Ao contrário do que acontecia num passado recente, Pará leva vantagem por causa do clima (chuvas) e solo
O Pará tem culturas estrangeiras consolidadas há algum tempo, como a soja (origem chinesa) e milho (origem mexicana), e a Embrapa segue estudando e testando novos materiais (variedades). Pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, em Belém, Fábio de Lima Gurgel é o ponto focal para Amazônia Legal do programa de melhoramento genético dos citros da Embrapa, cuja atuação torna cada vez mais distante o cenário das culturas frutíferas que no passado não se davam bem com o clima e solo paraense.
Mais que isso, Gurgel, que é engenheiro agrônomo, afirma que o Pará tem levado vantagem com relação ao clima por causa da questão da chuva e também porque a Amazônia Legal, como um todo, está livre da praga que mais ameaça a fruticultura: o greening, a doença que atinge todos os tipos de plantas cítricas e não tem cura.
Produção em franca expansão
“A produção cítrica está em franca expansão no Pará”, diz Fábio Gurgel. Ele lembrou que as oscilações com alta temperatura também prejudicaram a safra da laranja, inclusive neste mês de março, no chamado cinturão cítrico nacional que envolve os estados de São Paulo, Paraná e Minas Gerais. Na dinâmica comercial, o que prejudicou o sudeste brasileiro, foi bom, em termos de novas demandas, para o Pará.
Fábio ponderou que no Pará chove com frequência e isso favoreceu a produção. Há dois grandes polos de citros no Pará. Um na região nordeste que abrange o município de Capitão Poço e outro na região do Tapajós, com destaque para Monte Alegre e Alenquer.
“Os citros são uma produção sustentável, podem ser cultivados em áreas degradadas. Não é preciso desmatar e eles podem ser produzidos em áreas pequenas. A Embrapa trabalha com manejos e tratos culturais: podas, cobertura vegetal e adensamento do pomar que potencializam a produção de laranja e limão, só para dar dois exemplos”, frisou o engenheiro agrônomo.
Ele citou benefícios práticos das pesquisas da Embrapa. A laranjeira cresce bastante, mas a Embrapa desenvolveu um cultivar de pequeno porte. Com a laranjeira menor, na colheita, os trabalhadores nem sempre precisam usar escadas para pegar o fruto nas árvores, o que provocava riscos de acidentes de trabalho.
Fábio Gurgel fez questão de ressaltar que ainda há o uso da escada, mas tem sido cada vez menor. Sobre o franco crescimento da produção, ele disse que a Embrapa trabalha com parcerias tanto com os grandes quanto com os médios e pequenos produtores, e deu como exemplo a instalação de unidades demonstrativas dentro das propriedades rurais.
Exportações para Holanda, Inglaterra e Alemanha
Em Capitão Poço há duas grandes parceiras da Embrapa na produção principalmente de limão. São empresas privadas. “A gente tem uma parceria, ainda em vigor com a Embrapa, há uns 5 anos sobre a questão do melhoramento genético pensando em porta-enxertos para citros aqui na região, inclusive a partir desse trabalho, há uns três anos, na fazenda a gente mudou por completo o nosso material genético para a produção de mudas”, afirmou Fábio Mota, proprietário de uma fazenda que, com a contribuição das pesquisas da Embrapa, já exporta tanto o limão in natura quanto o suco processado.
“A gente hoje atende a Europa, mas precisamente através da Holanda que é o centro de distribuição dentro da Europa. O nosso mercado pensando em limão é a Holanda, Inglaterra e a partir da Holanda vai para outros países europeus, como a Alemanha”, afirmou Fábio Mota.
Gergelim e trigo
Na região de Paragominas, sudeste estadual, a Embrapa vem pesquisando variedades de grãos mais adaptados. Há também pesquisa com culturas que tiveram uma introdução mais recente no Pará, como o gergelim. E há também um trabalho de pesquisa para avaliação da viabilidade de cultivar trigo na região de Paragominas. Esse trabalho faz parte de um projeto em rede da Embrapa que busca tropicalizar a cultura do trigo, com testes em diversos estados do Norte e Nordeste.
O pesquisador Roni de Azevedo, também é engenheiro agrônomo, e é a referência da Embrapa na região de Paragominas, quando o assunto são as culturas “estrangeiras”. Ele trabalha com o gergelim e o trigo.
Sobre o que o motivou a desenvolvê-los, Roni afirmou que, “no caso do gergelim, foi uma demanda de agricultores em 2019 quando consultaram a Embrapa sobre a existência de trabalhos com esta cultura no Pará, pois no Mato Grosso já se cultivava esta cultura”.
“De 2019 em diante a Embrapa vem trabalhando com avaliação de genótipos de gergelim em Paragominas, e mais recentemente com estudos econômicos na cadeira do gergelim e do sistema produtivo, como ocorrência de insetos-praga em lavouras e no armazenamento; produção de sementes; modos de semeadura e densidades populacionais; adubações e controle de plantas daninhas”.
Já para o trigo, Roni Azevedo disse que o trabalho começou em 2021, quando ele observou na área de um agricultor um teste com cultivares de trigo. O exemplo do agricultor incentivou o pesquisador a iniciar estudos com essa cultura.
“O trigo ainda está a nível experimental somente em Paragominas, e ainda temos poucas informações e dados técnicos. Agora, o gergelim já está sendo cultivado no Pará em áreas comerciais e segundo estimativas de empresas ligadas ao setor, no ano de 2023 houve cultivo de cerca de 120 mil ha no Pará, principalmente nos municípios de Ipixuna do Pará, Paragominas, Ulianópolis, Dom Eliseu, Rondon do Pará e Tailândia”, enfatizou Azevedo.