Fruta começa a ganhar espaço em consórcio com outras lavouras, como seringueira, cacau e banana
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_afe5c125c3bb42f0b5ae633b58923923/internal_photos/bs/2025/R/W/UGM7SbRqup7DBtoci88g/whatsapp-image-2025-11-05-at-16.59.58-3-.jpeg)
Quando se fala em açaí, logo vem à mente a ideia de um produto exclusivo da Amazônia. Mas isso está mudando. O cultivo da fruta começa a ganhar espaço no Estado de São Paulo pelas mãos de produtores que estão consorciando o açaí com outras lavouras, como seringueira, cacau e banana.
Até o momento são cerca 50 hectares cultivados em oito propriedades da região noroeste paulista, envolvendo 13 municípios do entorno de São José do Rio Preto. Além disso, outros dez projetos devem ser implantados de agora até fevereiro de 2026, elevando a área cultivada no Estado para 80 hectares, segundo levantamento realizado pela Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), a pedido da reportagem.

Os cultivos ocorrem em áreas quentes e com boa disponibilidade de água, condições ideais para o açaí. “Os produtores utilizam o manejo irrigado e técnicas agrícolas adaptadas, diferentes do extrativismo tradicional da Amazônia”, explica o extensionista Andrey Vetorelli Borges, da CATI. A produtividade esperada é alta, entre 10 e 15 toneladas por hectare, e a polinização por abelhas tem contribuído para o contínuo aumento da produção.
Segundo Borges, os projetos estão concentrados em pequenas e médias propriedades rurais. Ele destaca que o açaí representa uma alternativa economicamente viável e de diversificação para o produtor, que já trabalha com culturas irrigadas e busca novas opções de renda.
A variedade cultivada em São Paulo é a BRS Pai D’égua, desenvolvida do programa de melhoramento genético do açaizeiro para terra firme com irrigação realizado pela Embrapa Amazônia Oriental. “A nova cultivar começou a ser pesquisada em 2002. Por se tratar de uma cultura perene, o ciclo de seleção dura cerca de 15 anos”, explica o pesquisador João Tomé de Farias Neto, responsável pela pesquisa.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_afe5c125c3bb42f0b5ae633b58923923/internal_photos/bs/2025/l/N/D1doauT1ixh4A7JDsNEw/whatsapp-image-2025-11-05-at-16.46.29-3-.jpeg)
Primeiros pomares
Nelcindo Gonsalez é o pioneiro no plantio em São Paulo. Ele iniciou o cultivo em 2019, depois de se aposentar. Foi no Pará, onde viveu por 28 anos, que adquiriu o hábito de tomar açaí fresco. Após encerrar carreira de executivo na Vale S.A, Gonsalez retornou à terra natal, São José do Rio Preto, onde decidiu cultivar a fruta.
Além do açaí, o produtor cultiva seringueira, mogno e eucalipto australiano, numa área de 57 hectares. Segundo ele, um grande desafio para o cultivo da fruta é a oferta de água. “A planta adulta demanda de 80 a 100 litros de água por dia por touceira (conjunto de plantas originado de uma muda)”, diz o produtor.
Agora, Nelcindo Gonsalez se prepara para verticalizar a produção. Para isso, está construindo, com um sócio, uma fábrica para processar a polpa pura de açaí, com capacidade inicial de 10 mil caixas de 10 litros por mês. “Nosso objetivo é valorizar o consumo do açaí natural, diferenciado do “sorbet” adoçado que se popularizou no Sudeste, e mostrar seus benefícios nutricionais, como o alto teor de potássio, cálcio, magnésio e ácidos graxos”, diz.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_afe5c125c3bb42f0b5ae633b58923923/internal_photos/bs/2025/v/E/ARYhWfSHCz54DNjgEf7Q/whatsapp-image-2025-11-05-at-14.25.29.jpeg)
Aposta no futuro
Outro projeto para cultivo de açaí no interior paulista é do empresário Marcelo Gumiero, fundador da Agrovalores. Os pomares serão implantados nos próximos meses no município de Valetim Gentil. O projeto integra cultivo de banana, cacau e açaí em um sistema agroflorestal. “A primeira tentativa de cultivo de açaí sofreu perdas de até 70% das mudas devido à estiagem e à escolha inadequada da época de plantio, mas planejamos o replantio até o fim deste ano em uma área inicial de 2 hectares”, conta.
O projeto contempla uma unidade de beneficiamento para o cacau, já em operação e, futuramente, a criação de uma usina de processamento do açaí, com foco em polpa natural para fornecimento a indústrias de sorvetes e sobremesas. O plano é expandir o cultivo de açaí gradualmente até atingir 16 hectares nos próximos cinco anos.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_afe5c125c3bb42f0b5ae633b58923923/internal_photos/bs/2025/Y/B/RLd0dcSfuMsXgxVuAjAA/whatsapp-image-2025-11-05-at-14.28.48.jpeg)
Na avaliação Farias Neto, da Embrapa, a tendência é que o cultivo da variedade Pai D’égua se espalhe para diversas regiões do país. “Alguns plantios já estão ocorrendo em São Luís do Maranhão e em Brasília”, conta.
As iniciativas, segundo ele, visam atender um mercado que cresce a taxas de 20% ao ano, enquanto a produção é concentrada numa determinada época do ano e aumenta a taxas de apenas 5%, com predominância do Estado do Pará, que produz 1,7 milhão de toneladas por ano, 80% da produção nacional.
Fonte: Globo Rural



