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Está muito complicado ampliar exportação porque a logística ainda está muito difícil. afirma Luiz Roberto Barcelos, diretor institucional da Abrafrutas

O Rio Grande do Norte lidera a exportação de melão, mas a logística de escoamento não ajuda a ampliar a carga enviada para o mercado internacional.
“Está muito complicado ampliar exportação porque a logística ainda está muito difícil. Mal estamos conseguindo abastecer a Europa que é o nosso mercado mais consolidado, por conta da falta de navio, por falta de container, por limitações do porto de Natal”, afirma Luiz Roberto Barcelos, diretor institucional da Associação Brasileira dos Exportadores de Frutas (Abrafrutas) e sócio-fundador a Agrícola Famosa, maior exportadora de melões e uma das mais importantes indústrias agrícolas do Brasil.
Ele aponta a necessidade urgente de ampliação do Porto de Natal. “A ideia de explorar mercados mais longínquos, como é o caso da Ásia e, principalmente, da China, está mais prejudicado agora por conta desse problema grande na área logística”, disse ele. O setor, disse ele, tem procurado outros portos para escoar parte da produção.
“A gente [a Famosa Agrícola] foi a primeira empresa de frutas a fretar navios próprios, porque a gente estava com insegurança, muito atraso nos navios de container, que era o modal que nós estávamos utilizando. Então, a gente resolveu escoar parte da produção em fretamento próprio de navio”.

Confira a entrevista.

04/06/2018 – MOTORES DO DESENVOLVIMENTO, SEMINÁRIO “DESENVOLVIMENTO, DESAFIOS E POTENCIALIDADES” – ENTREVISTA COM LUIZ ROBERTO BARCELOS (DIRETOR PRESIDENTE DA AGRÍCOLA FAMOSA) – FOTO: ALEX RÉGIS/ TRIBUNA DO NORTE

Alex Régis

A maior fazenda da Agrícola Famosa está numa vasta área do Semiárido potiguar e cearense,  que produz milhares de toneladas de frutas. Como isso é possível?

Bom, a produção de melão e melancia no semi-árido do Nordeste, nessa região entre o Ceará e Rio Grande do Norte, a Chapada Apodi, ocorre porque as condições climáticas e geográficas são muito favoráveis. Você tem um período prolongado de seca, a chuva atrapalha a produção dessa fruta, e tem uma água e abundância no subsolo dois aquíferos, o Jandaíra e o Açu, e com isso você pode explorar bem irrigação por gotejamento. É tecnologia que a gente usa para produção do membro da Melancia.

 

Qual o diferencial do melão do RN e o que o torna tão competitivo?

O diferencial é que nós estamos uma condição muito boa do ponto de vista climático. Também você tem uma situação geográfica muito boa de logísticas, colocando a produção perto de portos como os de Natal, Mucuripe e Pecém e esses portos estão próximos do destino da fruta que é a Europa. Em torno de dez dias as frutas já estão chegando na Europa, então isso faz com que a fruta chegue em bom estado de comercialização. Então você consegue produzir uma boa fruta pelas condições climáticas e, pela geografia, você consegue fazer a exportação, fazer ela chegar bem e com preço bastante competitivo. Então, você tem água, você tem mão de obra também, abundante, e isso faz esse diferencial, esse  terroir da produção de melão na Chapada do Apodi.

 

A estimativa de produção de melão no Estado é da ordem de 400 mil toneladas destinadas à exportação este ano e o setor deve movimentar R$ 1,1 bilhão na economia potiguar. Quais as perspectivas para ampliação da produção em 2023?

Com relação a estimativa de produção, eu acho que esse ano deve cair um pouco, já foi nessa ordem de 400 mil toneladas, esse ano deve ficar aí na faixa de umas 350 mil. Em valores também teve cair, mais menos porque a gente deve aumentar o valor do melão em euro, mas deve cair a produção porque o  setor todo está preocupado com a Europa, na questão de consumo, porque hoje tem uma redução grande na atividade econômica lá, e aumentou muito o custo de produção. Os insumos, adubos, sementes, defensivos, energia, tudo subiu muito e teve uma redução do valor da moeda estrangeira. Então, o que vem de Euro, vamos receber menos para cada Euro exportado. Teve um aumento de custo e uma diminuição de preço. Então, isso faz com que a gente tenha que retrair um pouquinho o volume geral para poder equilibrar, para não ter muita oferta, se não o preço vai cair ainda mais. Então essa é a expectativa para 2022/2023.

 

Haverá, ampliação de mercados?

Com relação ao mercado está muito complicado ampliar exportação porque a logística ainda está muito difícil. Mal estamos conseguindo abastecer a Europa que é o nosso mercado mais consolidado, por conta da falta de navio, por falta de container. Então, a ideia de explorar mercados mais longínquos, como é o caso da Ásia e, principalmente, da China está mais prejudicado agora por conta desse problema grande na área logística.

 

Qual o mercado consumidor do melão do RN?

O mercado consumidor do Rio Grande do Norte, ele é na Europa mesmo. Nossa fruta vai para Inglaterra, Holanda e Espanha e, da Holanda, normalmente acaba passando para todo o resto do continente europeu.

 

Qual o segredo para manter a produção no semiárido e para o Estado comercializar um volume tão alto de frutas?

O segredo é muita tecnologia, é trazer o que tem de novo na questão de genética do melão. Tem muita empresa fazendo pesquisas, multinacionais, na questão da genética do melão, para ter um produto com mais qualidade, com mais sabor, com mais vida útil pós colheita, com mais produtividade e  resistência a pragas. Então, a genética é um ponto importante. Precisa se investir também, sempre, em tecnologias, principalmente, nos bios insumos, nos controles biológicos cada vez mais, via biotecnologia. Controle biológico é uma coisa que tem entrado bastante e tem ajudado muito. Então, todas essas novas tecnologias que a gente adaptou, a utilização de equipamento de irrigação mais eficientes, utilização do plantio com mudas, o plástico que evita a evaporação, a gente usa também. São essas novas tecnologias que a gente está sempre introduzindo, que ajuda a manter uma boa qualidade.

 

O senhor considera o semiárido um aliado?

Sim, o semiárido é um grande aliado. A gente só está produzindo aqui na região, o melão se desenvolveu ali, porque é um semiárido. Então realmente não temos dúvida de que o seminário é um aliado, e o sertanejo, o nordestino que habita essa região tão difícil, tão sofrida, é um grande trabalhador e, com sua dedicação, tem feito com que o melão da Chapada do Apodi, hoje,  conquiste várias partes do mundo e seja bastante conhecido.

 

Esse bioma ainda tem um potencial a ser descoberto e explorado?

O que mais que a gente pode explorar nesse bioma, é a fruticultura mesmo. São frutas, principalmente, essas frutas mais sensíveis à chuva ou frio. Então, melão, a melancia ou a própria uva, manga, que são produzidas em outra região do semiárido, não aqui no Apodi, mas no Vale do São Francisco, porque dependem muito de água. Tem uma dependência maior de água, então a fruticultura, realmente, é o setor que mais pode ser explorado dentro do semiárido nordestino.

 

Quais são os desafios e carências quanto à formação de mão de obra  e no desenvolvimento de pesquisa?

Realmente, é importante a gente ter uma mão de obra bastante treinada, capacitada, porque quanto mais você tiver uma mão de obra especializada, mais ela vai trazer retorno para empresa e mais cara ela é. Às vezes, as pessoas têm impressão de que o empresário quer pagar pouco para a mão-de-obra, mas não é verdade. Quanto mais  ele tiver pagando, mais retorno ele terá e é melhor para o trabalhador. Então quanto mais qualificado ele tiver, ele vai exercer um trabalho mais diferenciado. E este trabalho diferenciado é melhor remunerado. Ele ganha mais e ele traz mais retorno para a empresa. Então, realmente qualificar a mão de obra que é um das obrigações do Estado, é fundamental. Ter institutos de formação dessa mão de obra é importante. E também a via de pesquisa, assim como Embrapa, Universidade, que está sempre atenta e trazendo novidades para os empresários, para os produtores, nisso ganha todo mundo, ganha a região, ganha o pesquisador. Essas são carências. A gente tem muito pouco disso. A gente tem alguns esforços nesse sentido, mas é muito pouco resultado. Então, tem que aproximar mais academia, a Universidade, das empresas para se discutir quais são os gargalos, quais são os problemas para que essas universidades, esses institutos de pesquisa tragam soluções.

 

Um dos maiores problemas do RN é o congestionamento de carretas no entorno do Porto de Natal. Então, em que a logística de escoamento no RN precisa melhorar? 

Realmente, com relação ao porto é um grande problema. O porto tem uma limitação de espaço enorme, está além do seu limite hoje. A gente não consegue mais ampliar os valores pelo Porto de Natal, então acaba tendo que levar frutas por outros portos da região, que é o caso de Mucuripe e Suape, por conta exatamente disso, que não tem espaço. As carretas ficam lá atrapalhando o trânsito, recebendo multas, não tem lugar para os motoristas usarem banheiro, e tem que ter um lugar apropriado, normalmente dentro do porto. Não tem espaço para conteneires vazios, que vão aguardar mercadoria, e por isso precisam ser retirados. Então precisa ampliar. Estamos conversando com a diretoria da Codern, tem uma área que era da Petrobras que pode ser ampliada, pode usar também a área onde que era a favela do Maruim. Então, enquanto a gente não conseguir mais espaço para o porto as exportações através dele vão ficar muito limitadas.

 

Recentemente a Famosa mudou a logística de escoamento, passando a enviar parte da carga de navio pelo Ceará. O senhor pode explicar essa mudança e o porque dela?

Bom essa mudança, na verdade, a gente [Agrícola Famosa] foi a primeira empresa de frutas a fretar navios próprios, porque justamente a gente estava com insegurança, muito atraso nos navios de container, que era o modal que nós estávamos utilizando. Então, a gente resolveu escoar parte da produção em fretamento próprio de navio.

 

Quais serão as vantagens?

A vantagem, apesar de até custar um pouco mais caro do que o normal, é que a gente está utilizando isso para poder ter garantia de que a nossa fruta vai viajar no momento correto. Toda semana tem a colheita e toda semana a fruta tem que viajar para Europa. O que vem acontecendo aqui é que os navios atrasavam, pulavam a semana, a carga acumulava aqui, o melão fica mais velho, e o consumidor que não comeu um melão uma semana lá na Europa, porque não chegou a fruta no final de semana, não vai comer duas frutas, no dia que ele chegar. Então acaba tendo problema de distribuição também, de comercialização. A vantagem é essa, é a garantia do escoar nossa produção e, realmente se a gente teve que ir para o Ceará, é porque não tinha condição de fazer essa operação no Porto de Natal, que já tá com o seu espaço muito restrito.

 

O melão representa, atualmente, o segundo item na pauta de exportações do Rio Grande do Norte, com 63 mil toneladas enviadas para outros países no primeiro semestre. O senhor considera o RN um hub de frutas tropicais?

O melão é o carro-chefe, realmente. É praticamente o produto mais exportado, até porque o combustível, na verdade, só passa pelo Estado. Nem é produzido aqui. Realmente, em termos de produção local, o que gera emprego é o melão. Tem uma importância muito grande para a economia local e tem outras frutas, que estão começando a produzir, como é o caso da melancia, já com bons volumes também, a banana, o mamão também são muito exportados pelo Estado, e o porto  de Natal também é utilizado para exportar a manga e a uva do São Francisco. Então, realmente é um hub aqui e, por isso, a gente precisa ampliar esse Porto e cada vez mais investir nesse setor da fruticultura porque ela gera muito emprego, mais de uma pessoa por hectare. Então você tem milhares de pessoas hoje trabalhando na fruticultura. E também é  uma mão de obra, inclusiva, porque a mão de obra feminina também trabalha nesse setor. Então, você pode ter várias pessoas da mesma casa, de uma mesma residência, trabalhando no setor. Sem dúvida nenhuma tem um grande benefício.

 

Como avalia o incentivo ao setor?

Os incentivos são a questão da devolução da Lei Candir, que são os créditos de ICMS que as empresas acumulam. Então, o Estado tem que estar atento a essas devoluções, que muitas vezes se acumulam, e esse imposto acaba sendo um custo para o produtor, se ele não conseguir receber ele com uma certa frequência. Esse é o grande incentivo, o resto é estradas e infraestrutura, as rodovias, a duplicação de Mossoró/Natal da BR-304, outra demanda super importante que precisa sair com urgência, e a questão da ampliação do porto. São essas as grandes demandas do setor.

 

Quem

Luiz Roberto Barcelos tem 47 anos. Formado em Direito, atua como diretor institucional da Associação Brasileira dos Exportadores de Frutas (Abrafrutas), é sócio-fundador a Agrícola Famosa, maior exportadora de melões e uma das mais importantes indústrias agrícolas do Brasil.  É presidente da Câmara setorial de fruticultura do Ministério da Agricultura.

Fonte: Tribuna do Norte