Fruto introduzido no Brasil em 1626 pelo Conde de Miranda se popularizou pelo sabor adocicado e alto teor nutricional
Alimento que cresce muito em todo o Brasil, a fruta-do-conde (Annona squamosa L.), também conhecida como ata ou pinha, é o fruto de uma planta da família Annonaceae. Com ampla difusão mundial, é pertencente a uma classe com mais de 2 mil espécies e 120 gêneros.
O sabor adocicado e os diversos componentes nutricionais como proteínas, carboidratos, vitaminas e minerais fazem a fruta-do-conde um fruto de muito interesse ao mercado.
O território brasileiro figura com um dos grandes produtores deste fruto no cenário global. No Norte e Nordeste a produção é intensa em estados como Ceará, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Pará.
Para entender mais sobre esta fruta versátil, o Diário do Nordeste conversou com a professora, engenheira de alimentos e nutricionista Aline Sobreira Bezerra*.
ORIGEM DA FRUTA-DO-CONDE
Originária da América Tropical, mais precisamente nas Antilhas, a fruta-do-conde ganhou esse nome popular no Brasil por conta do Conde de Miranda, que introduziu o alimento no País em 1626, na Bahia.
No entanto, segundo a engenheira de alimentos Aline Bezerra, o fruto só começou a ser cultivado comercialmente em meados do século XX.
CARACTERÍSTICAS DA FRUTA-DO-CONDE (OU ATA OU PINHA)
A árvore da fruta-do-conde é de porte pequeno e mede de quatro a seis metros de altura. Os frutos são do tipo sincarpo arrendondada e pesam entre 150 e 650 gramas.
Também chamada pinha, possui a estrutura formada por carpelos proeminentes e cobertos por saliências achatadas em forma de tubérculos, com a coloração verde.
A nutricionista Aline Bezerra pontua que cada fruta tem entre 50 e 70 sementes de cor preta brilhante. A polpa da fruta-do-conde reveste as sementes.
COMO PLANTAR?
A plantação da fruta-do-conde pode ser por via sexuada (sementes) ou assexuada (propagação vegetativa). O primeiro modo é mais comum entre produtores e viveirista, segundo Aline Bezerra.
A enxertia é a mais utilizada, pois confere preservação das características de da espécie.
O plantio é feito por meio de irrigação. A pinheira e ateira podem ser plantadas em qualquer época do ano, mas é importante que sejam fixadas no campo em dias nublados ou chuvosos.
Em função das condições climáticas da planta, há uma tendência de a produção ser concentrada entre os meses de janeiro e maio no Brasil.
NUTRIENTES
Na composição nutricional há uma série de proteínas, carboidratos, fibras, lipídeos, vitaminas, minerais e compostos fenólicos.
A ata é um fruto que confere alto nível de hidratação, pois sua polpa é composta, aproximadamente, por 70% de água.
Conforme Aline Bezerra, a fruta-do-conde é formada por cerca de 38,5% de polpa, 56% de casca e 5,5% de sementes.
Em 100 gramas de polpa de fruta-do-conde, ata ou pinha há:
- Teor calórico de 88-114 calorias
- Fibra (2,2 g)
- Cálcio (20 mg)
- Fósforo (8,81 – 54,0 mg)
- Ferro (0,3 – 1,0 mg)
- Vitamina B1 (0,06 mg)
- Vitamina B2 (0,10 mg)
- Vitamina C (10,5 – 57,0 mg)
BENEFÍCIOS DA FRUTA-DO-CONDE
Não há dúvidas do potencial altamente benéfico da fruta, segundo explica a especialista Aline Bezerra. Há compostos que fazem bem para a saúde em praticamente todas as partes da pinha: polpa, folhas, casca, sementes, caule e raízes.
Pelo baixo teor de gordura, o fruto é bom para uma pele e cabelo saudáveis, além de melhorar o sistema imunológico, combater a anemia e ainda a prisão de ventre.
A nutricionista pontua que as sementes acabam sendo descartadas, por terem um potencial tóxico. No entanto, estudos apontam que nelas há substâncias chamadas acetogeninas, que apresentam uma gama extensa de atividades biológicas.
Essas partes do fruto possuem potencial antioxidante e antimicrobianos. Na literatura, segundo Aline, estas substâncias são descritas como ácidos graxos, e ainda podem conferir benefícios anticancerígenos.
ENTRE OS PRINCIPAIS EFEITOS POSITIVOS ESTÃO:
- Potencial antimicrobiano
- Efeito antioxidante
- Efeito antidiabético
- Combate à hipertensão
- Antitumoral
- Vermicida
- Imunossupressor
- Antiemético
- Inibidor do apetite
- Antimalárico
SABOR
A fruta-do-conde é conhecida pelo sabor adocicado e quase sem acidez, o que a torna muito agradável para o paladar.
ATUAÇÃO CONTRA PRAGAS AGRÍCOLAS
Há ainda, segundo a professora Aline Bezerra, registros de que as sementes da fruta-do-conde têm propriedades inseticidas, atuando no controle de pragas agrícolas.
Elas são ricas em óleos que possibilitam a fabricação de sabão. Quando são tratadas para remover alcaloides tóxicos, também servem para fazer óleo de cozinha.
QUAIS OS NOMES E DERIVADOS DA FRUTA-DO-CONDE?
São o mesmo o alimento a fruta-do-conde, a ata e a pinha. Como explicou Aline Bezerra, a família Annonaceae é bem diversa e possui vários derivados.
ATEMOIA
A atemoia, por exemplo, é um fruto híbrido resultante de um cruzamento entre a fruta-do-conde (Annona squamosa L.) e a cherimólia ou cherimoia (Annonna cherimola Mill.).
Em comparação, a atemoia tem frutos maiores, mais doces e com menos sementes, que se soltam da polpa com muita facilidade. A casca e a textura também diferem da fruta-do-conde.
GRAVIOLA
A graviola (Annona muricata L.) também é da mesma família, mas difere pelo sabor, pelas flores e pelo peso dos frutos, além de sua cor e ponto de colheita.
CONFIRA
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COMO COMER?
A fruta-do-conde, ata ou pinha pode ser consumida in natura, mas pode ser empregada em diversos alimentos como purês, sorvetes, mousses, iogurtes e os tradicionais sucos.
No quesito industrialização, entretanto, o fruto é pouco difundido por conta do rápido escurecimento da polpa. Isso, de acordo com a nutricionista Aline Bezerra, é causado pela ação da enzima polifenoloxidase (PPO).
Presente em várias frutas e vegetais, a PPO atua sob os substratos naturais, acarretando queda da qualidade nutritiva, alterando ainda o sabor. Esse fator causa a rejeição de vários mercados econômicos com a fruta.
INDICAÇÕES E CONTRAINDICAÇÕES
FRUTA-DO-CONDE FAZ MAL?
Assim como qualquer alimento, a engenheira Aline Bezerra pontua que o consumo deve ser feito com moderação.
Ingerida com parcimônia, a fruta-do-conde pode ser aliada para pessoas com restrições alimentas, devido ao alto conteúdo de carboidratos.
É INDICADA PARA DIABÉTICOS?
Aline Bezerra destaca que a fruta-do-conde possui uma quantidade significativa de açúcares, principalmente frutose e açúcares redutores. Por isso, deve ser consumida com moderação por diabéticos.
Em contrapartida, estudos indicam que as folhas da Annona squamosa L. administradas na forma de extrato aquoso em ratos diabéticos controlou o nível de glicose no sangue dos animais.
Experiência de 30 dias também ajudou a melhorar a insulina plasmática e o metabolismo lipídico.
Os sintomas do hipertireoidismo, frequentemente associado como fator causador de diabetes, também são controlados, segundo Aline Bezerra.
Evidências científicas apontam ainda que a polpa da fruta-do-conde tem ação antiglicêmica. Isso se deve pelo fruto desenvolver o mesmo papel da insulina, estimulando a produção e aumentando a captação de glicose pelos músculos.
GESTANTES PODEM CONSUMIR?
Sim. A fruta-do-conde é boa fonte de vitamina C e vitaminas do complexo B, nutrientes importantes no metabolismo de proteínas, carboidratos e gordura.
No entanto, um alerta: as sementes da fruta-do-conde, ata ou pinha não podem ser consumidas por gestantes por terem um potencial tóxico que causa aborto, segundo estudos.
O vasto “cardápio” de componentes como ferro, cálcio, fibra e fósforo é benefício para gestantes.
A nutricionista Aline Bezerra pontua que a combinação da vitamina C e do ferro presente na fruta atua contra a anemia gestacional.
É REIMOSA?
Apesar de ser considerado um alimento reimoso na sabedoria popular, a engenheira e professora Aline Bezerra afirma que a fruta não tem em sua composição nutrientes que a caracterizem dessa forma.
A fruta-do-conde tem um baixo teor de gordura.
*Aline Bezerra é professora adjunta do Departamento de Tecnologia e Ciência dos Alimentos da Universidade Federal de Santa Maria/RS. É também doutora em Ciência e Tecnologia dos Alimentos e nutricionista. Atou como docente no Departamento de Engenharia de Alimentos da Universidade Federal do Ceará (UFC) nos anos de 2018 e 2019 e no IFAM – Campus São Gabriel da Cachoeira/AM em 2017. Coordena projetos de pesquisa e extensão nos seguintes temas: Compostos funcionais e bioativos de Plantas Alimentícias Não Convencionais e Plantas Medicinais, Aproveitamento Integral dos Alimentos, Cereais e Resíduos agroindustriais.
Fonte: Diário do Comércio