Irradiação elimina pragas e microrganismos, estende a vida útil de frutas, carnes, grãos, hortaliças e temperos e, por isso, pode facilitar a vida do consumidor e as exportações. Diante das possibilidades, governo vai incentivar seu uso no país
A pasta formou um grupo de trabalho técnico com indústrias e instituições de pesquisa e planeja instalar centros de irradiação em pontos estratégicos pelo país, do ponto de vista logístico, para atender o setor de alimentos ou com múltiplos propósitos. Segundo o assessor especial do Mapa, Luiz Eduardo Rangel, fabricantes russos, belgas e norte-americanos já manifestaram interesse em fornecer equipamentos para essas plantas – os chamados irradiadores – e 2022 deve ser um ano decisivo para o projeto. “(A expectativa) é que, com o plano pronto e lançado, consigamos fazer as primeiras rodadas de negócios para atração de investimentos, as primeiras iniciativas, processos de certificação e licenças para instalação”, diz.
Na ótica do Mapa, a adoção da tecnologia traz a oportunidade de agregar valor aos produtos exportados pelo Brasil, pois solucionaria problemas sanitários que hoje criam barreiras comerciais, como o controle da mosca-das-frutas, e facilitaria acordos bilaterais com diversos países. “Hoje, temos 180 destinos dos produtos agropecuários brasileiros e 60 já têm a técnica de irradiação como aceita”, afirma Rangel.
Para se ter uma ideia, o país foi o terceiro maior produtor mundial de frutas de 2000 a 2020, com uma colheita de 1,261 bilhão de toneladas, de acordo com o estudo da Embrapa O Agro no Brasil e no Mundo. No ranking dos maiores exportadores em volume, porém, perdeu participação de mercado no período e figurou na 11ª posição.
No Brasil, a irradiação de alimentos é regulamentada pela Resolução Número 21 da Anvisa, de 2001, e pela Instrução Normativa Número 9 do Mapa, de 2011. A legislação permite três modalidades da técnica: raios gama, elétrons acelerados e raios X. Segundo o professor Julio Walder, que atuou no Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo (Cena-USP), os irradiadores mais usados no mundo são os do primeiro tipo. Os equipamentos incluem uma fonte de cobalto-60 instalada em uma câmara de irradiação dentro de uma blindagem de concreto. “Essa fonte, quando não está em operação, fica armazenada numa piscina (poço) com água tratada, revestida por aço inox no interior da blindagem”, detalha o pesquisador. Os alimentos a serem irradiados são colocados em contêineres e conduzidos ao interior da câmara.
Embora a radiação possa ser aplicada diretamente sobre o alimento, o processo geralmente ocorre com o produto embalado, explica a professora Anna Lucia Villavicencio, do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), responsável pela introdução da tecnologia no país. “(A embalagem) é para evitar recontaminação e, para cada alimento, calcula-se a dose de radiação e o tempo em que ele aguenta esse tratamento”, destaca.
Os especialistas garantem que a técnica é segura e não torna o alimento radioativo. Segundo o professor Thiago Mastrangelo, do Laboratório de Irradiação de Alimentos e Radioentomologia do Cena-USP, em um irradiador comercial o produto nunca entra em contato com a fonte radioativa, que é duplamente selada em cilindros de aço. “E, para que os núcleos dos átomos do alimento alvo sejam desestabilizados a ponto de torná-lo radioativo, é necessário aplicar uma radiação com energias acima de 5 milhões de elétron-volts (MeV) para fótons (raios X ou gama) e 10 MeV para elétrons”, afirma. Fontes com cobalto-60, compara Mastrangelo, só conseguem emitir duas radiações gama com energias de 1,17 MeV e 1,33 MeV.
Apesar de o Brasil já dominar a irradiação de alimentos desde os anos 70, o método ainda é restrito aos centros de pesquisa. Hoje, todos os irradiadores comerciais em operação no país pertencem à multinacional norte-americana Sterigenics, que tem unidade em Jarinu (SP) e usa a técnica para esterilizar aparelhos médicos e farmacêuticos, rações animais e ingredientes alimentícios, entre outros. O custo alto é apontado pelos pesquisadores como o principal entrave para um uso mais amplo. Rangel, do Mapa, estima que o investimento necessário para instalação de uma planta fique entre R$ 20 milhões e R$ 25 milhões – o que justifica o esforço para atrair fabricantes estrangeiros. “Não é um valor muito alto perto do benefício que poderia agregar, por isso o ministério quer estimular que os clientes reconheçam essa técnica como útil e agregadora de valor, para viabilizar o negócio desses investidores”, diz o assessor.
Perspectiva de vida longa para perecíveis, sem perda de nutrientes, é principal atrativo da técnica
Discussão já desperta interesse de fruticultores, frigoríficos e exportadores, que esperam a ampliação do prazo de validade dos produtos, mas são cautelosos quanto aos possíveis custos do processo porque podem encarecer o preço final ao consumidor
Da perspectiva do agronegócio, a promessa de prolongar a validade de produtos perecíveis – o chamado shelf life – é um dos principais atrativos da irradiação de alimentos. O método elimina microrganismos que causam a deterioração dos produtos, possibilitando que continuem frescos para o consumo por um maior período sem perda de nutrientes, segundo a professora Marta Helena Fillet Spoto, do Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq-USP). “Morangos, por exemplo, duram até três vezes mais tempo do que o normal quando irradiados e armazenados sob refrigeração”, destaca a pesquisadora.
A tecnologia também inibe a produção de enzimas responsáveis pelo amadurecimento das frutas. “Até que ela volte a amadurecer, ganha-se um bom tempo para o agricultor poder comercializá-la e o consumidor consumi-la sem os problemas característicos da fruta madura”, diz Marta. Ao contrário do que se poderia imaginar, no processo as características dos alimentos são preservadas. “Há todo um estudo para que essa radiação que for colocada sobre um alimento seja o suficiente para esterilizar, mas não altere a cor, o sabor ou o aroma”, explica a professora Cláudia Kaehler Sautter, pesquisadora do Departamento de Tecnologia e Ciência dos Alimentos do Centro de Ciências Rurais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
E dá para irradiar tudo? De acordo com os especialistas, os resultados obtidos com o processo dependem do tipo de alimento, da espécie de vegetal, da dose de radiação usada e da finalidade da aplicação. “A irradiação é uma alternativa viável para a desinfestação e aumento da shelf life de diversos tipos de frutas, hortaliças e verduras, além de carnes bovina, de porco, frango, peru, peixes, mariscos, dentre outros”, diz o professor Thiago Mastrangelo, do Laboratório de Irradiação de Alimentos e Radioentomologia do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo (Cena-USP).
Com a técnica, também é possível inibir o brotamento em tubérculos e bulbos após a colheita, condição que pode afetar a qualidade de alimentos como batata, cebola e alho. “Esse método de conservação elimina a germinação e você pode comercializar (o produto) por um ano”, explica o pesquisador Murillo Freire Junior, da área de Pós-colheita da Embrapa Agroindústria de Alimentos. Ele alerta, porém, que a irradiação deve ser usada como uma prática adicional de preservação. “Não adianta ter um produto ruim e irradiar achando que vai ficar bom, só funciona se você tiver boas práticas de produção, fabricação e manuseio”, observa.
Exportadores
O agrônomo Jorge de Souza, gerente técnico da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), diz que o segmento tem interesse em adotar a técnica no combate a uma das pragas mais devastadoras de pomares em todo o mundo, a mosca-das-frutas. Hoje, para eliminar o inseto e exportar para os Estados Unidos, por exemplo, produtores de manga precisam aplicar tratamento hidrotérmico à fruta. “A irradiação veio dentro desse cenário como uma tecnologia para controlar boa parte dos patógenos”, afirma Souza. Segundo o especialista, a prática também ajudaria a reduzir o uso de agroquímicos na fase final do ciclo de desenvolvimento das frutas. “É uma alternativa, assim como os bioinsumos. Você joga menos fruta fora e oferta um produto de melhor qualidade para o consumidor”, destaca.
Para agricultores que já adotam sistemas avançados de preservação de alimentos, a irradiação também é considerada vantajosa. O presidente da Associação Gaúcha de Produtores de Maçã (Agapomi), José Sozo, observa que, graças à armazenagem em câmaras refrigeradas modernas, hoje é possível conservar as frutas por cerca de um ano após a colheita, o que permite sua comercialização fora do período de safra. “Se conseguir (ampliar em) 15 dias ou um mês a vida útil através dessa tecnologia, é evidente que cedo ou tarde vamos estar nesse ramo também”, afirma.
Os frigoríficos também acompanham com interesse as discussões sobre o assunto. A irradiação de alimentos combate bactérias como a salmonella, que contamina carnes e já motivou suspensões de negócios por parte de países importadores dos produtos brasileiros. Segundo o presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados do Rio Grande do Sul (Sicadergs), Ronei Lauxen, o segmento vê com bons olhos a tecnologia. Há, no entanto, a preocupação de que sua utilização acabe encarecendo o preço final dos produtos. “Acho que a tendência é as empresas buscarem mais informações e verem a possibilidade de isso se aplicar no setor”, avalia o empresário.
Planeta desperdiça um terço dos alimentos que produz
- A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) estima que um terço dos alimentos produzidos a cada ano no mundo para consumo humano seja perdido ou desperdiçado nas etapas de produção, pós-colheita, armazenamento, transporte e manejo pelos consumidores. Isso equivale a cerca de 1,3 bilhão de toneladas de alimentos e representa 30% da produção de cereais, de 40 % a 50% das raízes, frutas, hortaliças e sementes oleaginosas, 20% da carne e dos produtos lácteos e 35% dos peixes. A organização quer reduzir esse número pela metade até 2030 e, para especialistas em irradiação, a técnica pode ajudar o Brasil nessa meta.
- Segundo a FAO, parte das perdas de produtos perecíveis ocorre no varejo. No Rio Grande do Sul, o setor de hortifrutigranjeiros responde por 9,69% das vendas dos supermercados. As perdas nesse departamento, decorrentes de deterioração e outros fatores, representam 4,21% do faturamento anual das empresas, de acordo com dados da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas).
A irradiação de alimentos
O que é
- Consiste no tratamento de alimentos por meio de energia eletromagnética. No processo, o alimento é submetido a uma quantidade controlada de radiação, que pode ser do tipo gama (cobalto-60), raios X ou feixes de elétrons.
Para que é usada
- Reduzir ou eliminar microrganismos que causam a deterioração dos alimentos.
- Inibir o brotamento em tubérculos e bulbos, como batata, aipim, cebola e alho.
- Retardar o amadurecimento de frutas.
- Eliminar insetos e pragas em frutas, grãos e vegetais.
- Reduzir ou eliminar bactérias patogênicas em alimentos como carnes e produtos do mar.
Vantagens
- Aumenta a vida útil (tempo de prateleira) dos alimentos.
- Reduz o desperdício decorrente da deterioração dos alimentos.
- Pode substituir o uso de aditivos químicos em alimentos e de produtos químicos usados para a desinfestação de frutas e grãos após a colheita.
- Facilita negócios internacionais, pois é usada na desinfestação de frutas, grãos e vegetais destinados à exportação.
- Por ser um processo físico, não deixa resíduos (somente a energia é que atua nos alimentos, e o excesso dessa energia é dissipado na forma de calor).
O que pode ser irradiado
- Basicamente, todos os alimentos podem ser irradiados. Exemplos: frutas, hortaliças, legumes, carnes (bovina, suína, frango, peru, peixe e frutos do mar), grãos e cereais.
- A irradiação também é usada em produtos vegetais minimamente processados, que podem ser consumidos ou armazenados sob refrigeração (radiopasteurização) e em alimentos industrializados, como condimentos desidratados e salgadinhos (esterilização).
No irradiador do Cena-USP, alimento a ser irradiado é posicionado no centro dos tubos do equipamento. Foto: Cena-USP / Divulgação / CP
Como funciona
- O processo é feito em instalações construídas e autorizadas para essa finalidade, com o uso de um equipamento chamado irradiador. O produto, já embalado ou a granel, é colocado em um contêiner e conduzido em uma esteira (ou levado manualmente) a uma câmara de irradiação, onde fica exposto a uma fonte radiação por um tempo predeterminado.
O alimento irradiado pode causar malefício ao consumidor ou perder vitaminas?
- Não. Em geral, o processo de irradiação acarreta poucas alterações químicas nos alimentos. Nenhuma das alterações conhecidas é nociva ou perigosa. A perda de vitaminas pode ocorrer da mesma maneira que em outros processos de conservação, com a diferença de que, no caso da irradiação, é muito menor em relação aos tratamentos térmicos e, em alguns casos, desprezível.
Há riscos para o meio ambiente e a saúde dos operadores?
- Não. A técnica é antiga, conhecida e aprovada. As instalações dos irradiadores são altamente seguras e os operadores e supervisores que cuidam delas são treinados e qualificados.
O Brasil já irradia comercialmente produtos?
- Sim. Os primeiros irradiadores comerciais foram implantados em São Paulo pela Embrarad em 1980 e 1999, para diversas finalidades: área médica e farmacêutica, irradiação de alimentos e produtos para a agroindústria de alimentos. Também em 1999, a Companhia Brasileira de Esterilização (CBE) inaugurou em Jarinu (SP) um irradiador de cobalto-60 multipropósito. Em 2002, iniciou-se a irradiação comercial com aceleradores de elétrons. Em 2015, todos os irradiadores comerciais de alimentos foram comprados pela multinacional Sterigenics.
Fontes: Gilberto Ribeiro Furlan, especialista em proteção radiológica do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo (Cena-USP); Julio Marques Walder, agrônomo e professor associado (aposentado) da USP no Cena; Marta Helena Fillet Spoto, professora do Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ-USP).
Saiba mais
Onde é usada
- A irradiação é aprovada em mais de 60 países. Entre os que a utilizam em escala comercial, estão os Estados Unidos, China, Japão, Alemanha, França, Bélgica e Argentina.
A legislação
- As normas para a irradiação de alimentos no mundo foram estabelecidas pela Codex Alimentarius Commission, criada pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para harmonizar padrões de alimentos internacionais. Elas estão em dois documentos: o Codex General Standard for Irradiated Foods e o Recommended International Code of Practice for Radiation Processing of Food. Uma das recomendações é que a dose de radiação máxima absorvida pelo alimento não exceda 10 kilogreys.
No Brasil
- A tecnologia é regulamentada por dois atos normativos: a Resolução Número 21 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), de 26 de janeiro de 2001, e a Instrução Normativa Número 9 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), de 24 de fevereiro de 2011. Ambas autorizam o uso de três tipos de radiação ionizante: isótopos radioativos emissores de raios gama (cobalto-60), raios X e elétrons acelerados.
O que diz a resolução da Anvisa
- A dose mínima absorvida deve ser suficiente para alcançar a finalidade pretendida, e a dose máxima absorvida deve ser inferior àquela que comprometeria as propriedades funcionais e/ou os atributos sensoriais do alimento.
- O rótulo do produto deve conter a informação “alimento tratado por processo de irradiação”.
- As instalações de irradiação devem ser autorizadas pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e cadastradas no órgão competente do Ministério da Saúde. Os locais e registros devem ser inspecionados pelas autoridades competentes.
O símbolo
- A radura é o símbolo usado internacionalmente para identificar os alimentos irradiados.
Outras aplicações
- Fora da área de alimentação, a irradiação é usada para esterilizar equipamentos e instrumentos médicos e odontológicos, cosméticos e produtos de higiene pessoal, como fraldas descartáveis. Também é usada em bibliotecas e museus, para desinfetar e preservar livros e obras de arte.
Fontes: Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Food and Drug Administration (FDA), Organização Mundial de Saúde (OMS), Codex Alimentarius Commission, Embrapa, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Chás e infusões estão entre os produtos que podem ter uso prolongado. Foto: Mauro Schaefer
Campanha levará informação ao consumidor
Plano de fomento à técnica da irradiação de alimentos inclui a divulgação dos benefícios e da segurança do processo à população
O debate sobre irradiação de alimentos no Brasil também mira o consumidor. Especialistas na prática admitem que o tema precisa superar preconceitos, decorrentes da associação da tecnologia nuclear a tragédias como a que envolveu o césio-137, em Goiânia (GO), em 1987 – o caso é considerado o maior acidente radioativo do mundo fora de usinas. Segundo o assessor especial do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Luiz Eduardo Rangel, o plano de fomento à técnica que vem sendo traçado pela pasta incluirá uma campanha de comunicação sobre os benefícios e a segurança do processo.
O mote da iniciativa, afirma Rangel, será mostrar que a irradiação já é usada em outras áreas, como a de aparelhos médicos, e verificada em alimentos processados do dia a dia, como macarrões instantâneos e batatas chips. “É muito importante para a sociedade entender que não é uma técnica nova”, diz Rangel. Para a professora Cláudia Kaehler Sautter, do Departamento de Tecnologia e Ciência dos Alimentos do Centro de Ciências Rurais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o público deve ser esclarecido de que o produto irradiado é próprio para o consumo. “É importante que a pessoa entenda que a irradiação é segura e o alimento não é radioativo”, destaca.
O presidente do Fórum Nacional das Entidades Civis de Defesa do Consumidor (FNECDC), Claudio Pires Ferreira, diz que a entidade é favorável à irradiação de alimentos, já que é autorizada pela legislação brasileira e recomendada por instituições internacionais, como a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). “(A tecnologia) visa ao aperfeiçoamento da produção e se reflete de modo positivo no consumidor, na medida em que amplia a durabilidade dos alimentos”, avalia. Pires defende, porém, transparência na venda dos produtos. “É importante que na rotulagem dos alimentos conste a informação (de que o produto foi irradiado)”, afirma.
Segundo o professor Gilberto Furlan, especialista em proteção radiológica do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da Universidade de São Paulo (USP), a possibilidade de um acidente no processo de irradiação é remota e, caso isso ocorresse, ficaria limitado ao bunker – a blindagem de concreto que envolve a fonte de radiação nos equipamentos usados para esse fim. “Jamais acontecerá como o acidente de Goiânia”, sustenta Furlan. O professor explica que os irradiadores comerciais são projetados com vários graus de proteção para detectar problemas de funcionamento e garantir a segurança dos operadores. O trabalho também segue normas rígidas. “As zonas potencialmente perigosas são monitoradas, e um sistema intertravamento de portas impede o acesso não autorizado à câmara de irradiação”, detalha Furlan.
Fonte: Correio do Povo