O pinus, por exemplo, é uma cultura de longo prazo. Quem plantar agora, vai começar a ganhar dinheiro daqui a oito ou nove anos. O mirtilo é muito mais rápido. Se plantar agora uma muda boa, no ano que vem já pode colher

Entre pinheiros que dominam a paisagem da Serra Catarinense, uma fruta pequena e azulada vem conquistando espaço no campo e no bolso dos agricultores, o mirtilo. Incentivados pela Epagri, produtores da região começam a enxergar na fruta uma alternativa viável para diversificar a produção, aumentar a renda e atrair novas oportunidades de mercado.
Um exemplo dessa transformação é a Palm Berries, propriedade do fruticultor Celso Claudino e do genro João Carneiro, em Palmeira, município de 2,7 mil habitantes a 40 quilômetros de Lages.

Agricultores da Serra Catarinense estão encontrando uma nova vocação com o plantio da fruta – Foto: João Carneiro/Divulgação
Em apenas dois hectares, cercados por florestas de pinus da família, eles cultivam três mil pés de mirtilo. Cada planta rende de cinco a dez quilos da fruta, vendida em todo o Brasil por até R$ 60 o quilo no varejo e R$ 30 no atacado. O potencial econômico chama a atenção.

Dia de Campo atraiu agricultores de vários município da Serra – Foto: Pablo Gomes
“O pinus, por exemplo, é uma cultura de longo prazo. Quem plantar agora, vai começar a ganhar dinheiro daqui a oito ou nove anos. O mirtilo é muito mais rápido. Se plantar agora uma muda boa, no ano que vem já pode colher. O nosso projeto inicial, aqui, era de dez toneladas por hectare. Se o produtor conseguir o mesmo, vai girar em torno de R$ 250 mil por safra”, explica João Carneiro.
Para além dos números, o cultivo também encanta pela simplicidade.
“Além de dar dinheiro, a cultura do mirtilo é muito prazerosa. É uma planta fácil de manejar. Como aqui nós não gostamos de veneno e fazemos tudo orgânico, é necessário fazer a roçada manual para manter o pomar sempre limpinho. Mas, no geral, não dá muito trabalho”, completa Celso.

Fruta pode ser comercializada a até R$ 60,00 o quilo. Foto: João Carneiro/Divulgação
Adaptação às condições da Serra – O mirtilo, originário da América do Norte, encontra na Serra Catarinense um terreno fértil. A convivência entre os pomares e as florestas de pinus não só é possível como natural, segundo a extensionista rural Maêve Silveira Castelo Branco, líder do Programa Fruticultura da Epagri na região.

Atividades como o Dia de Campo do mirtilo mostram aos produtores as várias possibilidades de cultura – Foto: Pablo Gomes
“Originalmente, o mirtilo é proveniente da América do Norte, em regiões de sub-bosque, e existe em áreas de matas onde ocorre naturalmente o pinus. E onde não há o pinus, se adapta facilmente também, pois é de cultivo bastante simples”, diz.
Veja vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=T9BOi4d5jgg
“Claro que tem algumas exigências, principalmente em relação ao solo e disponibilidade de água, mas é uma planta que pode se adaptar a pequenas e grandes áreas de cultivo. Por isso, é uma boa alternativa para diversificar a produção aqui na região, o que gera empregos, aumenta a renda e promove a qualidade de vida das famílias”, explica.
Expectativas crescentes – O sucesso da Palm Berries já começa a inspirar outros agricultores. No Dia de Campo promovido pela Epagri em Palmeira, dezenas de produtores acompanharam de perto o resultado do cultivo e saíram motivados.
“O mirtilo tem um potencial muito grande e é ideal para o pequeno produtor rural, pois é um trabalho que pode ser feito com a família. É uma alternativa de renda e que tem mercado. A atividade ainda está no início, mas já está dando muito certo e podemos ver os resultados na prática. Certamente toda a nossa região tem muito a ganhar com o mirtilo”, avaliou o secretário de Agricultura de Lages, Pedro Donizete de Souza.

Pomar está entranhado em uma grande área de reflorestamento – Foto: João Carneiro/Divulgação
A agricultora Ana Claudia Wawrzyniak, de Cerro Negro, viajou mais de 200 quilômetros para participar. Já produtora de amora, fisális e framboesa, ela pretende ampliar a aposta no mirtilo.
“Atualmente, eu tenho 130 pés de mirtilo. Nesta visita a uma propriedade onde a atividade deu certo, eu pude aprender mais, e vou levar o conhecimento para aumentar a minha produção”.
Epagri cumpre função institucional ao gerar oportunidades aos produtores – Com o Dia de Campo em Palmeira, um evento bastante prestigiado por agricultores que saíram satisfeitos e cheios de boas ideias, a Epagri mostra uma gama de produtos que podem ser cultivados na Serra Catarinense, em uma harmônica convivência entre diferentes culturas no clima peculiar da região mais fria do Brasil.
“Neste caso, é o mirtilo, uma cultura nova, mas que já está dando resultado. Por isso a importância de oportunizar aos produtores a diversificação baseada no clima da região. A Epagri tem este papel institucional de levar à sociedade as várias possibilidades de cultura”, conclui o engenheiro-agrônomo José Márcio Lehmann, gerente regional da Epagri em Lages.
*Pablo Gomes, jornalista bolsista Epagri/Fapesc
Fonte: Revista da Fruta