Falando no Cresce Ceará, evento promovido pelo Sistema Verdes Mares com o apoio do BNB, Enel e Governo do Estado, o empresário mostrou, também, os gargalos que o setor enfrenta
Legenda: Na produção de melão, um hectare cultivado representa um emprego estável e formal criado
Foto: Divulgação
Apesar de todos os avanços alcançados ao longo dos últimos 30 anos, o setor agrícola cearense ainda não é, digamos assim, uma locomotiva que puxa a economia do estado, “mas em alguns setores, como o da fruticultura, ela é tão avançada, do ponto de vista tecnológico e da inovação, quanto as mais avançadas do Brasil e do mundo”, como disse Luiz Roberto Barcelos, sócio e diretor de Assuntos Institucionais da Agrícola Famosa, que tem fazenda de produção em Icapuí, no Leste do Ceará, e que é a maior produtora e exportadora mundial de melão.
Barcelos foi o primeiro a falar no painel do agro no “Cresce Ceará” – evento promovido na última sexta-feira, 6, no Gran Marquise, pelo Sistema Verdes Mares com o apoio do BNB e da Enel, o qual juntou empresários da indústria e da agropecuária que debateram sobre o passado, o presente e o futuro da economia estadual cearense.
De acordo com Luiz Roberto Barcelos, a agricultura empresarial, moderna e tecnificada exige grandes investimentos, a começar pelo tratamento do solo. Ele lembrou que o avanço do agro cearense teve início no primeiro governo de Tasso Jereissati, quando foi criada a Secretaria de Agricultura Irrigada chefiada por Carlos Matos, “a quem o Ceará deve muito pelas ideias inovadoras e ousadas que se implementaram, como, por exemplo, a de tornar a Ibiapaba um polo produtor de flores e de hortaliças”.
Na opinião de Barcelos, o crescimento da economia agrícola do Ceará veio na boleia da decisão de Jereissati de cuidar da infraestrutura, e a construção do Porto do Pecém foi o passo mais importante nesse sentido. Hoje, o Ceará dispõe de uma logística de transporte que chama atenção, pois – além de dois portos marítimos (o outro é o Mucuripe, em Fortaleza) – dispõe ainda de um aeroporto internacional operado por uma das maiores empresas mundiais em gestão aeroportuária.
Na sua fala, ouvida com muita atenção pelo auditório, Luiz Roberto Barcelos destacou a Chapada do Apodi, onde cresce em alta velocidade um polo de fruticultura e onde está em franco desenvolvimento um de cotonicultura, ambos apoiados pela moderna tecnologia, sem falar no polo de pecuária, que, também, já construiu e opera estábulos semelhantes aos que se encontram nos grandes centros produtores de leite bovino no Brasil, na Europa, na Austrália e na Nova Zelândia.
“A Chapada do Apodi tem uma grande vantagem comparativa: as boas chuvas que desabam sobre ela escoam rapidamente para o subsolo, onde há um grande aquífero que garante a irrigação dos projetos de produção de algodão e soja”, informou ele.
Falando, especificamente, sobre o avanço da fruticultura cearense e focando na produção de melão e melancia, Barcelos fez três revelações, a primeira das quais impressiona:
Um hectare cultivado de melão e melancia representa a criação de um emprego, e como a Agrícola Famosa produz em 8 mil hectares em terras contínuas em Icapui (CE) e Mossoró (RN), ela emprega, direta e formalmente, 8 mil pessoas.
A segunda: toda a produção de frutas do Ceará e do Rio Grande e, ainda, parte da produção da Bahia e de Pernambuco são exportadas pelos portos de Fortaleza e Pecém;
Terceira revelação: a partir de agosto de 2025, o Ceará aumentará sua produção e sua exportação de melão, pois a Itaueira Agropecuária, fundada pelo industrial e agricultor Carlos Prado e hoje comandada pelo seu filho Tom, que é o CEO da empresa, voltará a produzir aqui, para o que investe em área de 3 mil hectares, dos quais 1,5 mil produzirão na primeira fase do projeto. Barcelos elogiou a decisão da família Prado de voltar a investir no Ceará.
Mas nem tudo são flores. Luiz Roberto Barcelos disse, na sua exposição, que há gargalos. E os enumerou:
“O primeiro são os problemas de energia elétrica, que, por causa das constantes quedas de tensão, chega a queimar máquinas e equipamentos, incluindo pivôs centrais de irrigação;
“O segundo é a legislação estadual cearense, que impede o uso do que há de mais moderno para a pulverização aérea, que são os drones, esses objetos voadores de controle remoto que, com total precisão, garantem o combate às pragas e doenças que castigam as lavouras;
“O terceiro é a falta de mão de obra no campo, pois o Bolsa Família – que tem porta de entrada, mas não tem porta de saída – acostumou o trabalhador, principalmente o da zona rural, ao ócio remunerado;
“E o quarto gargalo é a carência de crédito. O BNB precisa olhar com mais carinho e atenção para os produtores de melão, aos quais, pelos nossos cálculos, só atende a 15% das necessidades das empresas do setor, e elas são muitas.”
E qual é a solução? – perguntou este colunista, que moderou o painel do agro no “Cresce Ceará”. Barcelos respondeu:
“Para a energia, falta mais investimento da Enel para melhorar suas estações e subestações e sua rede de distribuição;
“Para os drones, felizmente e com muita alegria recebemos a decisão do próprio governador Elmano de Freitas de encaminhar projeto-de-lei à Assembleia Legislativa autorizando o uso de drones, e isto, pelo que esperamos, deverá ser aprovado até o fim deste mês;
“Para o crédito, nossa esperança renasce com a atual gestão do BNB, que está aqui neste evento para ouvir e, naturalmente, dar solução às reivindicações de quem produz frutas na região nordestina;
“Para a falta de mão de obra, a solução está encaminhada pela possibilidade de mudar a legislação do Bolsa Família, permitindo que seus beneficiários possam ter emprego temporário formal, ou seja, com carteira assinada, com o que eles trabalhariam durante o plantio e a colheita da safra.”
Fonte: Diário do Nordeste