas sempre tive esse desejo de passar para a cultura orgânica, que é melhor para o produtor, para as pessoas ao redor, para o meio ambiente e para quem consome. Vou gastar mais, mas espero ganhar uns 30% a mais com a fruta com a certificação orgânica.”

Quem não tem interesse, pelo menos por enquanto, em fazer a transição para a produção orgânica é Rodrigo Cuenca Machado, filho e neto de agricultores em Carlópolis. Ele começou a cultivar goiaba em 2017 com a intenção de diversificar sua produção de café, atraído pelos bons preços da fruta, liquidez e pela perspectiva de exportação. Plantou inicialmente 3.000 pés.

“Tirei eucaliptos e onde tinha área disponível fui plantando goiaba”, diz o produtor. Agrônomo, Machado também administra duas áreas de 1.200 pés de goiaba em parceria com vizinhos. Em abril, vai plantar mais 600 pés. Ele estima um gasto de R$ 10 mil por hectare somente com as mudas enxertadas resistentes a nematoides, que precisam ser encomendadas com antecedência de oito meses.

O segredo de Carlópolis

 

A goiaba foi introduzida no município que tinha sua expertise agrícola voltada para a produção de hortaliças pelo japonês Iwao Yamamoto, que chegou à região como muitos imigrantes em 1949. Segundo o Sebrae-PR, o pioneiro fez vários cruzamentos com frutas da Central de Abastecimento de São Paulo (Ceasa-SP) e criou uma nova cultivar que levou seu nome.

A variedade com frutos graúdos, de cor branca, sabor mais intenso e visual atrativo foi plantada num pomar com 70 pés que entraram em produção em 1978.

Desde o início, a goiaba de Iwao tinha um diferencial: era ensacada quando os frutos atingiam cerca de 2 a 3 centímetros. Mais produtores seguiram Iwao, e a cidade com solo fértil e clima adequado se tornou referência no cultivo desta fruta, agregando tecnologias de produção mais sustentável. Hoje, praticamente 100% dos 150 produtores plantam a variedade tailandesa, de polpa vermelha.

O município produz 78% da goiaba do Paraná, segundo dados do Departamento de Economia Rural (Deral). Em 2021, o Valor Bruto da Produção (VBP) da goiaba atingiu R$ 66,78 milhões em Carlópolis. Dentro do país, as vendas da goiaba produzida na cidade cresceram 50% em dois anos, mas o destaque maior ficou com as exportações, que passaram de 5,2 toneladas de janeiro a junho de 2020 para 65,2 toneladas (alta de 1.142%) no mesmo período de 2022.

Fruta ensacada

 

Quem visita a zona rural da cidade pela primeira vez pode até pensar que é sempre Natal por lá. Isso porque as goiabeiras que ocupam mais de 800 hectares são recheadas de frutos ensacados com saquinhos brancos como se fossem bolas natalinas.

Segundo Inês Sasaki, gerente da cooperativa, a técnica do ensacamento demanda muito trabalho, mas reduz as pragas e o uso de defensivos no pomar que tem ciclo médio de sete meses da poda à colheita.

Técnica do ensacamento demanda mais trabalho, mas reduz as pragas e o uso de defensivos no pomar, dizem os produtores — Foto: Divulgação

Técnica do ensacamento demanda mais trabalho, mas reduz as pragas e o uso de defensivos no pomar, dizem os produtores — Foto: Divulgação

O agrônomo Rodrigo Machado, que cultiva 5 mil pés, diz que a mosca da fruta e o percevejo, que fez muitos estragos no ano passado, são as pragas-chaves da lavoura que demandam de três a quatro pulverizações de inseticidas e fungicidas. Na propriedade, o ensacamento das frutas é escalonado por talhão para otimizar a mão de obra fixa de oito funcionários e ter produção o ano todo.

A goiaba de Carlópolis também se diferencia pela crocância, casca mais grossa, que permite um tempo maior de prateleira, e pelo tamanho médio de 200g a 500g, mas que pode chegar a 830g. Machado diz que os produtores recebem visitas ocasionais de compradores para a indústria de doce, essência ou sucos. “Mas só vendemos para outros nichos o que não tem mercado para mesa.”

Preço

 

Embora esteja em alta, a exportação da goiaba in natura não chega a 10% do volume produzido. “Exportar é agregar valor e não ficar refém do preço interno”, diz Machado, que entrega a maior parte de sua produção para a cooperativa de Carlópolis comercializar.

Ela acredita que os embarques para o exterior da fruta de Carlópolis vão aumentar neste ano porque quatro produtores estão concluindo o processo de certificação, sendo um deles de grande porte, com 18 mil pés de goiaba.

Exportação de goiaba do Brasil

Receita (em US$) Volume (em Kg)
2020 537.478 237.993
2021 1.012.494 450.636
2022 1.180.933 504.246

Queda das frutas

 

Em 2021, o Brasil bateu o recorde de exportações de frutas, rompendo em mais de US$ 200 milhões a barreira do US$ 1 bilhão. Na época, o setor festejou a conquista, que o aproximava mais dos países exportadores da América Latina, e estimou novo recorde.

Em 2022, no entanto, fatores climáticos, câmbio e outros derrubaram as exportações em 11% em receita e em 15% em volume, segundo dados do Sistema Agrostat do Ministério da Agricultura e Pecuária.

Luiz Roberto Barcelos, diretor institucional da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas) e da Câmara Setorial de Frutas do Ministério da Agricultura, disse que 2022 foi um ano muito difícil para as exportações do setor.

Além disso, pesaram na conta o câmbio 20% mais desfavorável em relação a 2021, o aumento dos custos de produção, a inflação na Europa, para onde vão mais de 70% das frutas brasileiras, e a questão da logística de transporte, que ainda não se resolveu.

“Os fretes subiram demais, faltaram contêineres, os navios atrasaram ou não pararam no porto, já que o Brasil não é rota preferencial. No final do ano, houve alguns sinais de que os preços do frete devem começar a cair, mas os contratos da safra que termina em fevereiro já estão fechados.”

O diretor disse que o setor enfrentou situações inéditas, como importadores com dificuldades de pagar os contratos. A guerra entre Rússia e Ucrânia, decretada no final de fevereiro, também impactou os embarques, especialmente de maçãs, já que a Rússia era um dos principais clientes dessa fruta.

Sócio da Agrícola Famosa, a maior produtora e exportadora de melões do Brasil, com sede em Mossoró (RN), Barcelos diz que a produção da empresa também caiu em 2022 e pode sofrer nova redução neste ano. “A safra termina em março. Vamos participar em fevereiro da Fruit Logistica em Berlim, uma das principais feiras do setor, ouvir os clientes e definir os números para o próximo ciclo.”

No Rio Grande do Norte, a participação do setor de frutas nas exportações teve queda de 31,25%. Apesar da retração, o segmento é o segundo colocado entre os produtos mais exportados pelo Estado, com 22% de participação. A receita com as frutas caiu de US$ 166 milhões para US$ 163 milhões.

A expectativa para 2023, diz o diretor da Abrafrutas, é voltar a crescer nas exportações, já que houve uma valorização do euro com as novas diretrizes da economia, o frete marítimo começou a baixar devido à redução de negócios internacionais e o clima está menos problemático no Sul, embora a previsão seja ainda de muita chuva no Nordeste.

As mudanças de inspeções sanitárias em portos europeus e as restrições anunciadas pela Comunidade Europeia por conta de desmatamento e questões ambientais também são pontos de preocupação, embora o setor de frutas tenha sua produção fora do bioma Amazônia, trabalhe com sustentabilidade e tenha certificado para exportação, avalia a Abrafrutas.

Exportações de frutas do Brasil

2022 2021
Produto Receita (milhões/US$) Volume (mil t) Receita (milhões/US$) Volume (mil t)
Mangas 205,65 231,36 248,73 272,56
Melões 156,26 222,35 165,07 257,9
Limões 152,19 156,25 125,13 144,94
Uva 108,05 52,59 159,61 76,63
Melancia 57,49 105,68 52,73 118
Mamões 49,71 38,83 50,69 49,71
Bananas 37,32 84,36 37,11 108,752
Maçãs 24,6 35,05 73,82 99,05
Total 1.076,87 1.046,57 1.218,18 1.245,27

Novo governo

 

Barcelos diz que a associação vai levar ao novo governo a necessidade de se avançar no acordo Mercosul-União Europeia, que interessa muito ao setor porque atualmente o Brasil paga tarifas altas para exportar para a Europa, enquanto concorrentes têm taxas baixas ou são isentos.

Também deve chegar ao novo ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, outras três grandes demandas do segmento: a abertura de novos mercados de exportação para não ficar tão dependente da Europa, a necessidade de modernizar e agilizar os registro dos defensivos para culturas minor crops e o reforço da defesa vegetal nas fronteiras para evitar a entrada de novas pragas.

Uma delas é a mosca da carambola, que veio da Ásia e já está nas Guianas e Suriname, o que representa uma pressão para a entrada no Amapá, Roraima e Pará. Além das carambolas, o inseto impacta goiaba, manga, uva e frutas de casca fina.

Fonte: Redação Globo Rural